Jerônimo Bosch

Museu do Prado, Madri

Este quadro é a primeira pintura de Jerônimo Bosch, para o qual se inspirou numa frase de Flandes que diz: “O mundo é um monte de feno onde cada qual pega o que pode”. O pintor diz que o que se pode tomar do mundo são desastres.

O carro, o feno, que são os bens materiais, ocupam o centro da tela. No lado direito está o inferno e um grupo de seres monstruosos arrastam o carro a ele, com grandes focinhos depredadores, possivelmente personificações dos pecados. O carro, simbolizando a riqueza, não hesita em destruir tudo que está em seu caminho, assim como o homem que atropela com a roda dianteira. Uma multidão lhe segue, e os que podem arrancam punhados de feno, com as mãos, com ganchos, tentando subir com escadas, lutando por poder se aproximar. Atrás, impassíveis, mas no rastro, vão os poderosos: o Papa, o Imperador, o Rei e seus séquitos. Não importam as religiões: também há um muçulmano no grupo, e um homem no meio tenta detê-lo.

Sobre o carro há um anjo e um demônio: da sua maneira, lutam, um com a oração, outro com tentações, um para distanciar os homens da riqueza, outro para aproximá-los. Entre eles, o Ócio e a Luxúria.

Na zona inferior, um grupo de mulheres estão acompanhadas por um porco, não são santas precisamente, apesar das suas vestimentas decentes. Um monge roliço, que se dispõe a beber e ante o qual há sacos cheios de feno que são oferecidos por uma freira a um gaiteiro…

No lado esquerdo está o Paraíso, onde nasceu o pecado que arrasta o Carro de Feno: o anjo expulsa Adão e Eva a esse mundo.

Tecnicamente, como toda a obra de Bosch, é de um preciosismo impressionante, de uma minuciosidade extrema e um colorido explosivo. Cada um dos personagens exige um bom tempo, para analisá-lo, em suma, para disfrutá-lo. É fascinante o inferno com suas ruínas no fundo, o paraíso con seus estranhos insetos voadores.

Um sonho para se analisar num espaço muito maior.

Mª Ángeles Fernández

Autor

Revista Esfinge