Não é necessário insistir sobre o sentido maravilhoso que a noite de São João tem nas crenças populares em todo o mundo, e tampouco a relação direta de tais festas com outras romanas e medievais que adotaram as mesmas celebrações formais. A proteção que o fogo, a água ou as plantas traziam no dia de São João às pessoas, se estendiam também aos animais. Colocava-se “ramos” nos currais, e entre os pastores era freqüente crer que o gado que comia o pasto na véspera de São João se imunizava contra ataques de lobos, e nos currais dos porcos uma flor de São João outorgava melhor sabor aos pernis de animais que ali se alojavam.

Velhos costumes, como a busca do trevo de quatro folhas, adquirem especial significado na noite de São João. Em Cantabria e Astúria eram colocados “ramos” nas janelas das noivas nas noites de São João e de São Pedro. Podem-se acrescentar também crenças sobre o valor de determinadas árvores; fala-se das propriedades do carvalho para curar a hérnia, mas, em contrapartida, a nogueira era nociva, como castigo porque ofereceu de sua madeira para a cruz de Jesus, pelo que sua sombra é maligna e deve ser batido para que produza frutos, pois de seu próprio esforço não as daria. Outro tanto se diz da figueira, maldita porque em seus galhos foi pendurado o traidor Judas.

Um sentido especial tem as predições a respeito dos namorados. As moças, valendo-se de distintas flores ou sementes e através de diferentes ritos, podiam conhecer a fortuna ou as condições de seus namorados, e inclusive dos teóricos maridos a quem ainda não conheciam. Em numerosos lugares as donzelas que queriam saber como seria seu marido colocavam debaixo da cama, ao ir dormir, três favas, uma descascada, outra meio descascada e a terceira com casca; no dia seguinte, a primeira que pegavam aleatoriamente lhes indicava riqueza, pobreza ou meio termo de seus esposos, dependendo se pegassem a completa, a meio descascada ou totalmente limpa.

Para saber o nome do futuro marido, colocava-se três papéis com nomes escritos (um deles forçosamente João) em seguida, mergulhava-se na água e o que flutuasse mais tempo, era o nome do futuro marido. Em Aragon, conhecemos outras adivinhações, pelo modo de abrir as flores ou sementes em recipientes com água. Na zona do Baixo Ebro, em Aragón e Catalunha, se fazia uma bola de miolo de pão e se escondia nela um grão de trigo; era partida em três pedaços, um escondido debaixo da cama, o outro colocado na janela e o último sobre a entrada da casa; no dia seguinte se abriam os pedaços e se o grão estivesse no da cama, a pessoa se casaria no mesmo ano, se no da janela, tanto podia casar-se como não, e se estivesse no da porta, não se casaria. Voltando a São João e seus ritos, a véspera era o momento adequado para “obter riquezas e conquistar tesouros”. Nas curiosidades numismáticas que temos recolhido em diversos lugares, há um costume que chamam de “criar a moeda”, que consistia em pegar uma moeda (não sabemos se devia ser de um valor determinado) no ano em que a véspera de São João caísse numa sexta-feira, colocá-la na parte mais alta da casa e mantê-la ali durante sete sextas-feiras consecutivas, sem tocá-la. Asseguraram-nos que os lucros econômicos eram maiores quanto mais alto se colocava a moeda e quanto maior era seu valor.

Na zona de Ribagorza e Urgel existia a crença que uma de cada dez mil galinhas colocava um ovo no período da madrugada sacralizado na véspera de São João; dentro dele havia um anel maravilhoso que proporcionava a fortuna. Se não se tomava o ovo antes da saída do Sol, desaparecia, mas se alguém o possuía lhe dava a fortuna para sempre.

Dizem também que todo o metal que se encontra abaixo do subsolo é propriedade do diabo, que o utiliza para tentar o homem e fazer-lhe mal. O dinheiro é excremento do demônio.

O infernal personagem se preocupa muito que ninguém possa arrancar metal das entranhas da Terra, mas na noite de São João anda muito ocupado assistindo às assembléias de bruxas, que as celebram por todas as partes, e quem estiver atento às circunstâncias pode apoderar-se dos tesouros; mas convém que o faça como uma tocha acesa na mão, cuja chama com seus movimentos indicará a distância do tesouro e se apagará de repente ao chegar ao lugar certo. Em Maiorca se acrescenta que deveriam ser recitados parágrafos de um livro enorme que contém as coisas que produzem e que deveriam ser suportadas sem estremecer.

Diziam também que as maiores festas do céu eram as de São João e o Natal, a de verão e de inverno, respectivamente. O dia de São João celebrava o Sol com a Lua (Sin) masculino e de maior categoria que o Sol (Samash); todas as mitologias posteriores declararam papel viril e predominante ao Sol e feminino à Lua, e a conjunção astral de ambos está na base da origem dos mais fecundos mitos criadores, representados por emblemas do astro coberto por um crescente. As boas pessoas do povo diziam que naquela noite se acendia uma grande fogueira no céu e dominava o Sol, que não se punha totalmente, quiçá como conseqüência de que a noite de São João era a mais curta de todo o ano.

Em relação aos mitos solares há um conhecido na comarca de Ripoll Cataluña, do qual não conhecemos semelhante em Aragon. A lã que era fiada na noite de São João mudava de cor tomando um tom dourado, à semelhança de fios de ouro. A relação com as lendas relativas ao Sol era incontestável e quiçá também com o mito do “Velocino de Ouro”.

A idéia maia aceita é de que na noite de São João há mais estrelas que em nenhuma outra do ano e ninguém deve tentar contá-las, pois se o logra mudará de sexo, ou, no melhor dos casos, cairá no chão e apenas poderá se reincorporar, ou se verá acometido por irremediável e constante necessidade de urinar.

No dia 24 de Junho se celebra o nascimento de São João Batista e durante a manhã continuam os ritos da véspera, com o claro significado de intervenção dos aspectos solares que não são produzidos durante a noite e madrugada anteriores, até o ponto em que os primeiros raios solares terminam com as maravilhosas possibilidades da noite. Dentro das crenças populares está que para São João crescem e aumentam as coisas e as pessoas, sobretudo as crianças. Na maior parte dos lugares onde as festas pagãs cristianizadas da véspera se celebravam de modo particular era costume assistir a primeira missa, entrando no dia do santo com plenas garantias. As festas em toda a Corona de Aragón eram muito variadas e recolhiam velhos antecedentes, como o de São João Pelós de Mallorca e suas danças, ou a cavalgada de Ciudadela.

No dia 28 de junho era celebrada a véspera de São Pedro, acontecendo parecido a de São João, acendendo fogueiras e presenteando a todos com tortas e pastas. Se o significado inicial da festa é a de uma simples continuação do solstício de verão, a cristianização somando a especial consideração de “És Pedro e sobre esta pedra edificarei minha igreja”, que anunciou Jesus acerca do primeiro papa. Por esta razão diziam que o ano religioso, começava neste dia, tal como anunciavam com seu canto os galos de todo o mundo, aludindo às três vezes que este animal cantou para recordar as negações de Pedro, ainda que outros asseguravam que matando a ave se ganhava a simpatia do santo.

Antonio Beltrán

Autor

Revista Esfinge