Era previsível concluir esta série de artigos sobre a obra de Mozart escrevendo sobre o réquiem, e, ainda que já tenha dedicado um artigo questionando se é mozartiano, não podia deixar de expor algumas idéias para concluir esta homenagem.

Em verdade vou deixar que uma aluna escreva, pois há pouco pedi, em uma de minhas aulas, um trabalho sobre esta obra e a recompilação das notas de minha aluna Anja que me pareceu clara, sincera e, sobretudo, bela, a reescrevo com algumas correções.

Esta obra de Mozart é muito emotiva e dramática. O Réquiem é famoso tanto por sua qualidade como pela lenda que existe a respeito da morte de Mozart. O grande maestro não chegou a terminar o réquiem, morreu sem terminar a “Lacrimosa”. Süssmayer, seu discípulo a terminou. Contudo existem vários autores atuais que tem criticado a obra de Süssmayer e alguns tem feito sua própria versão da parte inacabada de Mozart.

Devido a uma encomenda muito bem paga, Mozart começou a compor o réquiem em Ré Menor. Quando compôs as duas primeiras partes desta obra, deixou o trabalho para estrear a “Flauta Mágica” no teatro. Ao voltar seguiu trabalhando, mas necessitou a ajuda de um aluno seu, Franz Xaver Süssmayer, já que quase não podia escrever de tão enfermo que estava. A história do Réquiem tem sido fonte de muitas lendas falsas, mas o certo é que ele morreu sem terminá-la. Ainda que afortunadamente resultou um trabalho belíssimo que tem ganhado merecidamente os qualificativos de obra monumental. As missas do Réquiem são cantadas em latim. No de Mozart cada uma delas impressiona de uma forma ou de outra. É fundamental, assim que deveis escutá-la porque não os deixará indiferentes.

No último ano de sua curta vida, 1791, apesar de estar enfermo e cheio de dívidas, decidiu escrever partituras, mesmo febril. Após estrear a Flauta Mágica e a Clemência de Tito (30 e 6 de setembro respectivamente deste ano), Mozart começou a trabalhar em uma encomenda que uma pessoa desconhecida lhe havia pedido: Um Réquiem. Aparentemente foi o conde de Walsseg que encomendou às escondidas para poder estrear como sua mais tarde. Contudo, Mozart morreu em 5 de dezembro de 1791, deixando a que chegaria a ser uma das mais belas composições da história sem terminar. Seu discípulo Süssmayer foi encarregado de completar a partitura. Mozart foi enterrado em uma sepultura comum, sem que ninguém apoiasse no seu enterro.

Na época Romântica se desenvolveram certas lendas em torno da morte e a última obra do músico de Salzburgo. A lenda em torno do Réquiem surge como uma encomenda feita por um misterioso senhor vestido de negro ou cinza (segundo as distintas versões) que não revela sua identidade e pede a Mozart discrição e rapidez.

A verdadeira história é que esta encomenda não foi um total mistério, e sim que foi feito pelo secretário (o intendente A. Leitgeb) disfarçado do conde Fraz Von Walsegg zu Stuppach, cuja esposa havia falecido em 14 de Janeiro de 1791, na qual tinha a vaidade de fazer-se passar por compositor, copiando as partituras de músicos famosos de seu próprio punho e letra e entregando-as depois para a orquestra de seu castelo de Stuppach. O Réquiem seria homenagem que renderia à sua jovem esposa falecida (tinha 21 anos). Esta missa de defuntos foi interpretada como tal em 14 de Dezembro de 1793, na igreja Paroquial de Neustadt, onde o conde dirigiu a orquestra e o coro.

Foi tocada novamente no aniversário da morte, em 14 de fevereiro de 1794, na igreja de Santa Maria Schultz de Semmering. Depois não foi interpretada mais vezes, salvo uma adaptação que se fez para um quinteto de corda.

Como já mencionamos, Mozart recebeu esta encomenda em Julho de 1791 e sua própria morte em 5 de Dezembro do mesmo ano impediu que o finalizasse por completo. Ante esta circunstância sua esposa (Constance Weber) pôs o Réquiem em mãos dos alunos de seu esposo para que o finalizassem da melhor maneira possível e pudesse cobrar pela encomenda feita pelo conde. Assim, em 21 de Dezembro J.L.Eybler se encarregou do manuscrito, mas ante sua incapacidade de terminá-lo com êxito, a obra passou às mãos de F.X. Süssmayer, aluno que finalizou o Réquiem na primeira metade do ano de 1792.

Das doze partes do Réquiem, Mozart havia escrito integramente o Introitus com o Kyrie e as partes seguintes até a Lacrimosa, segundo o modo detalhado de suas habituais preparações pela partitura, com todas as vozes cantantes e com muitas partes de instrumentos em pontos importantes. O manuscrito se interrompe no oitavo compasso da Lacrimosa (“Homo reus”).

Mozart solicitava que fossem cantados os movimentos esboçados do Réquiem ante a presença de seu aluno Süssmayer. Segundo Hildesheimer, Mozart tentou ensaiar o Réquiem junto a uns amigos 10 horas antes de sua morte, fato que demonstra que o final de sua obra não deve estar longe do que o próprio Mozart teria previsto para ela.

Paumgartner disse que quando Mozart terminava uma parte do Réquiem tinham que cantar em seguida e o maestro acompanhava tudo ao piano.

Süssmayer optou para o final da peça a repetição da fuga do Kyrie até as palavras “cum sanctis” para assim “dar à obra maior uniformidade”. Esta era uma prática generalizada neste período (ej. Mozart: Missa K.317).

O primeiro que fez o discípulo foi recompilar o manuscrito para ocultar as marcas das contaminações; completando logo as partes inconclusas seguindo os apontes e indicações deixadas pelo maestro.

Da partitura inicial foram feitas duas cópias:

1.- o manuscrito original foi entregue ao cliente

2.- a primeira cópia foi enviada a um editor de Leipzig, para que o Réquiem fosse publicado, o qual pegou de surpresa o suposto autor da obra, o conde Walsegg.

3.- a Segunda cópia foi conservada para copiar as partes. Foi interpretada pela primeira vez em benefício da viúva, nos salões Jahn (Viena), por iniciativa de G. van Swieten, em 2 de Janeiro de 1793.

A missa de falecimento é distinta às obras sacras de Mozart, como a missa em dó menor.

Entre essas obras só há uma peça religiosa: o “Ave Verum”. Ambas as missas permitem apreciar a influência de J. S. Bach e de Haendel (ex. as fugas do “Kyrie”).

O Réquiem de Mozart fala do amor salvador, da esperança em um mundo melhor.

Todas as partes, por muito sombrias e tristes que possam parecer, se convertem rapidamente em luminosas, cheias de esperança e aspirações futuras, para além da dúvida e da condenação ao inferno.

É a idéia da morte entendida como “a verdadeira e melhor amiga do homem”.

Isto se aprecia em diversas partes, como por exemplo, no “Confutatis”, onde o contraste entre as vozes graves e as agudas é tremendo, sobretudo em seu caráter e ritmo.

Nestes momentos do final de sua vida, Mozart não perdeu a serenidade nem seu caráter bondoso e amável. Só esteve cheio de melancolia, o qual influenciou tremendamente no Réquiem.

Sebastián Pérez y Anja Geyer

Autor

Revista Esfinge