“Considero mais valente o que conquista seus desejos do que o que conquista seus inimigos, já que a mais dura vitória é a vitória sobre si mesmo.” – Aristóteles

A influência do legado de Aristóteles sobre nosso mundo é enorme e segue presente depois de mais de 2300 anos de sua morte.

Nasceu no ano 384 a.C. em uma pequena localidade macedônica, próxima ao monte Athos, chamada Estagira, de onde vem seu sobrenome, o Estagirita. Seu pai, Nicómaco, era médico na corte de Amintas III, rei da Macedônia. Isso nos exorta que Aristóteles foi iniciado desde pequeno nos segredos da medicina e desde aí veio sua afeição à investigação experimental e à ciência positiva.

No ano de 367, quer dizer, quando tinha dezessete anos, foi enviado a Atenas para estudar na Academia de Platão. Neste momento, Platão tinha cerca de 50 anos.

Aristóteles se converteu em um de seus discípulos mais lúcidos, e seu protetor o chamava “o leitor”. Desta época só conhecemos alguns diálogos escritos à maneira platônica (forma dialogada de raciocinar).

Não se sabe que tipo de relação pessoal se estabeleceu entre ambos filósofos, porém, a julgar pelas escassas referências que fazem um do outro em seus escritos, não cabe falar de cordialidade precisamente, o que resulta lógico, se considerarmos que Aristóteles ia iniciar seu próprio sistema filosófico, modificando muitas das idéias de Platão, para substituí-las pelos métodos de observação e experiência. Assim configura seu próprio sistema de pensamento, que se separa do de Platão no ponto fundamental: Aristóteles não aceita que as idéias sejam entidades subsistentes em um mundo separado da realidade sensível; para ele as idéias não são, senão, a essência das coisas, que estão nas coisas mesmas, cuja constituição explica mediante os conceitos de potência e ato, matéria e forma, ou a teoria das quatro formas (material, formal, eficiente e final). De maneira que seu sentido da realidade e dos atos empíricos o levam a abandonar as místicas doutrinas das idéias, da imortalidade e da transmigração da alma.

Foi o criador da lógica, a qual considerou uma parte essencial da filosofia ou mais precisamente, seu método.

Recolhemos algumas palavras de Julián Marías acerca do grande legado aristotélico: “Poucos lêem filosofia, porém todos vivemos e todos usamos uma língua que é aristotélica em uma grande proporção. Pessoas que não sabem quem era Aristóteles e nem conhecem seu nome (e por suposto não sabem nenhuma palavra em grego), manejam justamente o vocabulário e o sistema conceitual de Aristóteles todo o tempo. Neste sentido, a fecundidade aristotélica é extraordinária, e Aristóteles se enfrenta com os problemas com uma grande claridade, com um rigor assombroso. Quando se lê Aristóteles, quando se lê a ele mesmo, diretamente, se tem a impressão de aproximação da realidade, penetrando-a. Por exemplo, quando Aristóteles fala de substância, diz que substâncias são propriamente as coisas naturais, são os homens, os animais, as plantas ou suas partes, a terra, a água. E existem outras coisas: a mesa por exemplo, já não é natural, é apotekhnes. É algo que deriva da técnica: tekhné é arte, a arte de curar, por exemplo, é o nome que se dava à medicina. E então são realidades, são substâncias segundas, não são verdadeiras substâncias”.

Depois da morte de Platão (347 a.C.) Aristóteles partiu para a corte de Hermias, na Ásia menor, e ali se casou com a filha deste, Pythias. Em 344, partiu com a sua família para Mitilene, e daí, um ou dois anos mais tarde, foi chamado a sua cidade natal, Estagira, pelo rei Filipo da Macedonia, para que se convertesse no tutor de Alexandre, que então contava com treze anos. Plutarco afirma que Aristóteles não só inseriu no futuro conquistador do mundo conhecimentos de ética e de política, mas que também o iniciou nos mais profundos segredos da filosofia.

Após a batalha de Queronea, em 335, Aristóteles regressou a Atenas. Fundou o Liceu – assim chamado por se localizar próximo do templo de Apolo Licio – e iniciou a atividade docente com independência da academia platônica. Imediatamente seus alunos receberam o nome de peripatéticos, por suas aulas ocorrerem enquanto passeavam pelo jardim e pelo peripato (espécie de galeria de colunas). Dois cursos simultâneos e diferentes se davam no Liceu: um pela manhã, para os alunos mais adiantados e outro, pela tarde, para os menos iniciados. As necessidades de espaço obrigaram Aristóteles a adquirir um imóvel próximo, onde foi reunindo uma imensa biblioteca, junto a uma importante coleção de mapas e material para o estudo da história natural, assim como um arquivo em que, entre outros documentos, se recolheram as constituições de grande parte das cidades gregas. Pela primeira vez, além disso, começou-se a estudar a história da primitiva filosofia grega.

Quando chegaram as notícias da morte de Alexandre a Atenas, Aristóteles sofreu forçosamente a hostilidade geral dos macedônios. A acusação de impiedade, que se tinham esgrimido contra Anaxágoras e Sócrates, foi agora lançada sobre ele.

Abandonou a cidade enquanto afirmava que não permitiria que os atenienses pecassem pela terceira vez contra a filosofia. Estabeleceu sua residência em sua pátria, em Calcis, Eubea e ali morreu no ano seguinte, em 322 a.C. Sua morte ocorreu devido a uma antiga doença.

Seu caráter, revelado em suas obras, seu testamento, fragmento de suas cartas e alusões de alguns contemporâneos, mostram um homem magnânimo e de grande coração, amante de sua família e de seus amigos, amável com seus escravos, justo com seus inimigos e rivais, e grato a seus bem feitores. Em uma palavra, a personificação daquelas idéias morais que ele deixou em seus tratados de ética e que agora recomendamos.

Julián Palomares

Autor

Revista Esfinge