artigo2-ed36Sob a influência xamânica, a mística do Taoísmo fabrica uma incomum grafologia de encantamentos e sortilégios protetores. O mágico poder dos talismãs deriva do fato de que, segundo a crença taoísta, estão permanentemente habitados por espíritos. O homem pode comunicar-se diretamente com eles por meio dos talismãs, sem a participação de um médium. A interdependência do mundo espiritual taoísta com o mundo material, possível pelo uso dos talismãs, tem muito mais significado do que podemos ver na espiritualidade ocidental. Os talismãs constituem a essência básica para a prática individual e os ritos comunitários na religião taoísta. Os sortilégios e encantamentos, previamente escritos e pintados, são  muito comuns na China. A composição dos caracteres chineses shou, que significa invocação aos espíritos, mostra-se com os caracteresde duas bocas, na parte superior, e uma vara mágica, na parte inferior; sugere a participação de duas pessoas, uma presumivelmente um médium, atraído pela tarefa de invocar espíritos. Sob a influência xamânica, os médiuns tiveram uma participação importante na experiência mística do Taoísmo chinês durante o período Han e inclusive antes. Talismãs de particular poder foram fabricados por místicos que supostamente os capacitaram para comunicar-se diretamente com os espíritos.

As fontes contemporâneas Han e pós-Han enfatizam invariavelmente uma incomum grafologia de encantamentos e sortilégios protetores, recebidos pelos místicos dos espíritos. Referem-se a várias escrituras de nuvens, arcaica forma de escrita e comumente irreconhecível forma de inscrição e composição gráfica, carregadas de mágico poder. Algumas delas foram escritas em placas de madeira de pêssego, semelhantes aos talismãs – selos (armas previsoras ou desviadoras) do período Chou, de 3 a 6 polegadas (7,6 a 15,2 cm), escritas em 5 cores e dispostas em portas e janelas durante os meses de pleno verão. Outros, como os talismãs pós-Han de cinco cores, protegem das pestes e de outros tipos de calamidades, são escritos em papel ou seda de várias cores.

Outros em ouro ou em tabletes de jade. Além da tinta preta, usavam vermelho cinábrio para a caligrafia. Os talismãs de Espíri- to Vermelho, por exemplo, usados no corpo, principalmente para resguardar da morte ou de ferimentos nas batalhas, consistem em inscrições de vermelho cinábrio em linhas verticais sobre papel amarelo. O tamanho dos caracteres escritos varia consideravelmente: assim, os amuletos para entrar nas montanhas, atribuídos a Lao-chun, para proteger os viajantes, são escritos em caracteres especialmente longos e cobrem completamente placas oblongas ou tiras de papel. Outros, que somente têm um ou dois caracteres, como: Imperador do Norte, por exemplo, proporcionam proteção diante de crocodilos, insetos, poços e tormentas. Alguns combinam uma ordem ou requerimento com representações semi-abstratas de espíritos, montanhas, constelações, demônios. Outros consistem em amuletos de três centímetros quadrados, talhados no buraco de uma jojoba e inscrito com um só caractere: o amuleto Lao Tan, por exemplo, que protege dos tigres, e simbolicamente contra a influência do elemento yin (feminino). São muito comuns, sem dúvida, os amuletos que têm seção oblonga com caracteres de uma forma simples ou combinada. A forte influência esotérica desse formato de tira ou franja alargada se observa no fato de que tem sobrevivido intacto na arte chinesa e japonesa de pinturas suspensas, particularmente nas paisagens, há muitos séculos.

Autor

Revista Esfinge