artigo2-ed39Assim como uma árvore tem necessidade de fincar suas raízes para se elevar, talvez o homem moderno também devesse fincar suas raízes na História e conhecer melhor o legado grego, cuja finalidade foi transmitir um projeto de paz e de futuro. Essa unidade européia, hoje tão ansiada, não é nada mais do que o velho projeto de unidade helênica. O que tornou grande a Grécia Clássica foi o valor de suas perguntas e a profundidade de suas respostas.

Essa fé na criatividade do homem fez do geômetra, um artista; do mecânico, um poeta; do físico, um filósofo, e essa grandeza de ideias assentou as bases do despertar civilizatório no Renascimento: Leonardo Da Vinci e Colombo eram estudiosos dos textos clássicos, Copérnico extraiu de Aristarco de Samos sua ideia heliocêntrica e Newton refestelou-se na Matemática dos Elementos de Euclides. No século VI a.C., os gregos eram um povo viajante, curioso para aprender. Dos egípcios, tomaram a geometria, os sistemas de pesos e medidas e o calendário. Dos babilônios, a Astronomia e seu sistema sexagesimal, assim como a capacidade de prever secas, inundações e eclipses. Naquele século ocorreu uma fermentação intelectual em todo o planeta; no Egito, o Faraó Necao circunavega a África; na Pérsia surge Zoroastro; na China, Lao-Tsé e Confúcio; e na Índia, Sidharta Gautama.

Na Europa (Jonia e nas colônias gregas do mar Egeu), surge uma bela coleção de pensadores e investigadores da Natureza. Nessa região utilizou-se pela primeira vez o alfabeto fenício para o uso grego. Lá, onde se localizam os primeiros promotores da civilização ocidental, homens filhos de marinheiros, artesãos, agricultores, gente acostumada a trabalhar com as mãos. Esse poder das mãos desperta capacidades insuspeitadas, permite empurrar pesadas portas, empunhar bandeiras de progresso e construir monumentos tais como o Colosso de Rodes, de 33 metros de altura; o Farol de Alexandria, de 178 metros; a Acrópole de Atenas, monumentos que são como tochas a guiar a Humanidade. As mãos dão vida às pedras adormecidas nos séculos. Tales de Mileto viajou pelo Egito e Babilônia e nos falou das transformações na Natureza. Desviou o curso de um rio com eclusas e comportas. Resolveu problemas geométricos como a medição de distâncias ou o cálculo de alturas a partir da distância da sombra, método hoje usado para calcular a altura das montanhas da Lua.

Atribui-se a Anaximandro o primeiro mapa-múndi conhecido e um globo celeste que mostrava a forma das constelações, que ele definia como mundos habitados. Atribui-se a Anaxímenes os primeiros cálculos de distâncias Terra-Sol mediante paralaxe ou o primeiro relógio de sol. Foi em Samos que o engenheiro Eupalino construiu a primeira obra de engenharia civil grega, um túnel abobadado de 1Km de comprimento, para abastecer de água toda a cidade, atravessando uma montanha, de onde levantou problemas somente resolvidos por procedimentos matemáticos e trigonométricos. O engenheiro Teodoro fez uso da fundição do bronze e da técnica do esvaziamento, aprendida no Egito, para realizar estátuas de tamanho colossal, e também se atribui a ele o sistema de calefação central que instalou no templo de Diana de Éfeso. Anaxágoras nos falou sobre o Caos primordial e sobre as leis de conservação da matéria, com as quais Lavoiser, no século XVIII, introduziu os princípios da química moderna. Introduziu também os princípios da Homeopatia (uma medicina reduzida infinitesimalmente por partições sucessivas, conservando suas propriedades e potencializando-as).

Anaxágoras realizou as primeiras dissecações e introduziu a teoria das fases lunares, percebendo que a Lua brilhava através da luz refletida do Sol. O mundo de Demócrito de Abdera compunha-se de átomos e vazio. Os átomos são eternos e indestrutíveis e de suas combinações forma-se o Universo. Demócrito falou da origem da vida a partir de um caldo primordial, da mesma forma que, no século XX, Stanley Miller sintetizou em laboratório o primeiro aminoácido componente da cadeia do ADN, a partir de uma mistura de amoníaco, metano e sulfureto de hidrogênio, submetidos a uma descarga elétrica. E em sua faceta de matemático imaginou o cálculo de volumes como a soma de uma série de placas, uma em cima da outra, um método que serviria de base ao cálculo integral e diferencial.

Foram os pitagóricos que introduziram pela primeira vez a palavra “cosmos” para indicar o Universo ordenado. Para os pitagóricos, o número é a raiz de todos os movimentos harmônicos da natureza. Deduziram que os planetas são esféricos (talvez observando a sombra curva da Terra sobre a Lua durante um eclipse lunar?). Os pitagóricos distinguiram a diferença entre artérias e veias e outorgaram ao cérebro a sede do intelecto. Foram os primeiros a comentar a existência dos números incomensuráveis ou irracionais (raiz quadrada de 2 ou raiz quadrada de 3) e também os primeiros a submeter-se às exigências das demonstrações abstratas. Introduziram a demonstração por redução ao absurdo. Essa necessidade de abstração os levou à aproximação do infinito em paradoxos conhecidos, como o de Aquiles e a tartaruga, atribuído a Zenão de Eléia.

A noção de infinito é dificilmente aceitável pela nossa razão, porém é uma necessidade, e assim surgiram os módulos geradores de harmonia, como são a proporção áurica ou o número pi, que abriu novas considerações aritméticas e geométricas, como se mostra nas construções gregas. Como os números irracionais não permitiam a evidência geométrica, tiveram que usar o cálculo das equações, cujo máximo expoente foi Diofanto. Os árabes recopilaram e ampliaram essa doutrina dando lugar à Álgebra.

Autor

Revista Esfinge