UM-ANTEPASSADO-DE-SETE-MILHÕES-DE-ANOSO descobrimento de um crânio de hominídeo no deserto de Chad, África, de cerca de sete milhões de anos de antiguidade, tem despertado novamente a polêmica sobre os antepassados do homem.

O crânio em questão apareceu quase completo e bem conservado e os pesquisadores responsáveis pelo descobrimento, uma equipe da Universidade de Poitiers, na França, consideram que possivelmente pertença a um ser bípede, um primata similar a um chimpanzé com traços humanos, o que faria ser o fóssil antepassado do homem mais antigo achado até o momento.

Mas nem todos os paleontólogos estão de acordo com esta afirmação. Para J. L. Arsuaga, vice diretor do sítio da Serra de Atapuerca, em Burgos, onde se encontra o achado considerado o mais antigo do continente europeu, a coisa não está muito clara, já que o descobrimento do Chad não implica uma revolução na atual visão da evolução humana. Segundo disse, temos que encontrar um “Argumento definitivo e conclusivo” que assegure a relação deste achado à nossa linha evolutiva.

Sendo assim, esperando que os especialistas cheguem a um acordo, nosso colaborador Antonio Martínez nos ajuda a por um pouco de clareza nas famílias conhecidas e comumente classificadas dos considerados antepassados humanos.

Alguns dos fósseis mais importantes dos hominídeos até o sapiens e sua datação aproximada.

 

Ardipithecus ramidus

4,4 milhões de anos.

Viveu na Etiópia. Entre 1992 e 1994 uma equipe dirigida por Tim White, Berrhane Asfaw e Gen Suwa, encontrou fósseis de dezessete indivíduos, a maioria deles apenas dentes, mas há também um fragmento da base de um crânio e de uma mandíbula, assim como diversos fragmentos de braço.

 

Australopithecus anamensis

Em torno de 4 milhões de anos.

Bryan Patterson em 1965 encontra um úmero. Peter Nzube acha em 1994 uma mandíbula com todos os dentes e, também em 1994, Kamoya Kimeu descobre uma tíbia que evidencia bipedismo deste hominídeo. Todos esses fósseis foram encontrados em Kanapoi, Quênia.

 

Australopithecus afarensis

De 3 a 3,7 milhões de anos.

Donald Johanson em 1973 encontra na Etiópia diversos fragmentos de ambas as pernas e em 1974, junto com Tom Gray descobre no mesmo sítio 40% de um esqueleto que será conhecido como “Lucy”.

Em 1975 a equipe de Johanson acha na Etiópia restos de, pelo menos, treze indivíduos de diferentes idades e de grandes diferenças de tamanho.

Em 1978 Paul Abell, em Laetoli, Tanzânia, descobre pegadas fossilizadas de dois ou três hominídeos. Datadas em torno de 3,7 milhões de anos, são atribuídas ao A. afarensi simplesmente por não se conhecer outro hominídeo desta época. Alguns autores (Tattersall, 1993) defendem que essas pegadas são idênticas às de um homem moderno.

Em 1991, Bill Kimbel e Yoel Rak descobrem em Hadar, Etiópia, um crânio quase completo de um homem adulto datado em 3 milhões de anos. Seu tamanho é de 550 cm3.

 

Kenyanthropus platyops

Entre 3,2 e 3,5 milhões de anos.

É um dos mais importantes achados dos últimos anos. Descoberto por Justus Erus, membro da equipe de Meave Leakey, em 1999. O fóssil que dá nome a esse novo hominídeo é um crânio completo com uma combinação de características incomuns. Diversos autores fazem notar sua semelhança com o crânio ER1470 de H.habilis datado 1,5 milhões de anos depois.

 

Australopithecus africanus

Entre 2 e 3 milhões de anos.

O fóssil que deu lugar a este hominídeo é conhecido como “Menino de Taung”. Foi descoberto por Raymond Dart em 1924 na África do Sul. Consiste em um fragmento da parte interna do crânio e os ossos da face e mandíbulas com os dentes.

Outros fósseis de A. africanus são um crânio muito bem conservado e uma coluna vertebral quase completa junto a uma pélvis, um fragmento de fêmur e uma costela, descobertos por Robert Broom em Sterkfontein, África do Sul.

 

Australopithecus aethiopicus

Em torno de 2,5 milhões de anos.

Deste hominídeo se encontrou em 1985, no Quênia, um crânio completo chamado “O Crânio Negro”, que é um de tantos enigmas, dada a mescla de traços muito primitivos (tamanho muito reduzido, aproximadamente 410 cm3) com outros muito avançados.

 

Australopithecus garhi

Em torno de 2,5 milhões de anos.

Em 1997 Johannes Haile-Selassie encontra em Bouri, Etiópia, parte de um crânio e uma mandíbula superior com seus dentes.

 

Australopithecus robustus

Entre 1,5 e 2 milhões de anos.

O primeiro fóssil, fragmentos de um crânio, descoberto em 1938 por um jovem na África do Sul. André Keyser, em 1994, acha um crânio e uma mandíbula de uma fêmea e outra mandíbula de um macho no sítio arqueológico de Drimolen, na África do Sul.

 

Australopithecus boisei

1,4 a 1,8 milhões de anos.

O primeiro achado desta espécie se deu em Olduvai, Tanzânia, por Mary Leakey. Foi um crânio quase completo com volume de 530cm3.

Outros fósseis importantes desta espécie são um crânio completo (510cm3) encontrado por Richard Leakey em 1969 e outro menor achado por ele mesmo em 1970, ambos nos arredores do lago Turkana, no Quênia; assim como diversos fragmentos de um crânio e uma mandíbula descobertos em 1993 na Etiópia por A. Amzaye.

 

Homo habilis

Entre 1,4 e 1,9 milhões de anos.

Dos numerosos restos coletados, às vezes com significativas divergências entre os especialistas, desta espécie descoberta por Leakey nos anos 60 na garganta de Olduvai, Tanzânia, destacamos o crânio mais completo desta espécie, encontrado por Bernard Ngeneo em 1972 no Quênia, com um volume de 750cm3. É o famoso fóssil KNM-ER 1470 que gerou importantes debates acerca de sua idade – datada inicialmente com três milhões de anos – e classificação, pela surpreendente modernidade de alguns aspectos.

 

Homo erectus

Entre 800 mil e 1,7 milhões de anos.

Desde os primeiros achados realizados por Eugenio Dubois na Indonésia em 1891, esta espécie, também chamada Pithecanthropus, “Homem de Java” ou “Homem de Pequim”, deixou sua marca fóssil em lugares tão distantes entra si como Indonésia, China e África.

Dos numerosos fósseis de H. erectus destacam-se o crânio quase completo de 1000cm3 encontrado por Sastro Hamidjojo Sartoro em 1969 em Java, que foi datado com 800 mil anos, mas que recentemente lhe foi dada a idade de 1,7 milhões de anos, com o que as hipóteses a respeito da data de emigração do H. erectus a partir da África devem ser revisadas.

O outro achado que destacamos é o chamado “Menino de Turkana”, descoberto por Kamoya Kimeu em 1984 nas proximidades do lago Turkana, no Quênia. Consiste em um esqueleto quase completo de um jovem de onze ou doze anos datado com 1,6 milhões de anos. A característica mais marcante é a semelhança do esqueleto com o do homem moderno, não só na forma, mas também nas dimensões. Se o menino de Turkana tivesse chegado à idade adulta alcançaria 1,85m de altura.

 

Homo antecessor

780 mil anos.

Descoberto em Atapuerta, Burgos, Espanha, em 1996, deve seu nome ao fato de ser considerado por seus descobridores como o possível ancestral comum do Neandertal e do homem moderno. O fóssil é uma face parcial de um jovem de idade entre dez e onze anos.

 

Homo sapiens arcaico

Entre 125 mil e 700 mil anos

Também chamado “Homo heidelbergensis”, “Homo rhodesiensis” etc. referindo-se ao local onde foram encontrados fósseis do mesmo.

Os crânios recuperados mostram traços de H. erectus, H. neanderthalensis e H. sapiens juntos, com volumes entre 1125 e 1280 cm3.

Destacam-se os fósseis do Abismo dos Ossos, em Atapuerca, Espanha, descobertos em 1992-93 por uma equipe dirigida por Emiliano Aguirre e que, datados com cerca de trezentos mil anos, nos oferecem os restos mais completos no registro fóssil do homem pré-moderno.

 

Homo sapiens neanderthalensis

Entre 28 mil e 200 mil anos.

Entre os numerosos fósseis achados após o primeiro crânio encontrado em Gibraltar em 1848, os resto aparecidos no Vale de Neanderthal, Alemanha, em 1856, e que deu seu nome à nova espécie, destacamos os nove esqueletos descobertos por Ralph Solecki no sítio de Shanidar, Iraque, datados entre 40 mil e 70 mil anos; e o esqueleto descoberto por François Lévêque em Sant-Cesaire, França, com uma idade de 35 mil anos.

 

Antonio Martinez-Única López

 

Autor

Revista Esfinge