Rafael Morales

As teorias de Einstein são colocadas à prova pela sonda Gravity Probe-B.

Desde que Einstein publicou sua teoria da relatividade especial em 1905 e a teoria da relatividade geral em 1916, elas foram confirmadas por muitas experiências importantes e com instrumentos cada vez mais sofisticados e precisos.

A sonda espacial GP-B levará um giroscópio, o mais perfeito até agora construído, que possui um avançado sistema de referência espacial e temporal, com o qual colocará novamente à prova a validade das teorias de Einstein. Seu eixo estará alinhado com sua estrela guia, a IM Pegasi (HR8703). Uma vez em órbita, a 640 quilômetros de distância da Terra, a sonda de 3,3 toneladas dará uma volta completa em torno do planeta em 97,5 minutos, passando pelos dois pólos, e a comunidade científica espera ser capaz de descobrir propriedades fundamentais do universo invisível descrito por Einstein.

Um dos prognósticos mais difíceis de entender é que os corpos celestes gigantescos como os planetas, as estrelas e os buracos negros, entrelaçam o tempo e o espaço à medida que giram sobre o seu eixo, de forma similar ao que acontece com um tornado. Assim, com cada giro se perde um fragmento de espaço e de tempo e com sua presença estes corpos massivos deformam o espaço-tempo ao seu redor. Isto produz um efeito gravitacional que explica porque todos os corpos, seja qual for a sua massa, caem com a mesma aceleração. Eles seguem a linha de maior inclinação no espaço.

Se Einstein tem razão, o satélite detectará que em cada órbita se perdem pequenos fragmentos de tempo e espaço. Segundo alguns cálculos se perde a cada ano 40,9 milionésimos de segundo e o desvio do eixo de rotação, devido ao efeito da gravidade da Terra, deveria ser de um ângulo de 6,614 bilionésimos de segundo. Isto pode nos dar uma idéia da precisão dos instrumentos e da dificuldade deste experimento.

Todas as pessoas interessadas neste experimento devem ter paciência, pois os técnicos demorarão de 40 a 60 dias para calibrar o instrumento e nos 13 meses seguintes a GP-B recolherá dados científicos com o fim de comprovar se há algum desvio do eixo de alinhamento dos seus giroscópios em relação a sua estrela guia, a IM Pegasi (HR8703). A perda de tempo será comprovada através de relógios atômicos.

Chispas Literárias

Raysan

Iniciamos aqui uma seção dedicada à arte de escrever em seu aspecto de ficção narrativa. Trataremos de esboçar algumas idéias e técnicas básicas que fazem de um texto literário uma peça a mais completa possível.

Não poderemos fixar idéias absolutas sobre o que deve ou não deve ser feito na narrativa, sobretudo porque a experiência que possuímos é relativa. Além do mais, poderia anular a intuição pessoal do aprendiz de escritor. Pretendemos, no entanto, dar algumas indicações úteis que sirvam de guia, que canalizem as naturais capacidades….

– Todos aprendemos de alguém e seguramente podemos ensinar a alguém. Todos precisamos de modelos e quanto mais elevados sejam estes modelos melhor, pois nos obrigarão a nos colocar na ponta dos pés para alcançá-los. Por isto se diz que aprendemos a escrever lendo os grandes autores. Eles nos mostrarão a medida da altura que poderemos alcançar e que sempre haverá quem os ultrapasse. Estes serão exceções. Por isto, no momento, é útil seguir as marcas que nos deixaram os grandes autores.

– Gradualmente enfocaremos distintos temas de ficção que versarão sobre os tipos de linguagem, as diferenças entre relato e conto, a criação de personagens, sobre a trama, a intriga e a ação, sobre as formas de discursos, etc.

Exercícios: Proporemos finalmente alguns exercícios para nossos leitores, publicados nesta mesma seção e sobre os quais agregaremos as oportunas indicações que sirvam de guia no aperfeiçoamento da técnica literária pessoal. (A extensão habitual será de meia folha, em letr Arial 12 ou similar, com parágrafos de um espaço e meio entre as linhas).

Tema 1

Como criar um personagem ?

Os personagens guardam, como um exótico cofre, a alma do autor. Por isto devem encerrar em suas atitudes e condutas, ainda sendo estas inadequadas ou desumanas, a mensagem que se pretende transmitir. Portanto, além de que o desenlace da trama aconteça no final, em cada curva do texto devem apreciar-se as chaves a transmitir, o fundo humano que se quer assinalar.

É por este motivo que o escritor deve ir perfilando o personagem (ou os personagens) à medida que avança no desenvolvimento do texto. Se dentro de uma narração segregamos a descrição do personagem do desenvolvimento geral da trama, isto resultará numa falta de homogeneidade do texto. É preciso conseguir que a descrição dos traços físicos e psicológicos do personagem fiquem enredados no contexto da ficção, espalhados por toda a narração.

Por outro lado, deve se adotar na exposição um grau de intriga e de mistério. Os personagens, seja pela boca de um narrador onisciente ou de um narrador que fale em primeira pessoa, não podem dizer muito de si mesmos. O leitor irá descobrindo o que sente, o que pensa o personagem. Porque o leitor médio prefere degustar o descobrimento inteligente dos personagens antes de mastigar comida excessivamente preparada.

O desenho fictício de um personagem requer também um exercício de coerência, porque os pequenos detalhes que o caracterizam, como sua vestimenta e suas expressões devem ser coerentes com seu modo de viver, com sua personalidade. Isto requer uma atenção constante da parte do escritor para definir o personagem no menor gesto de acordo ao caráter que foi atribuído a ele. Assim, um personagem poderá descobrir-se não só pelo que diz, mas deve “ver-se” claramente.

É fácil dizer diretamente que “o personagem está nervoso” ou “o personagem está triste”, mas o narrador deve evitar o óbvio, de modo que se insinue com gestos ou por via indireta seu estado de ânimo ou de pensamento. Acender um cigarro ao contrário ou tentar fumar sem acendê-lo, branquear as juntas dos dedos ao aferrar-se a um copo ou tentar beber de um copo vazio, brincar repetidamente com os cachos dos cabelos ou ajustar repetidamente o cinturão, dizem mais sobre o estado ou tipologia do personagem que uma descrição literal. Entendemos que se alcança um maior nível literário quando se consegue que o leitor inteligente deduza as situações e os personagens.

A descrição de um objeto, de um animal ou de um personagem, pode ser meramente física e visual, ou pode incluir suas qualidades emocionais, mentais e anímicas. Geralmente, sobretudo quando se trata de descrever um ser vivo, é difícil fazer uma mera descrição física, pois o autor acaba adicionando emoções ou intenções que conhece ou pressupõe. Assim, poderá carregar uma descrição com elementos psicológicos ou simbólicos, como … “seu sorriso era franco” ou “a alegria provinha do fundo do seu ser”, ou ainda, “sua mãos eram grandes e generosas”, mas todo escritor deveria exercitar-se previamente na simples descrição física e visual, aprendendo a descrever tão somente aquilo que vê.

O aprendiz de escritor poderá finalmente usar uma ou outra tipologia segundo considere conveniente para o desenho do personagem, mas deveria conseguir um manejo correto de cada uma delas.

Todo personagem criado não deveria ser obtido a partir de uma pessoa real e se uma referência é adotada com base em alguém conhecido, a época e a atmosfera utilizada para a ficção, a trama, o desenlace e as situações criadas tornarão improvável que o personagem de ficção reaja como o modelo real. Isto é óbvio porque os elementos citados condicionarão ou até mesmo criarão um novo personagem.

Mas, sem dúvida, a maior dificuldade literária está em criar personagens autênticos, cujos comportamentos estejam de acordo com o desenho que o autor fez deles. Fictícios mas capazes de nos convencer da sua realidade e inclusive de reações previsíveis a partir do conhecimento que o leitor vai adquirindo deles.

Criar ficção é conseguir manter o leitor em um sonho imaginário com traços de realidade. Portanto a passagem entre o real e o imaginário, entre o objetivo e o subjetivo deve realizar-se sem descontinuidade, sem que seja percebido. Assim, os personagens devem estruturar-se previamente, deixando paulatinamente filtrar seu modo de ser em pequenos detalhes e atitudes com base em tênues pinceladas. O quadro final, como no impressionismo, se apreciará bem de longe, tomando uma sadia distância e perspectiva.

Escrever não é alcançar o objetivo mas saber oferecer um ponto de vista subjetivo, ainda que tocará a maestria na medida em que os personagens criados se aproximem do mais essencial da alma humana.

Exercício proposto no. 1 – Descrever um personagem que espera em uma cafeteria ou em uma estação, momentos antes de um acontecimento ou situação concreta que é conhecida. A descrição não será alheia a este acontecimento. (meia folha, letra arial 12, com parágrafos de um espaço e meio)

Autor

Revista Esfinge