A maioria dos biólogos estavam convencidos de que os seres vivos eram somente o produto de seus genes e de que estávamos determinados por um programa genético herdado de nossos antepassados, condenados a sofrer. Os últimos vinte anos de investigações em ciência da vida tem mudado completamente essa crença. Demonstram que podemos atuar em nossas vidas, transformando a nós mesmos, mudando nossos comportamentos e indo mais além de nós mesmos para ir em direção a horizontes as vezes inesperados.

A pesquisa do Dr. Bruce Lipton (1) revelou que o ambiente que opera através da membrana celular controla o comportamento e a fisiologia da célula ativando e desativando os genes. Estas descobertas se confrontaram com a opinião de cientistas de renome, que afirmavam que a vida está controlada pelos genes, predizendo com isso que um dos campos de estudo mais importantes da atualidade é a ciência epigenética.

            “A descoberta do impacto do meio ambiente no funcionamento das células muda radicalmente a ideia que tínhamos da imutabilidade do código genético. É também a prova de que as emoções regulam a expressão dos genes. (…) Seja qual seja seu conteúdo, nossos pensamentos penetram o corpo em forma de energia, uma energia emocional, mental, psicológica ou espiritual. Da lugar a reações biológicas que logo se registram na memória das células. Assim é como a nossa biografia se ajusta gradualmente aos sistemas biológicos e isso se forma a medida que passam os dias.”

            A epigenética se define como a ciência que estuda as mudanças transmissíveis e reversíveis da expressão dos genes, não acompanhando a mudança do suporte genético, ou seja, não modifica o DNA. As mudanças podem ocorrer espontaneamente ou como resultado do estresse, como resposta a um entorno ou outros fatores externos. Os fenômenos epigenéticos atuam como interruptores, abrem e fecham, dependendo das circunstancias e em diversos níveis, a expressão dos genes. Eles, portanto, permitem muitas combinações não programadas entre genes, através do fenômeno da metilação. (2)

            Ainda que as descobertas relacionadas com a epigenética são muito recentes, o termo foi evocado em 1942 por Conrad Hal Waddington (3), (do grego epi, “mais além de”: mais além da genética). A epigenética abarca propriedades, um código sobre o código, como Joel de Rosnay o explica muito bem em seu último livro The Symphony of the Living (4): é um “metasoftware” biológico, que transforma profundamente o papel da genética clássica. A mudança epigenética não é uma mutação, se não uma modulação da expressão de genes pelos comportamentos ou o meio ambiente. A genética e a epigenética se comparam com os textos que tem um livro e o processo de leitura, no qual cada indivíduo interpreta o livro de uma maneira diferente, através de sua experiência, sua imaginação… Outros comparam a genética com uma partitura, e a epigenética com a interpretação da sinfonia. A grande pergunta é como se transformar no diretor da orquestra da nossa própria partitura.

            O que vivemos influencia em nosso estado físico, nosso estado psíquico, nossa trajetória de vida e nossa mente, e joga um papel importante na modulação epigenética da expressão dos genes.

            Herdamos o nosso genoma, porém temos a liberdade de atuar sobre o nosso epigenoma, a nível individual e coletivo e na evolução de nossa sociedade, de acordo com as interações que estabelecemos entre nós. Estes fenômenos podem ser ampliados hoje em dia mediante o uso das redes sociais em uma direção ou outra. No mundo epigenético, tudo é reversível, o que ressalta a importância de assumir a responsabilidade de nossas vidas e aclarar nossas escolhas. Nosso comportamento e nossa vontade de atuar podem nos transformar. Com a epigenética, podemos reorientar os processos “psicossomáticos” negativos em uma direção que beneficia nossa saúde e nosso equilíbrio mental.

            As cinco palavras chave para uma reorientação de sucesso são a nutrição, o exercício, o antiestresse, o prazer e a harmonia. Eles interatuam naturalmente entre si e reclamam uma disciplina de vida que os antigos do Oriente e Ocidente sempre recomendaram, como enfoques preventivos, interessados na influência entre a mente e o corpo.

            Estudos atuais têm demonstrado que as práticas ancestrais como a meditação, o yoga, formas de meditação dinâmicas como o Tal chi chuan e o Qi Gong podem ter efeitos positivos no metabolismo do nosso corpo em algumas disfunções como a hipertensão. Graças a estas pesquisas, as sabedorias antigas e as novas descobertas têm encontrado um ponto de convergência.

            Hoje sabemos que todas as técnicas para relaxar o corpo e o controle da respiração permitem alcançar um alto nível, tanto de concentração como de relaxamento, e que pacientes, especialmente aqueles com câncer, havendo praticado, com uma nutrição saudável, conseguiram modificar suas células cancerígenas que voltaram a ser normais novamente. Estudos recentes também demonstraram que, diante de situações de grande estresse, como no caso das vítimas do holocausto ou a fome, modificações genéticas podem ser herdadas por gerações que não viveram tais situações, porém hoje, a reversão é possível.

            Portanto, os hábitos alimentícios, a atividade física, a contaminação, o estresse, a preocupação, nossas relações sociais ou familiares e eventos felizes ou infelizes são suscetíveis de interferir em nossa trajetória de vida e em nosso estado de ânimo, e desempenham um papel importante na modulação epigenética da expressão de nossos genes. Portanto, estar rodeado de verdadeiros amigos ou viver uma vida emocional estável, florescer internamente, apenas pode ter efeitos benéficos, não apenas sobre nossa saúde física, se não também sobre nossa saúde em geral.

            Dawson Church (5) descreve como nosso estado mental interfere em nossos genes. Demonstra que as crenças, as intenções a meditação, o altruísmo, o otimismo, a cooperação, a confiança… tem um efeito consequente nos genes do estresse, envolvido especialmente nos processos de envelhecimento e imunidade

Para concluir, a relação que estabelecemos com nosso entorno exterior e interior é crucial para nos ajudar a nos transformar e tirar tudo o que promova a evolução do nosso eu.

É igualmente um desafio coletivo. É essencial entender que somente podemos mudar individualmente, se não também a forma de viver juntos. Para isso, devemos voltar a nos conectar com os objetivos superiores, como o demonstrou o coronel Arnaud Beltrame com seu próprio sacrifício. A união de toda a nação se fez graças a seres heroicos. Ele soube enfrentar o desafio que nos é imposto: encontrar o delicado equilíbrio entre liberdade e segurança. Seu exemplo nos permitiu damos conta de que outras posturas são possíveis e que nunca devemos nos inclinar diante da fatalidade.

Fernando Schwarz

Autor

Hinaldo Breguez