A finalidade da meditação é conseguir que esse estado de “calma” não se limite apenas aos momentos em que se pratique, mas também que possamos “usá-la” como uma roupa que vestimos e levar conosco onde quer que estejamos: no trabalho, praticando esportes, enquanto lemos um livro, quando nos relacionamos com o outro ou ao realizar qualquer ação criativa e artística.

Muito se fala e se escreve sobre a meditação. Vemos anúncios que a oferecem e esforçam-se em popularizar a prática da meditação ou até transformá-la em um produto comercial, já faz parte da “vida leve” como se fosse uma bebida com baixas calorias sem nenhuma finalidade profunda. A meditação tem se transformado em uma maneira de se alcançar o bem-estar, relaxamento, esvaziamento mental e coisas desse estilo. No entanto, além dos seus efeitos benéficos, em um sentido mais profundo, a meditação pode nos ajudar a mudar nossa vida em muitos aspectos.

Meditar envolve aceitar a ideia de que vivemos para aprender. Desta maneira entende-se que tudo é como uma grande escola onde nos é ensinado, de uma forma ou de outra, o sentido da vida. Assim, o homem seria algo mais do que aparenta ser, além de seus sentidos, ações, sentimentos e pensamentos, existe um ser com consciência de si mesmo, capaz de colocar em ação sua vontade, para se superar continuamente.

O QUE É A MEDITAÇÃO?

A meditação é uma técnica que nos permite um encontro conosco mesmo. E nos permite encontrar em nós mesmos, todas as nossas potencialidades ao longo da viagem que a vida implica. É um caminho que vai da periferia ao centro, no qual surge continuamente uma infinidade de obstáculos que devem ser solucionados durante esse caminho. Diante de cada uma dessas barreiras, a meditação ajuda a encontrar em nós mesmos o grau necessário de paz, removendo tudo o que nos causa danos e abrindo espaço para aquilo que nos ajuda a ser melhores. É o que chamamos: “Fazer um vazio interior que convida o preenchimento”. Um exemplo seria lutar contra hábitos perniciosos adquiridos ao longo de toda uma vida, nos permitindo adotar hábitos mais saldáveis física e emocionalmente falando.

“Na quietude e silêncio da meditação, vemos a natureza interior profunda que há muito tempo perdemos de vista em meio a ocupação e distração mental, e voltamos a ela’’.

TUDO É RELATIVO

A atitude mental com a qual se recomenda entrar na prática da meditação é a de um certo grau de desapego em relação às coisas que normalmente no preocupam, e a convicção de que todas as coisas são, na realidade “vazias”, uma ilusão parecida com o sonho. Na Índia, o conceito de “Maya” (a deusa da ilusão) é usado para se referir ao mundo da aparência, ao que parece ser real, mas, na realidade, não é. Em um âmbito mais profundo, falaria da existência como um reflexo, uma pegada na lama de outra realidade que lhe dá forma e vida. É por isso que, para praticar uma boa meditação, não devemos deixar que os problemas do mundo nos absorvam demais, nem nos preocupem a ponto de nos roubar o sonho. Ao aceitar em nós a “relatividade” de tudo o que nos rodeia, começamos a estar mais predispostos a assumir um estado de serenidade e generosidade.

“Liberte-se silenciosamente do laço do seu angustiado eu habitual, solte toda a possessividade e relaxe em sua verdadeira natureza.”

QUE NÃO SE AFETE POR PENSAMENTOS OU EMOÇOES

Longe do que se costuma pensar, meditar não implica um esforço (algo como franzir a testa e estar muito atento a tudo), muito pelo contrário. Trata-se de “compreender”, manter a atenção relaxada e a “certeza” de que estamos fazendo certo. Quando chegamos à quietude da natureza da mente, o tipo de pensamento com o qual lidamos todos os dias é como se deixasse de existir. Então nós apenas “somos”. Não há nenhuma tarefa específica a fazer. É algo que tem que acontecer espontaneamente, que surge pouco a pouco praticando um método.

Encontrar um pouco dessa “quietude” é fundamental para alcançar um resultado mínimo. Da mesma forma que uma chama não queima se o ar a agita demais, a verdadeira natureza da mente não aparecerá até que a “turbulência” que surge dos pensamentos e emoções seja acalmada. O “segredo” para que não nos afetem é deixar as emoções e os pensamentos irem como vieram, sem prestar atenção neles.

“A mente é espontaneamente feliz sem pressão, assim como a água é naturalmente clara e transparente se não for agitada.”

O bom da meditação é que não existe um método específico, todos são bons se forem bem praticados. Seu êxito está na experiência vital que nos proporciona em termos de serenidade, clareza de pensamento e visão de relativa importância que adquire o que antes nos inquietava e agora, olhando deste ponto de vista mais objetivo, nos liberta. Quanto mais essa liberdade é experimentada, como dizem os professores de meditação, o “eu” ou Ego tende a se dissolver e, com ele, os desejos e medos que lhe dão vida. Isso nos aproxima do que eles chamam de “sabedoria da negação do eu”, onde “um sentimento infinito de generosidade” nos une às coisas.

“Quando você habitar nessa morada de sabedoria, não verá mais barreiras entre ‘’você’’ e ‘’eu’’, ‘’isto’’ e ‘’aquilo’’, ‘‘dentro’’ e ‘‘fora”.

A QUALQUER MOMENTO E LUGAR

Assim, a finalidade da meditação é garantir que esse estado de “calma” não se limite apenas aos momentos em que é praticada, mas que se torne uma presença contínua de nossa natureza interior e possamos levá-la “a” onde quer que estejamos: no trabalho, praticando esporte, na leitura de um livro, na interação com os demais ou em qualquer ação criativa e artística.

“Preste atenção a qualquer sinal de graça ou beleza” “Ofereça todas as alegrias, se mantenha desperto em todo momento para “as notícias que sempre vêm do silêncio’’.

Não importa o que façamos ou onde estejamos, o estado alcançado na meditação será finalmente um modo natural de ser e não forçado a nós, uma verdadeira conquista interior para que “fale o silêncio”, aquilo que por tantos anos permaneceu em um segundo plano, testemunha muda de nossas idas e vindas, anseios e decepções. Esse é o propósito da meditação, deixar a que “voz do silêncio” ser expresse.

“Quem é grande na prática espiritual? Quem sempre vive na presença de seu próprio ser verdadeiro, quem encontra e aproveita continuamente as fontes e mananciais de inspiração profunda.”

Autor

Editor Revista Esfinge