Julián Palomares

As egípcias conheceram um mundo no qual a mulher não era uma adversária, nem uma rival do homem.

Que mundo que lhes permitia viver na plenitude sem renunciar a sua identidade?

Uma civilização que se modela sobre um conjunto de arquétipos ou de mitos que configuram o estilo de vida, o modo de ser e os objetos que sustentarão o ser humano.

A mulher no Egito não era considerada “do mal” como em outras culturas e nem desprovida de conhecimento, mas sim se inspirava na grandiosa figura de Ísis ─ que havia superado os piores obstáculos e descoberto o segredo da ressurreição.

Ísis foi o modelo das rainhas, das esposas e das mães, assim como das mulheres mais humildes. A sua fidelidade somava um valor indestrutível frente às adversidades, uma intuição fora do comum e a capacidade de penetrar no mistério. Ela era o modelo ou arquétipo que toda a mulher egípcia tinha como proteção e inspiração de seus atos. Aqui é, sem dúvida, onde reside o segredo da beleza, serenidade e sabedoria da mulher egípcia.

A percepção da polaridade feminina durante a criação está na raiz do respeito que a civilização dos Faraós mantinha pela mulher e o papel que lhes atribuiu na sociedade, desde a rainha até a dona-de-casa.

As egípcias conheceram um mundo que lhes permitia viver em plenitude como esposas, como mães, no trabalho ou como iniciadas nos mistérios do templo, sem renunciar a sua identidade a favor do homem. Um mundo em que tinham livre acesso às coisas sagradas.

A mulher egípcia mantinha seu nome e sua personalidade sem que isso significasse entrar num processo de disputa com o homem, já que ela dispunha da possibilidade de expressar plenamente sua capacidade como pessoa consciente e responsável. A mulher casada mantinha seu nome e sobrenome, não adotava o do marido e tinha orgulho em lembrar sua filiação materna.

Não podemos negar que as egípcias desfrutaram de algumas condições de vida muito superiores as que conhecem hoje milhões de mulheres. A igualdade entre homens e mulheres era um dos valores essenciais da civilização dos Faraós. Não se repetiram mais as realizações das mulheres egípcias, pois esses valores eram grandes, livres e criativos demais para ficarem presos aos dogmas religiosos.

Hoje nos chama a atenção o imenso respeito que era dado à mulher egípcia. Bela, serena, luminosa, a mulher egípcia contribuiu de modo muito ativo na construção diária de uma civilização que fazia culto a deusas como Maat (verdade, justiça, confiança, equilíbrio cósmico, harmonia) e Hathor (a Grande Mãe, grande e rica na Magia, aquela que nada ignora do Céu e da Terra, Mágica e Sábia).

A moral no Egito não é um adorno intelectual, mas formata todo um estilo de vida. É o esqueleto e o sangue desta civilização e influencia até nos menores aspectos do dia-a-dia. Os livros de moral e sabedoria eram os que ditavam a conduta a ser seguida, tanto na família como no exercício profissional de cada um.

Na relação com a esposa devia predominar o respeito; a violência era algo condenável. O respeito era seguido pela fidelidade e pela palavra empenhada, valor central da civilização egípcia. Um bom marido tinha atitudes justas, não era causador de dor, nem de ofensas, nem de abandono. A esposa era a companheira adorada pelo marido, a irmã bem amada e a dona de seu coração, pois ela era a riqueza da vida e quem trazia a felicidade.

A mulher era igual ao marido e entre eles reinava uma profunda cumplicidade. Nas esculturas, com seus gestos quase secretos que traduzem uma atividade mágica, a mulher protege o esposo, velando pela sobrevivência do casal, para que nada os perturbe.

O casal divide as responsabilidades dessa forma se desenvolve uma vida com múltiplas facetas.

Cada sexo era, por definição, o complemento do outro e representava um papel determinado. Ambos são igualmente respeitados e necessários para a perpetuação da vida e cada um tinha seu lugar e seu papel. A incontestável igualdade dos sexos no Egito não foi resultado de uma luta protagonizada pelas mulheres do Nilo para conseguir uma ascensão.

Os egípcios eram conscientes da necessidade de respeitar a tradição ancestral com a qual esta civilização estava profundamente unida. Eles viviam e mantinham a ordem que havia sido estabelecida nos tempos dos Deuses para que não ocorresse uma ruptura do equilíbrio.

Ser esposa, mãe e dona-de-casa junto a um ser amado que sabia responder ao esforço realizado ─ este era o ideal. A instrução e a educação eram essenciais para a formação daquela que, seguindo seu destino, seria chamada para assumir certas responsabilidades. Não havia limites para a ascensão. Isso se verificava em todos os níveis da sociedade. Tanto é que o universo do conhecimento estava eternamente aberto à mulher egípcia. Nos tempos dos Faraós, a mulher podia desempenhar as mais altas funções.

Assim como não havia diferença entre homem e mulher no solo egípcio, tão pouco as havia no céu, no Amenti, nem na terra do espírito. Esse magnífico desdobramento da espiritualidade feminina não voltou a repetir-se desde o desaparecimento da civilização dos Faraós. Outra dimensão não menos admirável foi a ausência de rivalidade espiritual e intelectual entre homens e mulheres que trabalharam conjuntamente nos templos e formaram comunidades dirigidas indistintamente por um homem ou por uma mulher. Embora existissem caminhos iniciáticos especificamente masculino ou feminino, estes coincidiam no essencial.

Como filhas da Grande Mãe, as mulheres deviam ser suas representantes na terra, atualizando suas encarnações, assumindo estes poderes e servindo como suporte de uma civilização que engrandeceu a evolução da vida. Este era seu alimento interior, a inspiração para o dia-a-dia. Como Maat, deviam velar pela manutenção da harmonia e da relação entre o céu e a terra.

Seus modelos não eram ídolos de papel, nem pedras, nem ilusões, nem fantasias humanas. Eram idéias, arquétipos que representavam os mistérios da natureza. Como dizia um grande egiptólogo: “O Egito foi o reino da espiritualidade feminina.”

Bibliografia

Tebas, Jorge A. Livraga.

Manual Egípcio, Vários Autores.

As Egípcias, Christian Jacq.

A Mulher Egípcia, Christian Jacq.

A Mulher Sábia, Christian Jacq.

Autor

Revista Esfinge