Escrito por Ricardo Vela

Pierre de Coubertin, pedagogo e criador dos Jogos Olímpicos modernos, ensinou, repetidamente, que a formação através da filosofia do Olimpismo tem dois aspectos fundamentais: um associado ao desenvolvimento pessoal e ao acúmulo de experiências que afeta cada um de nós; e outro, em relação à transmissão dessas experiências para facilitar o desenvolvimento de todas as pessoas idealistas que se aproximam do Ideal Olímpico.

As experiências em torno do Ideal precisam não apenas de estudo, mas também da promoção da convivência, pois a convivência é o grande laboratório do desenvolvimento das virtudes. Na convivência, vemos o limite de nossa paciência, nossa generosidade, nossa capacidade de amar. E se eu mantiver minha visão no egoísmo, as diferenças aumentarão, mas à medida que refletimos sobre o Espírito Olímpico, podemos ver que essas diferenças se tornam pequenas e que existe um Ideal que nos unifica. Tais experiências, quando você persegue o Ideal Olímpico (que inclui todas as virtudes que uma pessoa pode desenvolver), podem moldar o ser humano e qualificar suas emoções, pensamentos e, consecutivamente, sua ação no mundo.

Essa experiência deve ser baseada, em grande parte, na fraternidade e admiração que podem ser desenvolvidas por parceiros de treinamento, instrutores, adversários em um jogo, que apesar de terem suas falhas, sempre têm algo positivo para nos oferecer. Defeitos não anulam virtudes. Podemos entender que obstáculos cotidianos são oportunidades para nos fortalecermos. A dificuldade desenvolve vontade, resistência, inteligência e muitas outras coisas.

Portanto, na Escola do Esporte com Coração, nós nos sentiríamos ingratos se, depois de receber tanto, não pudéssemos, nem que fosse em pequena medida, divulgar alguns desses ensinamentos. Não somos perfeitos. Bondade, beleza, justiça ou verdade, em sua perfeição, não podem ser compreendidas por seres humanos comuns. Mas podemos nos tornar um pouco mais gentis, mais bonitos, justos e verdadeiros. Também não é da natureza dos seres humanos alcançar as estrelas, mas elas os guiam através de noites escuras. Da mesma forma, bondade, beleza, justiça e verdade, devem guiar o ser humano em noites escuras. Mesmo que não seja possível alcançar a compreensão da justiça perfeita, se refletirmos sobre ela, podemos ser um pouco mais justos. Uma pessoa sem reflexão comete mais injustiça do que uma pessoa reflexiva.

A proposta não é colocar verdades absolutas, porque uma das grandes máximas de Sócrates, considerado um dos seres mais sábios da humanidade, era: “Só sei que nada sei.” No entanto, podemos buscar os pontos que nos ligam ao Ideal Olímpico e, assim, alcançar os pontos que nos unem e pequenas transformações.

Precisamos chegar aos valores que residem nos seres humanos, em breve, no futuro, aqueles que serão melhores do que nós virão. A proposta desse Ideal Olímpico é muito alta, é perfeita, e buscamos compreender que cada um de nós, com tantas falhas, pode se sentir pequeno na frente dele, mas se não houver seres humanos promovendo essas ideias, essas virtudes, quem irá promovê-las? E o ideal existe não só para ser falado, mas para ser compreendido e praticado, ainda que seja em nossa medida, em nossos treinamentos, em nossos torneios, em nosso voluntariado ou nos momentos de lazer. A honra não se aprende nos livros, aprende-se no meio de pessoas honradas.

“Que a Tocha Olímpica siga o seu curso através dos tempos para o bem da humanidade cada vez mais ardente, corajosa e pura.” Pierre de Coubertin

Autor

Revista Esfinge