Saggitarius é o que lança flechas (de sagitta, saeta ou flecha), ou seja, um arqueiro, assim conhecido por todos os acadios no seu Caminho da Lua (Tablas de Mul-Apin, 1000 a.C.), de nome “Pa-bil-sag”, “O Flechador”. Relacionou-se ao deus Erra (o Nergal), deus da guerra e da doença, muito temido e representado em numerosos amuletos. Seria o equivalente a Ares dos gregos. Arato o menciona assim:

“E ainda no mês precedente, quando tenhas padecido muito no mar, na época em que o Sol queima o arco e que oscila o arco, desembarca ao entardecer e não te fies na noite. Seja para ti indício daquela estação e daquele mês a saída do Escorpião ao final da noite. Pois, na realidade, o Sagitário estende a corda do seu grande arco muito próximo do dardo; e o Escorpião, ao sair, levanta-se um pouco diante dele; e sobe mais em seguida”.

De sua parte, Empédocles se refere a ele nestes termos:

“Trata-se de Sagitário, que muitos chamam de Centauro, embora outros autores não concordem porque não acham que tenha quatro patas, mas que se encontra erguido de pé disparando seu arco, pois nenhum centauro usou esta referida arma. Trata-se de uma figura de homem com patas de cavalo e rabo parecido com o dos sátiros. Daí que acreditaram ser pouco provável que se tratasse de Euferme, ama das Musas. De acordo com o que conta Sosíteo, habitava o monte Helicón e foram as Musas que lhe deram a habilidade de lançar flechas, com as quais caçava as feras que lhe serviam de sustento. Estava com as Musas, e um dia, ao ouvi-las cantar, aplaudiu-as em sinal de felicitação; na realidade foi um início de aplauso, já que só ele quem começou; mas aos poucos, ao vê-lo aplaudir, os demais o imitaram. Então as Musas, ao verem que graças à iniciativa de Croto as suas obras eram apreciadas por todos, decidiram que Zeus devia recompensá-lo pela sua piedade; e deste modo ascendeu ao céu, batendo suas mãos, além de brandir seu arco. Seu gesto permaneceu assim entre os homens. Desde então sua figura permanece como testemunho para todos os homens, tanto para os da terra como para os marinheiros. De modo que quem afirma que é um centauro se engana.”

Os gregos também viram na figura do “flechador” um centauro, personagem mítico com corpo de cavalo e tronco e cabeça humanos. Dentre todos os centauros célebres, cabe destacar Quirón. Este personagem é mais freqüentemente associado à constelação do Hemisfério Sul Centaurus (praticamente invisível hoje em dia, mas presente nos céus da época clássica, pelo efeito da precessão). Quirón foi o único centauro imortal, sábio, reconhecido mestre de Aquiles e Esculápio, entre outros. Foi ferido acidentalmente por uma flecha de Herácles e ficou tão ferido que Zeus se apiedou dele e lhe concedeu a morte para livrá-lo do seu sofrimento.

Os assírios o identificavam com Nergal, o deus arqueiro, e os babilônios com um centauro de duas cabeças e idênticas habilidades.

Uma espécie de Marte babilônico foi que deu origem à típica figura iconográfica dos horóscopos. Os hebreus identificaram-no com “José, cujo arco conservou sua força”.

Segundo menciona Cirlot, Sagitário é um símbolo cósmico que expressa o homem completo: animal, espiritual e digno do divino. Representa ao homem como um nexo entre o céu e a terra, tensão simbolizada pelo arco.

Juan Carlos del Río

Autor

Revista Esfinge