Há um novo modelo de medicina natural

Entrevista com o Doutor Manuel Villaplana

Doutor em Naturopatia e Psicologia. Diretor da clínica Cea Nature em Valência

Professor e diretor dos cursos a distância CCC de Naturopatia em nível nacional.

Especialista em terapia de Florais de Bach e Reflexologia Podal.

Autor de “Alimentação psicotrônica”, “Os biorritmos humanos”, “101 substâncias naturais” do editorial Obelisco.

A Revista Esfinge teve a oportunidade de entrevistar o professor Manuel Villaplana por ocasião de duas conferências de naturopatia realizadas na cidade de Córdoba.

De caráter otimista e entusiasta e tudo que proporcione a melhora da saúde corporal, psíquica e espiritual do ser humano, com um discurso firme e crítico, despertou nosso interesse para a importância da medicina natural em nossos dias e sua convivência com a medicina oficial ou alopática.

A prevenção baseada na melhora de nossos hábitos de vida e tratamento da enfermidade com base na sua verdadeira causa (e não só atuando sobre os sintomas) foram alguns dos aspectos mais interessantes que pudemos captar de um dos pioneiros da naturopatia em nosso país, e que poderíamos atribuir a máxima estóica que diz: “ nada que é humano me é alheio”.

Doutor Villaplana, o que é a naturopatia?

A naturopatia é o estudo das leis que regem a saúde humana e a aplicação destas leis para equilibrar a saúde e enfermidade nas pessoas, através de mecanismos e técnicas naturais como a dietética, a fitoterapia, a massagem, a reflexologia podal, os florais de Bach, etc.

Poderia nos indicar a situação atual da Naturopatia na Espanha?

O momento atual é de expansão. Há aproximadamente trinta anos, praticamente não existiam naturopatas neste país e havia pouquíssimos estabelecimentos de herbodietética que se dedicaram a produtos integrais e naturais para a saúde. Atualmente, pelo contrário, muitas farmácias têm uma seção dedicada à dietética, às plantas medicinais e inclusive em muitos colégios médicos existem cursos de medicina natural ou naturopatia.

O que distingue a medicina natural da medicina alopática?

A distinção é importante. Em princípio, na medicina natural nos dedicamos a descobrir a causa que produziu o desequilíbrio chamado enfermidade. Uma vez descoberta e localizada a verdadeira causa, se tratam não só os sintomas e sim as causas e então os sintomas como conseqüência desaparecem por si mesmos. Também tem um papel fundamentalmente preventivo e outro papel que compartilha com a medicina alopática, que é curativo. Não são excludentes e ambas as metodologias podem ser combinadas, a alopática e a naturista. Mas a principal característica que as diferencia é que a medicina natural busca a verdadeira causa e não ataca os sintomas, não utiliza meios artificiais, sintéticos ou químicos, e restabelece progressivamente a saúde melhorando as condições de vida do indivíduo, já que toda enfermidade tem como causa viver contra as leis da natureza.

Que papel pode desempenhar a naturopatia em nosso mundo atual com uma medicina tão avançada tecnicamente?

O avanço técnico da medicina oficial ou alopática é surpreendente. Este avanço não é somente executado por médicos, e sim por técnicos de aparatologia, biólogos, químicos… Mas considero que isto sem a contrapartida que é prevenir e restabelecer de um modo harmônico a saúde, é insuficiente. Portanto ambas as medicinas têm que ser complementares e os enfoques da cura e a enfermidade devem conviver.

A medicina natural tem efeitos secundários?

A princípio não. Mas como ocorre na própria natureza, pode haver plantas e substâncias que possam ser nocivas em determinados casos. Certamente o naturopata deve conhecer quais plantas ou substâncias são suscetíveis de criar algum tipo de patologia.

Você acredita que a civilização atual tem se afastado da natureza?

Isto é evidente. Uma prova disto é que há muitas crianças que não conhecem os animais que eu ou outras crianças de minha idade conheciam em minha época. E ademais, o isolamento das cidades, o tecido dos vestidos com fibras artificiais, dos sapatos com solas sintética, etc., tem isolado as pessoas da radiação terrestre, provocando numerosas enfermidades e o enfraquecimento de nossa raça. Dizem que vivemos mais anos e as enfermidades têm se erradicado. Não é verdade, e isto se vê claramente com as epidemias generalizadas. Cada vez há mais pessoas gripadas, cada vez há mais enfermos, e os hospitais estão saturados. Aí está justamente o aporte da naturopatia, não se esqueçam de nossa mãe terra e a nossa mãe natureza, e ser ecologistas em ação. E não só ecologistas no sentido geral, com a natureza, e sim ecologistas em nosso interior. Não podemos continuar colocando em nosso corpo tantos alimentos artificiais, esquecendo de adquirir alimentos frescos e saudáveis. Por outro lado, o cultivo de maçãs, laranjas, hortaliças, apresenta cada vez pior qualidade. Assim, é muito promissor que a agricultura ecológica se desenvolva em maior nível, assim como as terapias naturais.

Que referência tem nossos leitores para formarem-se a nível profissional em naturopatia?

As referências são de estabelecimentos privados. Podem se formar com estudos de dois, três ou quatro anos mediante diversas escolas que existem em nosso país. Aqueles que não podem assistir às aulas podem realizar a sua formação à distância, mas é sempre recomendado que assistam a seminários presenciais. Nós em Cea Nature realizamos cursos a distância e cursos presenciais em Valença. E eu dirijo os cursos à distância de CCC de Naturopatia em nível nacional, realizando seminários pelas cidades mais importantes de nosso país.

Em que situação legal se encontra esta profissão?

Hoje em dia existe um vazio legal, já que temos o reconhecimento oficial da profissão de naturopatia, mas se encontra na mesma situação que outras profissões que não estão regulamentadas academicamente, mas estão autorizadas e legalizadas. Assim, qualquer cidadão pode se converter em osteopata, quiropata, acupunturista ou naturopata, mas não pode aplicar seus ensinamentos em um hospital público ou se formar através da universidade.

Em outra ordem de coisas: que nível de assistência se dá na Espanha a este tipo de consulta?

Não existe uma estatística totalmente confiável, mas existem indícios de que 15 a 35-40% da população recorre habitualmente a uma consulta naturista ou de terapias complementárias e quase 80 ou 90% das pessoas alguma vez assistiu a esse tipo de terapias.

O senhor acredita que é possível prevenir enfermidades mudando determinados hábitos de vida?

Certamente. Este é um dos princípios fundamentais da naturopatia, posto que quando eu como em excesso ou como alimentos que não devo, posso ficar enfermo. Assim, pois, a prevenção é muito importante e fundamental do ponto de vista da cura natural.

Em que tipos de enfermidade a naturopatia é mais eficaz?

A naturopatia é mais eficaz nas enfermidades crônicas. Nas enfermidades que os tratamentos convencionais fracassaram. E é mais eficaz porque, como regenera o organismo, este pode por fim solucionar seu problema e melhorar, já que a medicina alopática administra muitos medicamentos, mas não melhora a saúde de maneira integral.

Em Córdoba o senhor proferiu umas conferências sobre iridologia e reflexologia podal. Por quê?

Escolhi este tema porque considero que um aspecto importante e pouco conhecido da naturopatia é o diagnóstico. E considerei que através da íris e da terapia reflexa podal, o naturopata e qualquer profissional da saúde tem instrumentos técnicos e de grande precisão que podem ajudar a compreender o que está ocorrendo no organismo do enfermo.

Posteriormente o senhor fez outra conferência sobre terapia floral do Dr. Bach

Através desta conferência quis demonstrar que não só curamos enfermidades de tipo físico, como reumatismos, artroses. E sim que hoje em dia um naturopata pode curar uma depressão, uma ansiedade, um xixi na cama; que tradicionalmente não tem sido próprios da medicina natural.

Como é possível que as flores possam produzir efeitos terapêuticos?

A explicação de porque as flores podem produzir efeitos terapêuticos se fundamenta em que o mundo vegetal está ainda por ser descoberto. Por exemplo, há plantas na Amazônia que produzem efeitos surpreendentes na psique, e se as plantas produzem esses efeitos também podem curar ou reproduzir a patologia que tenha a pessoa. Em concreto, na terapia floral, ao dissolver as folhas das flores em uma solução de água pura expostas ao sol, se produz uma espécie de infusão solar, ficando esta água impregnada das características ou efeitos psíquicos, anímicos ou emocionais em função da flor que se trata. Há por exemplo, uma planta que se chama Mimulus que pode curar pouco a pouco o medo de falar em público, ou outra planta que é a Genciana que pode curar ou ajudar a reconduzir uma depressão exógena causada por padecimento ou trauma de tipo exterior. Tradicionalmente em Valência, se tem dado essência de azahar para aquelas pessoas que acabavam de sofrer um desgosto, fato que nos indica que estes remédios têm funcionado há séculos e que não estamos descobrindo nada.

Em sua opinião qual é a maior enfermidade do mundo atual?

A meu ver é o egoísmo. O terrível egoísmo e materialismo que tem impregnado nossa sociedade a nível social, familiar, laboral e de todo o tipo. Para ganhar dinheiro as pessoas são capazes de passar por cima dos demais. As pessoas não levam em conta a opinião dos outros, não valorizamos o interesse alheio. Porém, em civilizações anteriores, como a cultura maia e inclusive seus irmãos tão distantes, os nossos próprios avós, tinham outros princípios nos quais se dava uma grande consideração aos demais. A valorização do “tu” se perdeu. E só se vive o “eu”. E isto para mim é a mais grave enfermidade que sofre a humanidade.

O que resgata da história para a aplicação atual na naturopatia?

Resgataria da história o culto à saúde, e a harmonia do corpo e do espírito que tinha a civilização grega, ateniense, e que acreditou numa formosa civilização da qual logo os romanos tomaram a parte que lhes interessou e esqueceram a outra parte para realizar-se com o mundo, com o qual destruíram os efeitos benéficos da civilização helênica. E também resgataria os hospitais hindus, a medicina ayurivédica. Não esqueço tampouco da medicina tibetana, que trata a alma e o espírito e que ainda estamos a anos luz de entendê-la e menos ainda de praticá-la.

Por último, qual seria sua visão idealista de um hospital?

A de um hospital do qual ninguém quisesse ir. Normalmente quando entramos em um hospital, o que queremos é logo sair dali, para não adoecer, para não ver as misérias, as tristezas e as coisas tão mal feitas que se realizam nos hospitais. Em meu hospital ideal o enfermo estaria desfrutando do período em que estivesse ali e certamente, a família participaria neste espetáculo maravilhoso de regeneração, do corpo, a alma e o espírito.

Manuel, muito obrigado por sua atenção.

Antonio Manuel Cantos Prats

Co-responsável da Esfinge em Córdoba

Autor

Revista Esfinge