Sinceramente, após ver a primeira parte todos imaginamos que a seqüência é, como na maioria dos casos, a continuação de algo não tão bem feito. No entanto, a grande campanha de publicidade e os recordes de bilheterias nos EUA indicam que neste caso isto não ocorre. A causa do grande êxito é uma sábia combinação de humor, fantasia e uma mudança na dinâmica normal dos filmes de animação, que sempre estão orientados ao público infantil de uma forma que aborrece aos mais velhos. Neste caso, reunindo os elementos próprios do gênero, como a transmissão para as crianças de valores clássicos (a solidariedade, amizade, honra e sobretudo o valor do coração em relação às aparências) através de personagens íntimos para as crianças, temos também uma maturidade lógica na história que faz com que as salas de cinema fiquem cheias também com o público adulto. Se no primeiro filme poderíamos falar de uma versão moderna do mito da Bela e da Fera, mas muito simples e um tanto quanto orientada para o riso fácil, agora temos um roteiro bastante interessante e a incorporação de novos personagens à história, o que amplia de maneira espetacular o cenário. Assim, cabe destacar acima dos demais o esplêndido personagem do Gato de Botas, dublado por Antônio Bandeiras, que delicia a todos pelo tratamento genial que dá ao personagem.

Quanto aos elementos ambientais, efetivamente também há uma melhora em quanto à música, decoração, etc. Digamos que aconteceu um crescimento de forma e expressão em relação ao primeiro filme.

Outro ponto que não podemos deixar de mencionar é o inegável e esmagador êxito que sempre tem a reatualização dos velhos mitos em uma nova forma que os traga ao mundo. Este é um fenômeno que vem se repetindo e nos indica que efetivamente o ser humano guarda uma memória antiga que desperta em contato com a linguagem simbólica. Todos sabemos que os clássicos contos de fadas têm uma intensidade e profundidade simbólica que lhes dá uma aura mágica e misteriosa. E aqui temos mais um exemplo de como o uso destes elementos míticos, as mesmas histórias de sempre, voltam a lotar as salas de cinema. Shreck é um ogro, é verde e feio, mas tem um coração de herói que o leva a resgatar sempre a sua dama, que também é capaz de reconhecer o coração de um valente além das circunstâncias que tentam enganá-la ou confundi-la por meio de feitiços e sortilégios.

O único ponto fraco da história, presente sobretudo no primeiro filme e bastante diluído no segundo, é a necessidade de aproximar-se do público por meio do riso fácil e um pouco grosseiro. No entanto, na segunda parte aparece só como reminiscência ou traço da identidade do filme, mas não como motor da ação humorística, melhorando o roteiro e elevando-se acima da mediocridade.

E por último reforçamos que não se trata de um filme somente para crianças, mas também para adultos. É inegável que o bom humor e o sorriso nos rejuvenescem por dentro e por fora. Assim, quando vejamos este filme, não deixemos de sair do cinema mais entusiasmados, risonhos e até um pouco mais travessos.

Ficha técnica

Estados Unidos – 2004

Título original: Shrek 2

Direção: Andrew Adamson e Kelly Asbury

Roteirista: Wilima Steig e J. David Stem

Direção artística: Steven Gordon e John Stevenson

Ficha artística

Vozes de Mike Mayers (Shrek), Eddie Murphy (Asno), Cameron Díaz (Princesa Fiona), John Cleese (Rey Harold), Julie Andrews (Rainha Lílian), Antonio Banderas (o gato de botas) e Rupert Everett (O príncipe azul).

Autor

Revista Esfinge