Só há três coisas dignas de romper o silêncio, segundo Amado Nervo.

A música

A poesia

O amor

Se levássemos em conta aquele que disse que só disséssemos alguma coisa depois de comprovar com certeza de que foi algo bom, justo, belo, útil e necessário, então quem se atreveria a abrir a boca?

Ainda sem abri-la, quanta conversa inútil existe em nosso interior constantemente? Com quantas linguagens fala o nosso ser ancestral, não propriamente humano? Quantos existem dentro de nós que falam constantemente avocando serem nós, falando em nosso nome? Quanta gente pula dentro de nós, falando sem nossa permissão?

Porque se poderia pensar que só falamos com a partir da nossa razão, a partir da nossa mente… Mas por pouco que observemos, constataremos que falamos a partir de muitos lugares diferentes.

Nosso corpo fala: tenho sede, tenho fome, estou cansado, beberia uma cervejinha gelada, quero ir à praia, esta noite saio… e todos os etcéteras que facilmente se poderão agregar.

Fala nossa psiquê: estou irritado, estou nervoso, estou chateado, estou apaixonado, estou abatido, estou entediado, estou aborrecido, estou encantado, estou fascinado, estou passando bem, estou passado mal. Como estou? Como não estou?

Fala nossa mente comum: sou maravilhoso, sou genial, sou um desastre, não tenho remédio, somos amigos, somos inimigos, tenho muitas coisas para fazer, não tenho nada para fazer, gostaria de saber o que pensam de mim, tocar piano, fazer uma viagem…

E quem não fala? Pois evidentemente entre a algazarra, ainda que alguém falasse, não o escutaríamos. E certamente alguém fala. Só que não podemos escutar. Há muito ruído. E os que falam sempre o fazem em voz baixa. Por isso, para escutar é preciso absoluto silêncio.

E quem é capaz de calar?

Autor

Revista Esfinge