Por Delia Steinberg Guzmán

É fácil afirmar que as leis da vida se desenvolvem harmoniosamente por acaso, embora seja mais difícil acreditar, especialmente neste início de milênio em que a ciência alcança abordagens antes reservadas à metafísica. Então, vamos nos perguntar novamente: qual é o sentido da vida?

A evolução responde, em princípio, às perguntas mais simples sobre a razão da vida e, consequentemente, a razão da nossa própria existência, quem somos e o que fazemos no mundo.

Poder-se-ia pensar que todo o cosmos é fruto de um grande acaso. Mas, para a mente racional, é absurdo admitir que a casualidade pudesse forjar tal imensidão harmônica por simples acaso. A investigação permanente e a descoberta das Leis da Natureza mostram-nos, pelo contrário, que tudo obedece a uma ordem espantosa e, que quanto mais aprofundamos, mais portas se abrem para uma Inteligência Suprema – para lhe nomearmos de alguma forma – que é o princípio e a essência de tudo o que existe.

O universo segue um curso. Dirige-se a um objetivo mesmo que não o entendamos, porque talvez esse objetivo exceda a capacidade de nossa razão. E o mesmo acontece com os seres humanos: há um destino, não como uma predeterminação fixa, mas como uma meta que dá sentido à vida, que nos permite dispor de uma certa liberdade para seguir um caminho ascendente e essa mesma liberdade para corrigir nossos erros, avançar lenta ou rapidamente, e até mesmo parar em aparente imobilidade.

A evolução é movimento permanente e, como tal, tem um propósito. Chamamos isso de finalidade “ascendente”, mesmo que às vezes pareça que estamos retrocedendo. Mas, o mesmo acontece com uma espiral vertical de voltas inclinadas em torno de um eixo, que pode produzir a aparência visual de descida em algumas de suas seções, embora na realidade desça para voltar a subir. Se o ser humano fosse o ápice de todas as conquistas, não faria sentido falar em evolução. Mas também não faz sentido pensar que o ser humano constitui uma perfeição completa e que não lhe resta nada para aprender ou avançar. Se não somos perfeitos e percebemos isso, não seria muito cruel se não houvesse a possibilidade de alcançar aquela perfeição que concebemos distante, mas possível? Isso é evolução.

A vida permanece estática? Não. Vemos como as formas mudam continuamente e só poderíamos conceber a evolução do ponto de vista materialista, baseando-nos na progressão das espécies e na modificação qualitativa dos corpos. Mas um corpo vazio só teria como finalidade sua própria persistência e a multiplicação de sua espécie.

Os seres humanos percebem e querem algo mais. Gostamos de transformar uma pedra bruta em uma pedra preciosa, extraindo a “alma” de sua forma. Convivemos com o reino vegetal, derramando nossos sentimentos na terra e nas sementes e descobrindo com admiração a influência que nossa mente exerce em seu crescimento e beleza. Tomamos os animais sob nossos cuidados e os transformamos em “domésticos” conversando com eles como se fossem tão ou mais inteligentes que nós; dizemos a eles o que talvez nunca confiaríamos nem aos melhores amigos.

E a vida humana? Procuramos constantemente as causas do que nos rodeia e do que nos acontece; sabemos que tudo pode ser melhor do que é; imaginamo-nos mais experientes e bons, mais sábios e mais justos. Que valor teriam esses arquétipos se não houvesse possibilidade de realizá-los? Isso é evolução.

Só a estagnação, a falta de visão e esperança, nos imobiliza e nos faz acreditar que todos são assim. Os apegos também nos imobilizam porque nos prendem a coisas que não queremos perder. Assim, a evolução é dificultada pela quantidade de supostos bens que arrastamos em nosso caminho. No entanto, com uma carga pesada ou não, a evolução não deixa de estar presente. Certamente não podemos viver sem posses, mas deve-se abrir um espaço importante para as posses interiores, para o desenvolvimento da consciência, da força interior, da autoconfiança, para a necessidade de progredir moral e espiritualmente, para sermos pessoas melhores e úteis aos outros.

Esses valores internos, independentemente de nossa aparência formal, nos dão o padrão de nossa evolução e, curiosamente, modificam as formas de acordo com a beleza da alma. Olhos gentis e compreensivos são mais atraentes do que um corpo atlético… pelo menos para aqueles que apreciam um amigo fiel e bom conselheiro do que uma figura esplêndida que dura enquanto os anos não a deterioram.

A mudança evolutiva mais importante no ser humano está na consciência.

Deixar o tempo passar não é o mesmo que vivê-lo intensamente; para o relógio é o mesmo, para a consciência não é.

Saber não é o mesmo que não saber; a ignorância nos leva a cometer erros e muitas vezes leva à depressão; a sabedoria nos conecta simpaticamente com outros seres e com a Natureza em geral.

Ouvir sons não é o mesmo que entender palavras; podemos ficar surdos, mas seremos capazes de compreender as ideias que as palavras contêm sem nenhum som que as materialize.

Ver com os olhos não é o mesmo que ver com a mente; os olhos podem ficar embotados, mas a mente pode ficar mais lúcida e afiada.

A consciência está se expandindo e quanto mais a elevamos em busca de grandes causas e grandes arquétipos, mais ela se desenvolverá. Seremos não apenas alguém que pede e absorve, mas alguém que abre e dá. Saberemos, pela medida da nossa generosidade, que demos um passo em frente na evolução. Por quê? Porque tudo no universo é abertura, expansão e transmissão, desde a luz e o calor do Sol até a inteligência que nos inunda e nos faz tocar os limites do infinito com nosso relativamente pouco entendimento.

É simples assim: Consciência é Evolução.

Autor

Revista Esfinge