Creio em ti, alma minha; meu outro eu não deve rebaixar-se ante ti

e tu não te deves rebaixar ante ele.

Entrega-te comigo ao ócio sobre a relva e desembaraça a tua garganta de obstáculos.

Não desejo palavras, música nem ritmo, costumes nem leituras. Nem ainda as melhores.

Só me agrada o arrulho, o sussurro da tua voz suave.

Tenho presente a ocasião em que nos deitamos. Era uma transparente manhã de verão.

Como apoiaste tua cabeça sobre meu colo; como docemente te voltaste para mim,

e me abriste a camisa sobre o peito para descer tua língua até

me chegar ao coração desnudo.

E como subiste até me tocar a barba e baixaste até chegar aos pés.

Com rapidez elevaram-se e estenderam-se em torno de mim a paz e o conhecimento

que estão mais além de toda discussão na Terra.

E sei que a mão de Deus é minha própria promessa

E sei que o espírito de Deus, irmão é, do meu

e que todos os homens que existiram são também meus irmãos

e as mulheres, minhas irmãs e amantes,

e que um dos pilares da criação é o amor

e que não têm fim as folhas dos campos, rígidas ou lânguidas

e que tampouco têm as formigas morenas em seus pequenos poços subterrâneos

nem as crostas mofadas da cerca, as pedras amontoadas, o sabugueiro, a grama, e a erva

daninha.

Física para poetas

A busca da unificação das forças fundamentais sempre foi um dos objetivos da física dos últimos séculos. Esse processo iniciado por Newton com a força da gravitação e por Maxwell ao unir eletricidade e magnetismo foi ampliado com as forças nucleares fortes e fracas. Cientistas do porte de Einstein dedicaram grande parte de seus esforços tentando unir a gravitação e o eletromagnetismo, sem obter resultados evidentes.

Muitas vezes nesses esforços são descobertos aspectos da natureza que não eram esperados e que possivelmente não foram buscados. Nessa situação, encontrou-se Glashow quando propôs uma grande unificação entre as forças eletrodébeis e as forças fortes.

Sua teoria ajusta-se satisfatoriamente com fótons, quarks, léptons e outras partículas elementares que ocorrem em nosso universo. Mas o mais espetacular de sua teoria era que o próton, núcleo do átomo de hidrogênio, e peça fundamental do universo, era instável e se desintegrava.

A vida média do próton pode ser da ordem de 1030 anos, enquanto a vida estimada do universo estaria em torno de 1010 anos. Portanto, por sorte, nos achamos na maravilhosa situação de que os prótons que formam nosso corpo, as paredes de nossa casa, o carro de nosso pai e o pão que compramos na padaria, ainda não se desintegraram.

A instabilidade do próton era um prognóstico tão interessante que desencadeou uma corrida em busca da sua comprovação experimental. Esta poderia ser verdadeiramente desesperadora e improvável na vida de qualquer pesquisador. O que se devia fazer era dispor de uma grande quantidade de matéria que pudesse conter um elevado número de prótons na ordem de 1030, para que a probabilidade de que alguns deles se desintegrassem num tempo razoável não fosse desprezível.

Mas como tê-los tão controlados para poder registrar o sucesso desejado? Não se trata de uma tarefa fácil, já que qualquer contaminação ou qualquer reação provocada por um raio cósmico que incida sobre a grande massa de matéria, poderia causar um sinal parecido. Para evitar isso, é necessário trabalhar com algumas toneladas de matéria pura, o que não é simples, e colocá-la a grande profundidade para que a camada terrestre que a separe da superfície seja suficiente para absorver de maneira eficiente qualquer contaminação por raios cósmicos (com exceção dos neutrinos, para os quais a terra é quase transparente).

Apesar de todas essas dificuldades, foram realizadas diversas experiências em diferentes partes do mundo, utilizando cavidades em minas ou túneis sob montanhas. Todos eles apresentaram resultados infrutíferos; e até hoje não se registrou a desintegração de nenhum próton. E aqui há uma das grandezas de nosso Universo e da Verdade: as coisas são como são, independentemente de que nós o saibamos ou possamos demonstrá-lo! Por dedução, não se pode afirmar que o próton seja absolutamente estável!

Sara Ortiz Reus

Autor

Revista Esfinge