Do mesmo modo que caçoar do diferente atrasa a compreensão, caçoar do novo atrasa o progresso. Não esqueçamos que foram recebidos com desdém o telefone (por conseguinte a transmissão sem fio das mensagens), os voos pilotados e as viagens espaciais. O hábito de caçoar das ideias novas também tem causado consequências desfavoráveis sobre a saúde pública.

Numerosas descobertas no campo da Medicina, que mais tarde se revelaram fundamentais foram recebidas com escárnio. As técnicas de vacinação contra as doenças infecciosas devem ter sido a mais significativa descoberta médica de todas as épocas; mesmo assim, a vacinação contra a varíola foi ridicularizada em historietas cômicas durante muito tempo depois de sua introdução. Muitos anexaram à comedia uma função socialmente terapêutica. O maior partidário desse ponto de vista foi o filósofo francês Henry Bergson.

Ele pensava que a existência de uma ordem social depende de que seus membros mantenham em suas opiniões e condutas uma atitude flexível e vital perante a vida. Acreditavam que, em última instância, o que nos faz rir são as situações em que alguém se tornou inflexível, até o ponto de perder sua elasticidade social, quando em lugar da resposta vital perante a vida, o tomou uma rigidez mecânica. O riso, institucionalizado no trabalho dos autores cômicos, tem a função social de dirigir nossa atenção em direção à conduta rígida em nós e nos demais, e corrigir esta conduta antes que possa ser prejudicial.

Na Grã-Bretanha, um grupo de cientistas behavioristas realizou uma experiência idealizada para ajudá-los a determinar se a alegria promove ou não a harmonia social. 36 por Luz Ramírez Sociedade e humor criativo F ilosofia Planejaram construir o que denominaram “entorno humorístico”. Os resultados revelaram que a visita ao entorno resultava, em geral, muito efetiva para elevar o espírito das pessoas. Os investigadores chegaram à conclusão de que é possível que alguns “entornos humorísticos” similares, poderiam ter um valor social para as comunidades e um meio efetivo para nos unir novamente.

Esses feitos e descobertas sugerem a possibilidade de que, em última instância, nenhuma sociedade será verdadeiramente sadia e bem ordenada se não for capaz de rir de si mesma. Muitas sociedades tacitamente reconheceram o valor da alegria periódica como forma de liberação das tensões criadas pelas limitações sociais. Um exemplo disso é, até certo ponto, as férias e as festas, durante as quais se relaxam as proibições de rotina e se estimula o riso. Em algumas tribos indígenas da América, esta liberação periódica das inibições era presidida pelo palhaço da tribo. O trabalho era considerado com profundo respeito, e sancionado por uma tradição antiquíssima. A pessoa que o executava era recebida com grande veneração.

Autor

Editor Revista Esfinge