Baixe o artigo em PDF e leia em seu Smartphone – 01-18

Era ateniense e não apenas por nascimento e sim por verdadeira convicção. Viveu, em sua infância, a Atenas do esplendor, o século de Péricles. Atenas era então o lugar de encontro dos mais brilhantes pensadores da época. Grandes escultores, como Fídias, e arquitetos e pintores de mérito a haviam enchido de beleza. Depois das guerras contra os invasores persas, Atenas se tornou a cabeça das cidades-estado da Hélade.

Viverá também a época de decadência, as miseráveis guerras contra Esparta, as revoltas populares, a perda do domínio marítimo. Seu papel em todo esse processo será sempre ativo, o vemos combatendo bravamente quando era necessário e participará ativamente no Aerópago[1]. Porém sempre brilhará no fundo, durante toda a sua vida, o desejo de ser filósofo.

Sócrates fez da educação um verdadeiro apostolado, para ele nenhuma outra função era superior a essa e tratou realiza-la com a maior fidelidade.

Tudo o que preocupava aos homens comuns foi sacrificado por Sócrates com o objetivo de poder educar ao maior número possível de seres humanos no sentido de dever e a justiça.

Filho de um escultor, Sofronisco e da parteira Fenaretes, pega da arte de sua mãe a inspiração para seu sistema de educação, a Maiêutica é a arte de parir. Sócrates procurava produzir em seus interlocutores o alumbramento da ideia, sua saída ao exterior desde dentro de si mesmo. Para isso desenvolverá o maravilhoso diálogo conhecido desde então com o nome de socrático, um jogo de perguntas e respostas logicamente encadeadas que procuram despertar aos homens de sua letargia de pequenas vaidades, ódios, medos e orgulhos, mostrando-lhes o mundo de grandes valores.

“Eu só sei que nada sei”, foi a resposta do Oráculo da pitonisa de Delfos, quando o catalogou como o mais sábio entre os homens de seu tempo. Então ele chegou à conclusão de que o Oráculo estava certo, uma vez que na realidade ninguém sabia nada sobre nada, nem ele nem os outros, mas os outros não estavam cientes de sua ignorância. Aí estava a diferença.

Temos a imagem de um Sócrates simples, de boas maneiras, muito preocupado com a moral, com muita dedicação à sua vocação como mestre que é representado discutindo com sua esposa Xantipa, que o censurou por não se envolver em atividades mais lucrativas. Um caminhante incansável nas ruas e praças públicas da velha Atenas, ele criticou abertamente os sofistas pela falta de amor pela Sabedoria que os levou a prostituí-la.

Sócrates endossa o antigo aforismo de Delfos: “Conhece a si mesmo e conhecerás a Natureza e os deuses”. Não há sabedoria sem esse conhecimento e o ascetismo que ele traz.

No final de sua vida, injustamente acusado de corromper a juventude e da heresia religiosa, e condenado a beber a cicuta, ele brindará o exemplo de toda uma vida dedicada à superação e ao conhecimento interior.

Quando perguntado por que ele aceitou sua sentença e sua morte se elas eram injustas, ele ainda conseguiu responder que é melhor suportar uma injustiça do que cometê-la.

Julián Palomares

 

[1] Areópago era a parte nordeste da Acrópole em Atenas e também o nome do próprio conselho que ali se reunia. Além de supremo tribunal, o conselho também cuidou de assuntos como educação e ciência por algum tempo.

Autor

Hinaldo Breguez