Escrito por Hinaldo Breguez

A natureza guarda muitos segredos. Verdades que pouco a pouco conseguimos ter acesso na medida em que conquistamos uma postura mais madura na vida e desenvolvemos um pouco mais de estabilidade. Como se o equilíbrio que conseguimos cultivar dentro de nós permitisse um diálogo com toda a harmonia desta natureza fora de nós.

Mas para acessar esse conhecimento da natureza precisamos de nos afastar do império da lógica e do materialismo. Temos que nos transportar para um outro cenário. Um ambiente sagrado e interior. Entendendo que a realidade material sempre estará acompanhada de uma realidade não material.

Aceitar essa necessidade de busca é um grande exercício de confiança, que pede para deixarmos de ser anônimos com o intuito de descobrir a nossa verdadeira identidade. Isso forma parte do acervo individual de cada ser humano. A busca por esta distinção que procura responder quem você realmente é.

Podemos então treinar o nosso olhar e aprender com tudo que está a nossa volta. Observe por exemplo o sol, e veja como ele pode ser um extraordinário modelo de obediência e confiança. Toda a vida do nosso sistema se apoia nele. Um símbolo de responsabilidade e compromisso. Um exemplo de perseverança e continuidade por não desistir de sustentar toda a vida que lhe cabe.

No entanto a natureza com os seus segredos nos revela algo ainda mais curioso. Nenhum ser humano consegue viver e se realizar somente com a presença desse sol que nos ilumina no céu. Esse sol externo é centro de um sistema, é modelo, aquece e ilumina. Gera condições para que a vida se manifeste em níveis de complexidade extraordinários. Ele faz muito, mas ainda assim não é capaz de fazer tudo. Cada um de nós precisa completar o trabalho e ativar um sistema solar dentro de si.

Um dos sintomas da falta desse sol interior ativo e brilhante é a desconfiança e o excesso de dúvida. Na filosofia assim como na vida, podemos utilizar a dúvida como um ponto de partida, mas nunca como um ponto de permanência. Pois a dúvida é uma terra seca onde nada é capaz de crescer além do vazio e do medo. E não conseguimos preencher um vazio interno com coisas externas.

Em dezembro quando o sol para nós no hemisfério sul fica ainda mais forte, é comum observar a necessidade de muitos em viajar para se afastar dos problemas, descansar um pouco e se sentir mais próximo do sol em alguma praia. A questão é que para descansar verdadeiramente não é suficiente mudar uma estação do ano ou se deslocar fisicamente para o litoral. Nós carregamos as nossas dúvidas e preocupações para todos os lugares aonde vamos.

Podemos nos valer desse momento especial do ano conhecido como solstício de verão, para extrair algumas chaves simbólicas capazes de gerar mudanças reais na nossa vida. É um momento em que a natureza se encontra mais ativa e cheia de vitalidade, onde também nos é apresentado o dia mais longo do ano. A vitalidade do sol oferece uma oportunidade de renovação da terra e do ser humano.

Nas idades da vida de uma pessoa seria o equivalente a fase adulta, que aproveita das forças do sol para fecundar o seu coração com a inspiração de grandes ideais de bondade e justiça. É o momento para se mostrar mais vivo do que nunca, assumindo o seu destino frente a vida independente das adversidades. Sonhando e construindo um mundo novo e melhor a partir de atitudes novas e melhores em um ano novo que está próximo de começar.

Na realidade essa necessidade de buscar novos ares no verão guarda um significado mais profundo que é a busca de luz, clareza e sentido. São definições que fazem falta na vida de todo ser humano, independente de onde ou de como vive. Não há realização em uma vida sem sentido.

Enquanto não ativarmos o nosso sol interior não vamos conseguir acompanhar o ritmo da natureza, renovar nossas energias e fazer surgir uma nova estação dentro de nós. O sol também precisa nascer dentro de você.

Autor

Revista Esfinge