Escrito por Flavio Bettio
Ao longo da história, o ser humano rende homenagens ao chamado “Astro rei”. Uma estrela, como qualquer outra, mas que, para nós, é a mais especial. O Sol. Sem ele, a vida no nosso planeta, assim como nós a conhecemos, não existiria. É a fonte de energia que anima, direta ou indiretamente, a todos os seres vivos. Não causa estranhamento, então, que diferentes culturas ao longo da história tenham considerado o sol como a “personificação” de Deus.
O Sol e o Sistema Solar
O Sol (a palavra deriva do latim solis) é uma estrela que se encontra no centro do Sistema Solar e constitui a maior fonte de energia eletromagnética do nosso sistema planetário. A Terra e outros corpos celestes (incluindo asteroides, cometas e poeira) orbitam ao redor do Sol. A distância média do Sol e a Terra é de aproximadamente 149.600.000 quilômetros e a sua luz percorre essa distância em 8 minutos e 19 segundos.
Na Terra, a energia emitida pelo Sol é aproveitada pelos seres fotossintéticos, que constituem a base da cadeia alimentar, sendo assim a principal fonte de energia para a vida. Ele também gera a energia que mantêm em funcionamento os processos climáticos. Os cientistas acreditam que o Sol se formou a 4.650 milhões de anos atrás e possui combustível suficiente para mais 5.500 milhões. Depois, começará a ficar cada vez maior, até tornar-se uma gigante vermelha. Finalmente, ela afundará no seu próprio peso e se tornará uma anã branca, que pode demorar um bilhão de anos para esfriar.
O sol formou-se a partir de nuvens de gás e poeira que continham resíduos de gerações anteriores de estrelas. Desse gás surgiram, mais tarde, os planetas, asteroides e cometas do Sistema Solar. Na parte interna do Sol se produzem reações de fusão nas quais os átomos de hidrogênio se transformam em hélio, produzindo a energia que irradia. Atualmente, o sol encontra-se em plena sequência principal, etapa na qual continuará por mais uns 5.000 milhões de anos, queimando hidrogênio de maneira estável.
O Sistema Solar é o sistema planetário no qual se encontra o Sol e nosso planeta, a Terra. Pertence à galáxia chamada Via Láctea e se encontra na parte conhecida como Braço de Órion, a uns 28.000 anos-luz do centro da galáxia. Está formado por uma única estrela, o Sol, do qual vem o nome. Oito planetas orbitam ao seu redor: Mercúrio, Vênus, a Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno, e outros corpos celestes menores: planetas anões (como Plutão, por exemplo), asteroides, satélites naturais, cometas, entre outros.
Os Solstícios
Solstício é um termo astronômico relacionado com a posição do Sol no equador celeste. O nome vem do latim solstitium (sol quieto).
Os solstícios são os momentos do ano nos quais o Sol alcança sua maior ou menor altura aparente no céu, e a duração do dia e da noite são as maiores do ano, respectivamente. Astronomicamente, os solstícios são os momentos nos quais o Sol alcança a sua máxima declinação norte (+23º 27’) ou sul (?23º 27’) com relação ao equador terrestre.
No solstício de verão do hemisfério Norte, o Sol alcança o zênite ao meio-dia sobre o Trópico de Câncer e, no solstício de inverno, alcança o zênite ao meio-dia sobre o Trópico de Capricórnio. Ocorre duas vezes no ano: no dia 20 ou 21 de junho, e no dia 21 ou 22 de dezembro de cada ano.
No solstício de verão do hemisfério Sul, o Sol alcança o zênite ao meio-dia sobre o Trópico de Capricórnio, e no solstício de inverno, alcança o zênite ao meio-dia sobre o Trópico de Câncer. Ocorre duas vezes no ano: no dia 20 ou 21 de dezembro, e no dia 21 ou 22 de junho de cada ano.
Ao longo do ano, a posição do sol vista da Terra se move para o Norte e o Sul. A existência dos solstícios é provocada pela inclinação do eixo da Terra sobre o plano da sua órbita. Nos dias de solstício, a longitude do dia e a latitude do Sol ao meio-dia são máximas (no solstício de verão) e mínimas (no solstício de inverno) comparadas com qualquer outro dia do ano.
Simbolismo dos Solstícios
Normalmente, identificamos o verão com ideias de luz, alegria, calor e fertilidade, enquanto associamos inverno com a escuridão, a tristeza, o feio e a esterilidade. Mas, na verdade, os dois solstícios possuem um aspecto simbólico totalmente oposto às ideias que trazem à nossa mente o verão e o inverno, pois, em um universo onde tudo é cíclico, quando se chega ao ponto máximo de alguma coisa, não há outra opção a não ser diminuir. E aquilo que chega ao seu ponto mínimo deve, por força, recomeçar a crescer. Por esse motivo, o solstício de verão aponta o momento de pico no qual o Sol, que atingiu seu máximo esplendor, deve começar a diminuir até o solstício de inverno, no qual, chegando ao mínimo de luz, começará a aumentar.
Cada início de verão, que no hemisfério norte coincide com o solstício de inverno, nos relembra do início do mundo. É por isso que muitas tradições no começo do ano a sociedade se regenera por meio de ritos de expulsão do mal e da recriação da ordem. A própria palavra rito é, por si só, significativa. Deriva do sânscrito, rta, que significa ordem, lei estabelecida pela divindade no momento da criação do universo.
Por meio do rito se repete o gesto primordial do deus criador. É um momento mágico onde o tempo para em um “eterno presente”, onde aquilo que foi, é e será, revive novamente. Assim, em cada rito, em cada celebração dos solstícios, estamos mesmo que inconscientemente, repetindo um ato cosmogônico e representando a eterna luta entre a luz e a escuridão, assim como já fizeram os homens e mulheres desde a origem dos tempos.
O significado estacional do solstício de inverno se manifesta na reversão da tendência de aumento das noites, e diminuição das horas do dia. Diferentes culturas definem isto de diversas maneiras, pois em algumas ocasiões considera-se que, astronomicamente, pode sinalizar o começo ou a metade do inverno no hemisfério. Inverno é uma palavra de significado subjetivo, pois não possui um começo ou meio que esteja cientificamente estabelecido.
Seu significado ou a interpretação deste evento variou nas diferentes culturas do mundo, mas a maioria delas o reconhece como um período de renovação e renascimento, o que leva a festivais, feiras, reuniões, rituais ou outras celebrações.
Pelo fato do solstício de inverno ser visto como uma inversão do retrocesso da presença do sol no céu, os conceitos de nascimento e reencarnação dos deuses solares são comuns e o uso de calendários cíclicos pelas distintas culturas, baseados no solstício de inverno, foi celebrado o renascimento do ano no que se refere à vida-morte-renascimento das divindades ou aos novos começos.
Talvez uma festividade relacionada com o solstício de inverno mais popular na atualidade seja o Natal. Historicamente, a data real do nascimento de Jesus Cristo é desconhecida. A data chegou a ser celebrada no dia 2 de janeiro, 28 de março, 19 de abril, 20 de maio, 29 de setembro, até ser estabelecida finalmente no dia 6 de janeiro. Posteriormente, no ano de 354, foi alterada para a festividade solar do solstício de inverno, dia 25 de dezembro, fazendo com que coincidisse com as festas saturnais. No fim destas, no dia 25 de dezembro, celebrava-se o nascimento do Sol – Natalis Solis Invictus (nascimento do sol invencível, Dia do Sol Invicto) – personificado no deus Mitra.
Efetivamente, no dia 25 de dezembro, celebrava-se entre os persas e, posteriormente em Roma, o nascimento de Mitra, divindade que também havia nascido em uma gruta, sobre um presépio. Diz-se que o deus Mitra “Ascendeu aos céus, onde mora; quando ele chamar, os mortos se levantarão da terra onde estão sepultados e serão julgados. Aqueles que, durante a sua vida, procuraram fazer o bem e viveram para isso, subirão ao Reino dos Céus. Mas os malignos e perversos descerão às Trevas” (Zend Avesta, cap.XIX).
Entre os assírios comemorava-se o nascimento de Adonis, no dia 25 de dezembro, assim como o de Tammuz, na Babilônia. Não é surpreendente, então, que nos tempos de São Jerônimo fosse construída a “Igreja do Natal de Belém” sobre um santuário de Adonis.
Também coincide com a data conhecido entre os egípcios como o “Nascimento de Infante Horus”. Era exposta perante as multidões uma imagem tirada do santuário para representar o nascimento da Luz e da Vida. Teria sido gestado no “Maem Misi”, o Sagrado Lugar, o Argha ou Arca, a Matriz do Mundo. Como descendente dos deuses e subjugador do mundo, cosmicamente simbolizava o Sol do Inverno.
Esta alegoria foi tomada pelos gregos, que também celebravam o nascimento de Dionisio ou Baco no dia 25 de dezembro, quando ele nasceu de uma Virgem, a Magna Mater.
Na mesma data, nasce entre os nórdicos o deus Freyr, filho de Odin e Friga. Freyr é o regente da luz celestial, em cuja honra se acendiam fogueiras e se distribuíam coroas de visco.
Na antiga Escandinávia, quando chegava a noite do dia 24, eram acesas fogueiras de Jul ou Yule. Essa festa era conhecida como Madraneght na língua saxã, e tinha como fundamento o nascimento do sol, igualmente como nas atigas lendas germânicas era cultuado Nornagesth e Helgi, também nascidos num dia 25 de dezembro. Nornagesth é visitado pelos Três Reis do Destino (Odin, Ohir e Loki), já Helgi é visitado pelos Três Irmãos Ferreiros, dos quais recebe presentes.
O festival do Solstício de Inverno ou o extremo de Inverno, Festival Dongzhi ou Tiji, é um dos mais importantes festivais celebrados na China e em outros países asiáticos, por volta do dia 21 de dezembro. Este período condiz com o momento em que o sol é mais fraco e a luz do dia dura menos. As origens deste festival relacionam-se ao Yin e Yang, ao equilíbrio e a harmonia do Cosmos. Após esta celebração, haverá dias com mais horas de luz natural e, portanto, um aumento da energia que flui.
No hemisfério sul encontramos o Inti Raymi ou a Festa do Sol. É uma cerimônia religiosa do Império Inca, honrando o deus sol Inti. Também marcou o solstício de inverno e um novo ano nos Andes do hemisfério sul. Uma cerimônia realizada pelos sacerdotes incas foi a vinculação do sol. Em Machu Picchu, ainda há uma grande coluna de pedra chamada Inti Huatana, que significa “mastro do sol” ou, literalmente, “para amarrar o sol”. Por volta de 1572, a Igreja Católica conseguiu eliminar todas as festas e cerimônias Inti. Desde 1944, uma representação teatral do Inti Raymi é feita em Sacsayhuamán no dia 24 de junho de todo ano, atraindo milhares de visitantes locais e turistas.
A noite de São João é uma festividade de origem muito antiga que costuma estar ligada a acender fogueiras e fogos. Ligada com as celebrações que celebravam a chegada do solstício de verão no hemisfério norte, cujo principal ritual era acender uma fogueira. A finalidade desse ritual era “dar mais força ao sol” que, a partir desses dias, ia se tornando mais “fraco” pois os dias iam ficando mais curtos, até o solstício de inverno. Simbolicamente, o fogo também possui uma função “purificadora” nas pessoas que o contemplavam. É celebrada em muitos locais da Europa, mas especialmente na Espanha, Portugal, as Ilhas Britânicas e os Países Nórdicos.
Não há dúvida que em muitos locais as celebrações atuais possuem uma conexão direta com as celebrações da antiguidade, ligadas ao solstício de verão, influenciadas pelos rituais pré-cristãos ou simplesmente vinculados aos ciclos da natureza.
A celebração do solstício e, portanto, do Sol, é uma forma de relembrar a importância do “Astro Rei” e seus ciclos nas nossas vidas. Um sol que, segundo afirmava Platão, é de certa forma a representação mais evidente da ideia da divindade e da ideia do bem.