por Miguel Ángel Antolínez

Falar da beleza é fácil e difícil ao mesmo tempo, porque todo mundo pode ver a beleza, porém muito pouca gente sabe o que realmente ela é. É um paradoxo: está em tudo e não está em nada, pois toda a criação é bela, a vida é bela, porém, essa beleza que vemos não é realmente a Beleza, mas reflexos ou manifestações da verdadeira Beleza.

A beleza está em tudo, porém, é necessário aprender a vê-la. Quando despertamos interiormente, podemos ver também a beleza interior e estaremos em melhores condições para viver em harmonia com nós mesmos, com os demais, e com tudo o que nos rodeia.

Quem nunca ficou extasiado alguma vez diante de um pôr do sol ou de um amanhecer? Quem nunca sentiu um profundo deleite escutando uma música especial que nos tocou o coração? Ou quem nunca admirou a beleza de um rosto? E assim poderíamos seguir citando formas de beleza; na realidade, infinitas, pois há beleza em tudo.

Falar da beleza é fácil e difícil ao mesmo tempo, porque todo mundo pode ver a beleza, porém muito pouca gente sabe o que realmente ela é. É um paradoxo: está em tudo e não está em nada, pois toda a criação é bela, a vida é bela, porém, essa beleza que vemos não é realmente a Beleza, mas reflexos ou manifestações da verdadeira Beleza.

Apesar de que o tema tenha sido tratado por muitíssimos pensadores e filósofos ao longo da história, tampouco há um acordo unânime sobre em quê consiste a beleza, nem sequer no Wikipedia. Partimos de uma dificuldade, e é a que cada pessoa percebe a beleza de uma maneira diferente; mais ainda, há maneiras diferentes de perceber a beleza segundo a época histórica, o tipo de cultura ou o lugar do planeta do qual se trata. Por exemplo, o conceito de beleza durante o românico medieval era muito diferente do conceito de beleza na Florença dos Médici, no Renascimento.

Isso quer dizer que algo belo causará diferente impressão, ou inclusive nenhuma impressão, a diferentes pessoas, podendo abrir-se o debate se algo é belo ou não. Portanto, podemos fazer duas perguntas chaves a respeito da beleza: como o ser humano percebe a beleza, e o que realmente é a beleza.

Como percebemos a beleza?

Nossos níveis cultural e educativo determinaram nosso acesso à beleza, desde a beleza física ou formal até a beleza mais intangível ou sutil.

Depende de como nos encontremos, depende de nossa educação ou nossa cultura e de nossa sensibilidade; nosso gosto estético vai se configurando pouco a pouco em nossa vida, com nossas leituras, nossas conversas, nossos interesses cotidianos etc.

O desenvolvimento de nosso potencial humano e nosso desenvolvimento interior necessariamente nos fará reconhecer a beleza; primeiro, uma beleza física ou formal, que podemos perceber com nossos cinco sentidos, e depois, uma beleza intangível, uma essência, que é a que a alma percebe.

Percebemos a beleza exterior com nossos olhos físicos, com nossos sentidos, mas também podemos ir aprendendo a olhar com os olhos da alma, para ir reconhecendo também a beleza interior, que às vezes não é tão evidente.

Encontramos a beleza interior nos pensamentos, nos sentimentos e na conduta do ser humano. Há beleza em um ato heroico ou em um ato de generosidade, há beleza quando se age conforme a virtude. E isso também é uma arte, é a arte de viver, porque requer aprendizagem, prática, dedicação…

A busca de satisfação é natural no ser humano, porém, da mesma forma que há prazeres para os sentidos, há também prazeres para a alma. E o que produz prazer para a alma? Tudo aquilo que o recorda sua origem celeste: o bom, o justo e o belo, que estão unidos.

E quando a beleza é percebida com a alma, em sua essência, o ser humano pode expressá-la de diferentes maneiras: no aspecto físico e visível, expressa-se como elegância; na conduta, expressa-se como cortesia; nas emoções e sentimentos, expressa-se como bondade de coração; e nas ideias, expressa-se como sabedoria.

Na medida em que se desperta essa sensibilidade ao belo, desenvolve-se um critério estético próprio. E é certo que a maioria das pessoas não o tem, mas simplesmente se deixam levar pela moda, ou pelo que se leva em um momento e lugar determinados. Isso se vê não somente no vestir, mas também no tipo de música que escutamos, a linguagem, a decoração etc. Ter critério próprio é ter liberdade de escolha, e isso requer conhecimento e despertar interior.

Quando se descobre a essência da beleza, essa beleza interior, então é mais fácil compreender a união da ética e da estética. Foi Kant que disse que a beleza é um símbolo moral. Porém, já desde a Antiguidade Clássica ambos os conceitos estavam unidos. O belo tem de ser bom e, ainda, justo e verdadeiro. E, portanto, a maldade estaria unida ao feio, ainda que isso se possa matizar, posto que no mundo manifestado não haja nada absoluto, pode-se falar de graus, quer dizer, entre o belo e o feio há muitos graus, da mesma forma que entre o branco e o preto há muitos cinzas.

O que é a beleza?

É uma Ideia ou Arquétipo que o artista busca, que desperta o amor e faz com que vibre nossa própria beleza interior.

O que cada um percebe é a beleza subjetiva, poderíamos dizer, porém, a beleza está aí, percebamos ou não. Como defini-la ou identifica-la?

Pode ser que o ponto de vista mais aceito seja o de Platão, sec. V a. C, considerado o teto ou o cume do pensamento ocidental, que em vários de seus diálogos trata o tema: Hípias Maior, Fedro e O banquete.

Segundo Platão, a beleza é uma Ideia, um Arquétipo, e em sua obra O banquete, vincula-a ao amor. O amor busca a beleza e leva a ela. Por isso não é casualidade que muitas deusas na mitologia unam amor e beleza, por exemplo, Afrodite na Grécia, que é a deusa do amor e da beleza, ou Vênus em Roma.

Essa beleza, como Ideia ou como ideal, é uma via de acesso à sabedoria à disposição do artista, que é quem busca a beleza e se esforça em plasmá-la em obras de arte, constituindo-se, assim, em um intermediário ou ponte entre o mundo inteligível e o mundo sensível, ou em outras palavras, o celeste e o terrestre, o divino e o humano.

Essa beleza, como Ideia ou arquétipo, é um princípio harmônico que forma parte da criação do universo. Aqui já entramos no campo da metafísica. E essa beleza é eterna. Não nasceu nem morrerá, e é a causa de vermos beleza refletida em corpos físicos, em objetos e em toda a Natureza.

Nós, os mortais comuns, não podemos contemplar diretamente essa Ideia de beleza, mas podemos sim observar como ela se manifesta na Natureza, qual pegada deixa no mundo. E os antigos já fizeram essa observação. Comprovou-se que, sempre que vemos beleza, cumpre-se uma série de normas, como: equilíbrio, proporção, harmonia e ordem. Equilíbrio, que é o balanço adequado entre pontos extremos. Proporção, a adequada relação entre as partes e o todo. Harmonia, o equilíbrio entre as proporções. E ordem, que é o oposto do caos, e supõe sujeição a leis e normas inteligentes.

Esses antigos encontraram ainda leis matemáticas surpreendentes que regem os cânones estéticos. Quer dizer, que se escreveu sobre gostos, e a beleza não é algo relativo ou arbitrário, mas que corresponde a uns cânones estéticos que ninguém inventou, mas que se comprova que estão presentes na Natureza. Uma dessas leis matemáticas descobertas é a conhecida como proporção áurea, divina proporção ou número de ouro.

Esses cânones estéticos também se aplicam ao ser humano, como vemos no famoso homem de Vitrúvio, desenhado por Leonardo da Vinci, que cumpre as medidas do número de ouro em seu tamanho completo, seu rosto e em todas suas partes. Ademais, vemos em duas posições, uma em forma de cruz, dentro de um quadrado, e outra em forma de aspa, dentro de um círculo. Portanto, essa imagem está querendo nos dizer que o ser humano participa das duas naturezas: a terrestre, simbolizada pelo quadrado, e a celeste, simbolizada com o círculo, e que tem condições de harmonizar ambas.

Compreendendo como se manifesta a beleza no mundo, estaremos em melhores condições de percebê-la. E na medida em que vamos despertando interiormente, percebemos mais. Essa beleza ressoa em nosso interior, faz vibrar nossa própria beleza interior, inspira-nos, ilumina-nos, eleva-nos e também nos faz tirar o melhor de nós mesmos, enobrecendo-nos, permitindo-nos ser pessoas melhores, para poder viver em harmonia com nós mesmos, com os demais e com tudo o que nos rodeia, da maneira mais bela possível.

Autor

Revista Esfinge