A Grande Mãe, Caos, Noite Cósmica, útero e recipiente da vida é abismo oceânico, o seio da Terra e da Lua. Seus atributos foram com o tempo representados em vários imaginários, muitas vezes separados entre si segundo as variações da percepção psicológica e mental, limitadas pelos momentos culturais em que se formularam, personificaram e receberam culto. Representações antiqüíssimas da deusa Lua são os pilares ou os cones, a maioria de pedra, muitas vezes de origem meteórica (as chamadas pedras lunares) que em certas ocasiões eram esculpidas. A cor também variava em função destes aspectos luminosos ou sombrios da divindade lunar e a valorização positiva ou negativa dos povos que as sacralizaram. Se em Pafos ou Chipre Astarté era representada como um cone ou pirâmide brancos, Cibele era representada como uma pedra negra. Na Caldéia a Grande Mãe era venerada na forma de pedra negra sagrada que muitos acreditam ser a mesma que agora se guarda na Kaaba de Meca Só que antigamente, ao que parece, a serviam sacerdotisas e agora são sacerdotes em um culto estritamente patriarcal.

As pedras lunares freqüentemente eram representadas como ônfalos, centros vitais. O pilar como árvore, também com um significado parecido ao já visto: o fruto da Natureza, ramificação de possibilidades que obedecem a um princípio comum, os distintos seres, fecundidade, expansão vital e a vegetação. Tudo isto segundo o nível de análise empregado. Todos os seus frutos são o Filho da Deusa, o filho da Lua, que morre e renasce periodicamente. Se bem é muito comum que a Deusa Mãe seja representada com seu filho em forma de menino, também existem as alusões ao filho como companheiro e consorte igualmente submetido a ciclos de morte e ressureição. Inanna, Isthar, Cibele, Afrodite e Ísis estão associadas a esta contraparte e complemento, seu aspecto masculino, que em uma de suas chaves é a árvore pilar, e que nesta faceta recebe muitas vezes o qualificativo de “o verde”. Frazer e outros estudiosos do século XIX fazem uma interpretação exclusivamente agrária (de fecundidade física e da terra) desta associação das deusas-mães com a árvore e seu aspecto sombrio e doloroso ao ver morto o seu consorte.

Não só cerimônias do mundo antigo relembram este fato, mas também festas do folclore popular nas quais figuram a árvore e a cruz como árvore esquematizada. Toda a Europa tem tradições em torno da árvore e nossas Cruzes de Maio teriam seus ancestrais nestas considerações. Contos e mitos sobre o homem verde, Jacq ou Jacques in te green no mundo anglo-saxão. Talvez o mesmo Santiago, o Verde, associado à Nossa Senhora de Atocha, cujo toponímico pode ter dado lugar à raiz deste símbolo. São ramificações da mesma pauta simbólica. Nas celebrações populares, a árvore da Lua aparece em desenhos coberta com frutos ou luzes, em um desenho assírio tem fitas, como em algumas celebrações da árvore de Maio e quem sabe se nesta época não se celebravam danças ao redor, como agora ! Cruzes ou paus truncados sobre uma meia lua e representações de árvores, com uma origem claramente pré-cristã foram encontrados em algumas igrejas gregas.

A deusa Lua às vezes é representada como uma Lua crescente, o exemplo mais próximo é Ísis ou Hathor, a Lua como barca que sulca as águas do céu. Também o machado de duplo fio, tão comum no mundo mediterrâneo, nos remete aos cornos da lua. Uma de suas interpretações é, novamente, fecundidade e potência vital, suas características ambivalentes, masculinas e femininas ao mesmo tempo, nos falam outra vez e de outra forma da deusa e seu consorte, tanto a vaca que nutre como o touro celeste ou terrestre que fertiliza. Surpreende novamente que nas tradições das virgens negras apareça com esmagadora maioria São Lucas, cujo animal emblemático é, precisamente, o touro.

Autor

Revista Esfinge