Em 2006 comemorou-se o aniversário de 150 do falecimento de Robert Schumann (1810-1856), e desde então se programaram concertos e atividades de todo tipo em sua homenagem. Queremos nos unir a essas comemorações trazendo aos leitores um aspecto pouco conhecido de Schumann: sua faceta de escritor e articulista.

Poucos músicos tiveram uma pena tão ativa como Robert Schumann. Seus artigos, especialmente em Neue Leipziger Zeitschrift für Musik (Nova Revista Musical de Leipzig), fundada por ele em 1834, deram a conhecer alguns dos maiores autores de seu tempo: “…descubram-se senhores, estão ante um gênio”, escreveu ao escutar Chopin; também a Brahms deu a conhecer através de um artigo intitulado “Novos Caminhos”.

Músico e poeta – como bom romântico – dedicou uma parte de sua obra aos jovens que se iniciavam na arte da música. Para eles escreveu em 1848 seu Opus 68 “Album für die Jugend” (Álbum para a Juventude) que dedicou a uma de suas filhas em seu sétimo aniversário. O curioso desta obra é que o manuscrito do álbum contém anotações nas margens. São apontes iniciais que depois se converteriam nas “Regras musicais para a vida e para o lar”, uma espécie de código ou de normas fundamentais para os músicos mais jovens. Normas que foram pensadas por Schumann como um anexo ao álbum, acompanhando a cada uma das peças.

Provavelmente essas regras sejam a parte literária mais conhecida de Schumann – ainda que sua produção seja muito extensa – , vale a pena dedicar-lhe umas linhas e reler algumas delas.

Sabemos que as “Regras musicais para a vida e o lar” são, em parte, uma re-elaboração de escritos anteriores publicados em forma dispersa, e que pretendia editá-las como anexo ao “Álbum para a Juventude”. Porém não logrou editá-lo em sua primeira edição e teve que esperar até a segunda em 1850. São um total de 68 aforismos, número que coincide com o do Opus do álbum e desde que, em 1854, outro insigne músico, Franz Lizt realizou a primeira tradução para o francês, não pararam as traduções para todos os idiomas. Ainda que as “Regras musicais para a vida e o lar” sejam conhecidas por muitos músicos em espanhol, só podiam ser encontradas junto à edição da partitura ou na internet e na maioria dos casos mal traduzidas.

Vão estas linhas como homenagem ao gênio de Schumann e sirvam algumas das regras para concluir nosso artigo, pois, como bom artista, Schumann soube colocar uma pérola de beleza em cada uma.

N0 20 As obras com passagens só para luzir, envelhecem depressa. O virtuosismo só tem valor quando está a serviço das idéias.

N0 32 Ama teu instrumento, porém não o considere vaidosamente o mais belo e o único.

N0 34 Toca assiduamente as fugas dos bons maestros, sobretudo as de Johan Sebastian Bach. O “Cravo Bem Temperado”, deve ser teu pão cotidiano. Então chegarás a ser, sem dúvida, um excelente músico.

N0 47 Escuta atentamente os cantos populares; são uma fonte inesgotável das mais belas melodias e te darão uma idéia do caráter das diferentes nações.

N0 51 Respeita o antigo, porém abre teu coração também ao novo. Não tenha preconceitos com nomes que te são desconhecidos.

N0 60 As leis da moral são também as leis da arte.

Sebastián Pérez –

Autor

Revista Esfinge