Se não tivesses criado, oh pai Febo, a Platão na Grécia, quem teria curado com as palavras as maldades e as doenças dos homens?

Assim como Esculápio tratava das doenças do corpo, Platão curava as doenças das almas imortais. (Atribuído a Diógenes Laércio)

Para muitos Platão é considerado o filósofo mais criativo e influente da Filosofia ocidental, tanto é, que há mais de 2400 anos suas idéias continuam válidas. De nenhum outro filósofo da antiguidade se conhece tantas obras escritas e que trata praticamente de todos os temas: sobre a natureza do homem; sobre a alma; sobre a ciência; sobre a Atlântida; sobre a justiça; sobre a verdade. Suas obras foram traduzidas para todos os idiomas.

Chamava-se Aristocles, embora desde jovem o chamavam de Platão, talvez por suas costas largas, ou por sua ampla testa, ou por sua grande eloqüência. Nasceu no ano de 427 a.C em Egina ou em Atenas e pertencia a uma família da nobreza ateniense.

Segundo Diógenes, desde jovem gostava de poesia, lia Homero e Hesíodo, sabendo suas poesias de cor. Também se exercitava fisicamente. Sua educação foi extensa, provavelmente recebeu aulas de Crátilo, discípulo de Heráclito e de Hermógenes da escola de Parmênides.

Com vinte anos, Platão conheceu Sócrates e ficou tão impressionado com seus ensinamentos que imediatamente se tornou seu discípulo. É famoso o episódio que relata o encontro entre os dois: Sócrates teve um sonho, que entre as pessoas que o escutavam conversar na praça aparecia um cisne branco que abria passagem entre eles. Logo no dia seguinte, enquanto Sócrates ensinava na praça, apareceu Platão.

Os poucos anos em que passou como discípulo de Sócrates foram fundamentais na formação do filósofo, recebendo de seu mestre alguns ensinamentos que marcaram sua trajetória posterior. De um lado a virtude do diálogo como método de investigação das almas e das pessoas, e do outro a necessidade da virtude unida ao conhecimento.

Outro aspecto fundamental da filosofia de Platão era o interesse pela política, para que as cidades tivessem um bom governo e pela busca da justiça.

O julgamento injusto e a condenação do seu mestre marcaram fortemente Platão e o maravilhoso fruto dessa experiência é a Apologia de Sócrates.

Platão passou muitos anos longe de Atenas, viajando pelo Mediterrâneo oriental, desde o Egito até a Sicília, completando sua formação e recebendo novos e profundos ensinamentos. Em Siracusa buscou plasmar seus ideais políticos, boa parte aprendidos no Egito, porém suas idéias foram de encontro com o tirano Dionísio I, que as considerava inadequadas e perigosas, de tal forma que Platão acabou preso e vendido como escravo.

Quando recuperou a liberdade, pôde voltar à Atenas, onde fundou a Academia instituição educacional que teve este nome por localizar-se próxima ao templo do herói Akademos. Alguns a consideram a primeira universidade do ocidente, usufruindo uma vida ininterrupta por mais de 900 anos, até que o imperador Justiniano a fechou no ano de 529 d.C..

Aritmética, geometria, astronomia, música e dialética eram alguns dos estudos fundamentais da Academia e na fachada existia uma placa com os dizeres “Ninguém entra aqui sem saber geometria”; de seu seio saíram brilhantes filósofos e matemáticos como Aristóteles, Teeteto, Eudoxo, Jonócrates ou Espensipo, sobrinho de Platão que assumiu a Academia com a morte do mestre (347 a.C.).

O centro de filosofia de Platão é constituído pelas suas teorias, conhecimento e idéias. Para Platão o conhecimento que recebemos através dos sentidos vem do exterior e trata das coisas que mudam, a esse tipo de saber não podemos chamar de conhecimento, mas sim de opinião.

A teoria do conhecimento ficou exposta magistralmente no mito da caverna no livro A República, que mostra pessoas acorrentadas dentro de uma caverna com a face em direção à parede, onde, suas visões estão limitadas pelas sombras. Um dos prisioneiros foge e sai em direção a luz do dia vendo pela primeira vez o mundo real, depois regressa para a caverna com a intenção de libertar seus companheiros. O mundo das sombras simboliza o mundo físico, o mundo das aparências. A fuga para o exterior em direção a luz do sol simboliza a transição para o mundo real, para o mundo do conhecimento.

Tão atual quanto na Grécia de Platão, o mito da caverna nos lembra que devemos buscar a essência das coisas e dos seres, mais além dos enganos superficiais, que devemos olhar para dentro de nós, para nosso interior, tornando real a inscrição do templo de Apolo em Delfos na qual Sócrates se inspirou: “HOMEM conheça-te a ti mesmo.”

Fisionomia – Julián Romea
Julián Romea é o ator mais famoso do teatro espanhol no século XIX. Toda sua performance foi acompanhada de um êxito apoteótico de expressões faciais equilibradas, é um homem concentrado, que permite a expressão de sua vitalidade. É brilhante, nervoso, muitas vezes tenso. Não consegue relaxar e sua mente é muito inquieta, de gênio rápido e grande capacidade de persuadir, ambicioso e astuto, foge da proximidade emocional, mas é muito receptivo.

A fronte indica uma lógica clara e tendência ao sentimentalismo, é criativo, ativo e autoritário com uma abertura para o mundo exterior, de ampla memória e mente concreta, impulsivo e bom observador. Possui amplo domínio do inconsciente. Pela linha do cabelo observa-se uma fascinação metódica em suas ações e prático em suas metas. Muito intuitivo e com tendência à superstição.

As orelhas mostram uma inteligência normal. Há uma violência latente que contrasta com alto grau de espiritualidade. Um pouco imaturo e uma nítida atração para os problemas. Interessado por seu próprio progresso, pode ser enérgico de coração. A área intuitiva prevalece e com uma forte sensualidade.

Os olhos mostram fantasia, uma certa passividade frente à vida e grande dose de idealismo. De novo aflora a sensualidade e a sagacidade para encarar os problemas. De certa forma é ingênuo e precavido. É nervoso e excitável. Em muitas ocasiões sua mente funciona em um ritmo diferente daqueles que estão ao seu redor. É obstinado, generoso, constante e leal, em certas ocasiões chega a ser insensível. É receptivo e possui um grande magnetismo. O mundo o envolve com grande força. Sua inteligência normal o sublima e alcança chispas de genialidade. É preguiçoso, às vezes lento. Há um certo desanimo em suas reações.

É ciumento e disfarça seus impulsos íntimos, constante em suas decisões, possui um ego bem definido. Boa capacidade de relacionamento. Às vezes despreocupado. É direto, gosta que seus trabalhos se atem aos fatos e caminha para frente, lutando com as fases de desânimo.

No nariz se observa uma afetividade conflitiva, com uma imaginação passional e sempre lutando pelo equilíbrio nervoso. É um homem de bom gosto, firme em suas decisões e com uma avidez oculta pelos prazeres da vida. Hipócrita em muitas ocasiões com tendência ao exagero. Possivelmente gosta de jogar e nem sempre podemos confiar nele.

A boca parcialmente tampada pelo bigode diz pouco. É um homem emotivo, desconfiado, obstinado, astuto, profundo em seus julgamentos. Possui momentos de irritabilidade e em muitas ocasiões, é, ou parece ser insensato.

No queixo volta a aparecer à tenacidade e a energia expressa a necessidade de seduzir.

Assumiu o seu passado e não é dependente dele. O futuro por outro lado o preocupa muito, por isso luta para não perder o que já conquistou e o enfrenta com decisão ativamente.

Pequenos grandes construtores – Expertos em técnicas modernas
Organizados, trabalhadores e socialmente muito evoluídos, estes extraordinários seres nos impressionam com suas engenhosas construções.

“ASSOPRA, ASSOPRA…”
Da mesma forma que no conto dos três porquinhos, as aves contam nas suas fileiras com pedreiros, que descobriram que uma casa de tijolos é mais resistente que uma de madeira ou palha.

O representante mais conhecido do grupo é a andorinha, porém nossos céus se povoam de diversas espécies de aves que também recorrem à esta técnica. Existe uma infinidade de espécies relacionadas com os nomes comuns, que pertencem a vários gêneros.

Pássaros oleiros, recolhem o barro pingo a pingo na beirada dos pântanos e riachos, que se misturam com o a sua saliva e que grudam embaixo de algumas saliências rochas ou gretas. Pouco a pouco o ninho adquire sua forma característica de semi-esfera, com uma entrada superior por onde a fêmea entra. No interior do ninho, parecido com um iglu de barro virado, a andorinha elabora um leito de líquen, penas e pêlos, macio onde criará sua ninhada. O normal é que tais aves aninhem-se em colônias, mais ou menos numerosas, que colaboram quando algum outro pássaro tenta se aproveitar da construção para se instalar em tão cômoda e fresca casinha de barro.

Temos visto algumas vezes que quando um intrometido, por exemplo, um pardal penetra no interior do ninho de andorinhas, a colônia inteira ajuda a castigar o invasor, pingo a pingo de barro os pássaros fecham a entrada do ninho, deixando preso no interior do ninho o ousado e atrevido, que ilusoriamente pensou em se apoderar de tão confortável e segura moradia.

Alguns ninhos são tão pequenos que não permitem nem o peso da ave incubadora. Nestes casos o barro se prende na parede ou ramo onde está preso o ninho, com uma parede da grossura de uma folha de papel. Os ovos são tão preciosos que não correm o risco de perdas, em quase todas estas situações utilizam suas saliva para, literalmente, cimentar os ovos no fundo do ninho.

Como curiosidade, os ninhos das andorinhas com os quais os orientais fabricam sua famosa sopa, não são construídos estritamente por andorinhas, também por outras espécies de aves oleiras. Estas aves se aninham em paredes rochosas de grutas e alcantilados de difícil acesso ou quase impossível, onde constroem seus pequenos ninhos com sua saliva densa que adere as rochas e se solidificam, endurecendo-se ao secar.

Em algumas situações esta saliva está misturada com alguns tipos de algas. Para retirar esses ninhos os chineses recorrem aos serviços de acrobatas profissionais.

UM NINHO DE LUXO
Não obstante à capacidade de fabricação das andorinhas, existe um pássaro que as supera em qualidade e quantidade de produção. Nos referimos ao joão-de-barro (Furnarius rufus) da América do Sul.

O ninho é construído no outono e o casal participa na construção. Durante esta época as glândulas salivais destes pássaros se hipertrofiam, aumentando a sua função e usando esta saliva para cimentar os materiais usados. Eles levam com seus bicos a lama ou o barro à qual se misturam raízes e grama seca. Assim vão dando forma ao ninho esférico, semelhante ao forno de um padeiro, do qual deriva seu nome.

Com aproximadamente trinta centímetros de diâmetro essas casas ou alojamentos possuem uma única entrada, pela qual se passa para uma espécie de sala de espera. A continuação é em forma de espiral, um corredor que vai se estreitando para impedir o acesso não desejado e termina no quarto de criação.

Para fixar o local, escolhem geralmente locais visíveis, ramos grossos de árvores, postes e telhados. Embora sejam conservados durante dois ou três anos, em cada estação se constrói um ou dois ninhos novos, algumas vezes um em cima do outro, como um prédio. Os ninhos abandonados são disputados por ratos, pintassilgos, andorinhas e pardais que sem tamanha habilidade, sabem apreciar o bom da vida.

PERITOS EM ENERGIA ALTERNATIVA
Não estamos acabando com os pássaros, mas sim com extraordinários construtores de ninhos. E que além de conhecimentos específicos de engenharia, arquitetura, alvenaria, aerodinâmica, resistência de materiais, química, adesão e serralheria, há pássaros que entendem de termoquímica e seus ninhos são dignos de se mencionar, não pela estrutura, mas pelas propriedades térmicas.

Dentro dos Galiformes existe uma família, os Megapódidos, que são especialistas em usar fontes de calor alternativo para incubar seus ovos. Distribuídos por toda Austrália, Nova Guiné, Indonésia e Polinésia, são pássaros de grandes, que chegam a cinqüenta centímetros. Todos se caracterizam pela construção de ninhos, onde depositam os ovos a serem incubados, não pelo calor dos progenitores, mas pela fermentação através do calor do sol, inclusive aproveitam o calor residual das atividades vulcânicas. São peritos extraordinários em geotermia.

A espécie que foi mais bem estudada é o Pavão do Mato (Leipoa ocellata), pássaro que habita no mato árido de eucalipto da Austrália.

Muito territorial os machos trabalham no montículo até onze meses por ano, embora a postura se realize na primavera e no verão.

O ninho consiste em uma depressão, que é cheio com material orgânico, sobre o qual se deposita areia e cascalho. A camada de húmus ao apodrecer gera o calor que o pássaro aproveita. Em julho quando a temperatura dentro do montículo chega aos 30° C, o Megapódido retira a camada de areia e cava uma câmara na matéria orgânica em fermentação. Os ovos são depositados de setembro a janeiro, durante vários dias. Só então os ovos são recobertos com cascalho e o macho monta guarda ao redor da sua futura geração.

É louvável a fidelidade destes pássaros para com sua ninhada. Não há acontecimento que o faça abandonar a vigilância do ninho e em intervalos regulares, introduz o bico dentro do montículo como se fosse um termômetro para detectar a temperatura, que deverá ser exatamente de 35° C. Se a temperatura aumenta o Megapodio abre frestas de refrigeração na camada orgânica. No contrário, se a temperatura satisfatória não é alcançada, nosso pássaro acrescenta matéria vegetal ao ninho de forma que a putrefação aumente os graus necessários.

O maleo de Mutum-de-bico-vermelho (Macrocephalon maleo) usa um sistema mais prosaico, mas que não deixa de ser eficaz. Na estação de procriação, abandona a mata úmida, que constitui o seu habitat, e se desloca trinta quilômetros até a praia de areias pretas vulcânicas acima do nível da maré alta. A fêmea escava um buraco para cada ovo que planeja depositar e os cobre com este material escuro. O calor do sol se encarrega de fazer o resto.

O megapodio de Freycinet (Megapodio freycinet) é o campeão deste grupo de construtores. Seus ninhos são os maiores, chegam a alcançar onze metros de diâmetro por cinco metros de altura. Estas enormes acumulações de terra e material vegetal atingem o tamanho de muitas árvores. A temperatura do ninho é regulada ao redor dos 30° a 35° C dependendo do tempo em que foram depositados os ovos.

Um montículo grande pode ser usado por três ou quatro casais, embora só seja usado por um de cada vez. Nesta ocasião, macho e fêmea compartilham as tarefas de elevar esta construção colossal, trabalho que realizam durante o ano todo. Com suas patas e principalmente com os robustos bicos, encarregam-se de manter limpas as imediações do ninho. Em uma ocasião, foi constatado que um macho de 1 quilo de peso, carregava uma pedra de 6,9 quilos. Os montículos são usados durante muitos anos, muitos deles são utilizados como testemunho arqueológico dos incêndios ocorridos, graças às camadas dispostas de carvão nos diferentes extratos.

Ao Amor da Luz

Os Megapodios vivem na Inglaterra e nas Ilhas de Salomon. Colocam seus ovos em grande quantidade no solo aquecido por fenômenos vulcânico. Como há pouco solo apto, a quantidade dos ninhos é elevadíssima, onde se encontra até um ninho para cada 20 m². As correntes térmicas subterrâneas e os gases vulcânicos provêm os 34° C necessários para incubação.

É uma pena que os cuidados primorosos que estes pássaros proporcionam a seus ovos, não se aplique nos cuidados com sua prole. De fato, logo que nasce, o pintinho de Megapodio tem que cavar a galeria que o levará para fora do ninho, este é o começo da vida totalmente só. Tornam-se jovens precocemente e aprendem a se esconder rapidamente nas matas próximas ao ninho. Sendo um caso verdadeiramente insólito dentro dos pássaros, eles podem voar a poucas horas de seu nascimento.

Estudas ou Desenhas?

Antes de abandonar o fantástico mundo dos pássaros construtores, vamos abordar um último caso que não se destaca nem pela sua estrutura e nem pelo mecanismo de funcionamento do ninho. Nos referimos a alguns pássaros, que merecem ser citados neste artigo como animais especiais simplesmente pelo seu caráter de construção e pelo seu lado artístico.

Os Tilonorrincos são, sem duvida nenhuma, os artistas mais notáveis no mundo dos pássaros. Os machos constroem estruturas elaboradas, decoradas com objetos das mais variadas cores e procedência, frutas, cogumelos, latas, pedaços de plásticos, flores, minerais… Tudo tem espaço nesta área, que só possui a função de acasalar. A fêmea construirá o ninho em um lugar distante e discreto.

Também é conhecido por este empenho paisagístico. Como pássaros jardineiros eles escolhem um terreno, geralmente clarão de um bosque, no centro de espaço montam um tipo de casa com galhos e palhas. Alguns chegam a enfeitar suas casas como se fossem pintores e decoradores profissionais. Recolhem pigmentos naturais (resina, pólen, barro etc…) com isto untam seus espaços de acasalamento com o bico ou com algum galho, utilizando-o como se fosse um pincel, é inacreditável! A mistura feita com terra e cinzas é amassada e espalhada com um pouco de algodão ou liquens. O resto do terreno eles enfeitam com objetos de cores brilhantes, caracóis, flores ou objetos plásticos, isto se estão perto de um centro urbano. NAo lugar convidam fêmeas e outros machos onde fazem reuniões e dançam. Deve se ter muito cuidado com os convidados, não é estranho que alguns machos espertinhos roubem descaradamente alguns objetos que servem para ornamentar seu próprio lugar de acasalamento.

Estudos recentes mostram que esta arte não é instintiva, tem todo um aprendizado. Os Tilonorrincos jovens machos, começam sua experiência com esboços humildes, que pouco a pouco vão melhorando à medida que ganham experiência no trabalho, observando as pérgulas de alguns vizinhos com mais sucesso entre as fêmeas.

Rechonchudos, com pés fortes e bicos pesados de tamanho que vai do estornino ao de um corneja, estes pássaros são muito eficientes na hora de vislumbrar a sua parceira, melhor dizendo parceiras, já que os machos aproveitam todo o tempo possível na fabricação de seus jardins. À maioria são promíscuos, aproveitando todas as ocasiões que lhe são oferecidas para acasalar com todas as fêmeas que conseguirem atrair para seu apartamento de solteiro. Uma vez coberta, o Tilonorrinco não quer saber de mais nada, e a fêmea irá para algum lugar escondido para se encarregar da postura dos ovos, da incubação e cuidará da criação sozinha.

É interessante destacar que os Tilonorrincos mais adúlteros são os mais longevos. Tardam sete anos para adquirir sua coloração de adulto, pelo menos no caso dos Pássaros-caramanchão-cetim (Ptilonorhynchus violaceus). Os ninhos são reaproveitados por quase 50 anos.

Cabelos e Peles

Terminando o nosso rápido estudo sobre o reino das aves, esperamos que tenham se surpreendido. Nos corresponde agora, entrar no não menos complexo mundo dos mamíferos. Não obstante para eles temos pouco espaço, não é por falta de exemplos, mas porque eles são mais conhecidos e se aprofundar no que já é conhecido não é a intenção desse artigo.

Efetivamente os cérebros e os comportamentos dos mamíferos são os mais complexos, aparentemente no mundo animal, por isso não devemos nos enganar. Não há nada que um mamífero faça que não encontre alguma comparação em algum representante de outro grupo.

ENGENHOSO POR NATURAZA
Por exemplo, o uso de ferramentas, algo totalmente inconcebível na biologia decimonónica. Foi descoberto primeiro em Chipanzés, e depois em outros representantes dos mamíferos como a lontra marinha. O homem deixou de ser o único a manipular seu meio ambiente para utilizá-lo à sua conveniência. Isto significou um replanejamento forçado, mais uma vez, que é o que realmente nos define como humanos.

Realmente os chipanzés gostam de completar a sua dieta com proteínas animais, na maioria das vezes com cupins. Recentemente foi comprovado que são organizados no grupo de caça com estratégias e ciladas para pequenos animais que normalmente lhe servem de comida, pelos quais ficam enlouquecidos, mas os cupins são mais acessíveis na floresta onde vivem e o esforço para adquirir-los é menor.

Para chegar ao interior do cupinzeiro, os chipanzés, não podem usar os dedos, nem a língua. A solução encontrada foi usar pequenos galhos, não se sabe como nem quando encontraram esta solução, não é a única forma em que os chipanzés (Pan troglodytes e P. paniscus) fabricam e usam ferramentas. Na realidade estes símios empregam muitos outros instrumentos para resolver seus problemas que nenhum outro animal utiliza. Não somente são capazes de imitar condutas humanas, caso comprovado também entre orangotangos, gorilas e alguns macacos, como martelar pequenos pregos, pentear-se e escovar os dentes. Tribos inteiras de chipanzés em liberdades, são capazes com certa freqüência de fabricar utensílios com o que enfrentam as dificuldades do dia a dia. Em geral, os utensílios fabricados por chipanzés selvagens podem ser classificados em três grupos, ramos ou galhos, martelos e esponjas. Embora, os outros animais dos quais falaremos a seguir são capazes de realizar algo semelhante. O chimpanzé difere sensivelmente deles, pois conseguem, de acordo com sua função, fazer objetos que possam ser utilizados, é como se já tivessem uma idéia pré-concebida do tipo de instrumentos ou ferramentas que precisam.

As varinhas são as ferramentas mais usadas, passam por até três modificações em mais de 90% das ocasiões. Variados tipos de comida se obtém com o uso de varinhas, por exemplo, os chipanzés preparam uma vareta macia e resistente com galhos de 60 a 70 cm de comprimento, que introduzem nos ninhos abertos de formigas. As formigas começam a escalar pela varinha e os chimpanzés as comem sem dar tempo de serem picados. Para saquear os cupinzeiros, descascam os talos herbáceos que são mais flexíveis e se adaptam melhor ao interior do cupinzeiro. Ao fazer isto, os cupins soldados mordem as nervuras e são enganchados, é o tempo suficiente para o chimpanzé come-los. As varetas rígidas também são empregadas para aumentar a entrada do formigueiro e chegar às formigas, que os chipanzés saboreiam com deleite. Algumas populações usam varinhas para extrair o tutano dos macacos que caçam, coisa que outros chipanzés não sabem fazer.

Os martelos e as bigornas geralmente são troncos e galhos, mas também podem ser pedras de tamanhos e formas adequadas cujo comprimento se ajusta para o emprego mais eficaz. Tornam-se eficazes para quebrar nozes e perfurar ossos robustos. Boesch observando os chipanzés comprovou que eles recolhem grandes pedras (quartzo, granito e outras) e as levam onde crescem as árvores que produzem nozes, logo recolhem as nozes e as colocam sobre a raiz das árvores (a bigorna) e batem (martelam) com uma pedra. Esta tecnologia é necessária, pois estas nozes são muito duras. Um chipanzé acaba abrindo 100 nozes em um dia e foi demonstrado que as crias levam até sete anos para aprender essa técnica.

O instrumento de uso mais curioso é a esponja, feita com a casca ou folhas de árvores mastigadas e são utilizadas para beber e o uso mais interessante é para a higiene pessoal.

Não são só as ferramentas o que eles utilizam, talvez tenham exclusividade no manejo das armas no reino animal. Os machos adultos gostam de se exibir sozinhos, ou em seus jogos de guerra, ou de caça através do lançamento de paus, galhos e pedras de até 4,0 Kg de peso. Em algumas dessas exibições de força podem chegar a lançar até 100 pedras e os demais devem cuidar-se para não serem acertados pelas pedras. Durante um episódio de caça, foram vistos verdadeiros projeteis, onde um macho acertou um javali que se encontrava a cinco metros de distância, o assustou tanto que o fez fugir e o chipanzé pode capturar suas crias para comê-las.

Se quisermos buscar algo semelhante é necessário fazê-lo com um animalzinho mais simples que os símios. Trata-se de um tipo de tentilhão. Este passarinho pouco maior que um pardal, se alimenta de insetos xilófagos*, apesar de possuírem um bico rechonchudo, cônico totalmente impróprio para esta finalidade. Para isso eles se utilizam de espinhos. Arranca farpas suficientemente compridas e as segura fortemente com o bico e com o qual mexe meticulosamente nas galerias de onde espetam e retiram larvas ou gusanos, que vivem no interior de troncos semipodres para alimentar-se.

Terapia de Grupo

Convém mostrar um interessante experimento realizado com macacos japoneses. Para estudar seu comportamento, deram batatas, grãos e outros alimentos que foram depositados na praia onde habitam macacos, que apreciaram os presentes e engoliram rapidamente toda a comida, apesar de estar coberta de areia, porém uma macaca fêmea, mais esperta que as demais, apanhou as batatas e foi para a beira da praia, onde as ondas se encarregaram de limpar e condimentar, deixando-as com um gosto salgado que as tornam mais apetitosas. Com os grãos tiveram que utilizar outro método. Comprovou-se que, a batida da água dispersou as sementes e elas se perderam no mar, alguns macacos buscaram outra saída para não encher a boca de terra. Cavaram buracos que se enchiam com água do subsolo, introduziram os grãos e tranqüilamente puderam degustá-los limpos e temperados. Pouco depois todo o bando de macacos utilizou o mesmo sistema. O curioso veio a seguir. Quando certos números de exemplares aprenderam uma determinada técnica, neste caso a de lavar a comida, outro bando de macacos de ilhas próximas, que jamais tiveram contato com o grupo objeto de estudo, começou a fazer o mesmo desde a primeira vez que os investigadores lhe deram comida.

Este fenômeno é conhecido como “população critica”. Sem saber por que, quando um grupo de indivíduos suficientemente numerosos de alguma espécie de animal aprende algo novo, imediatamente outras espécies que nunca tiveram contato com eles também adquirem a nova técnica, embora eles nunca tetivessem praticado. Talvez a idéia de alma grupal entre as espécies animais, que a doutrina esotérica sustenta, não seja tão descabida.

Não terminamos da falar sobre os mamíferos, seguiremos com essa apaixonante aventura e descobriremos mais segredos, como por exemplo, as lontras e os castores.

* xilófagos que se alimenta de madeira. (ex: cupins)

José Manuel Escobero Rodrígues

Autor

Revista Esfinge