Leonardo da Vinci

Museu do Louvre

Guiomar

Temos neste quadro um magnífico exemplo de composição piramidal, além de um rico simbolismo. O vértice está fixado na cabeça de Santa Ana, e a linha desce reta pelas outras cabeças, enlaçadas também pelos olhares, em um continuum perfeito. Santa Ana olha feliz para Maria, e esta olha o Menino amorosamente, o Menino olha sua Mãe, e o cordeiro também olha o Menino. A Santa não toca em Maria, porque sua missão já foi concluída; Maria sim agarra o seu Filho, tentando em vão retê-lo, enquanto o Menino tende para o cordeiro, que é prefiguração do seu sacrifício.

Os pés formam uma graciosa curva que suaviza o final do quadro, e que, como acontece com A Virgem das Rochas, aproximam-se perigosamente do abismo que simboliza a morte.

A posição de mãe e filha é muito forçada; incômoda e antinatural pela idade de Maria, somente pode ser entendida em uma chave simbólica: a filha surge do seio de sua mãe e está muito unida a ela, enquanto que o Menino, desde o primeiro momento, é independente devido a sua missão na Terra.

A paisagem é convencional e pintada em um belo sfumatto, que a coloca como um cenário onírico, simples moldura para a cena religiosa. As rochas, mais desenho que pintura, parecem inacabadas, o que acentua a impressão irreal. A paleta é fria, com os ocres avermelhados exatos para vivificá-la.

É conhecida a existência de um trabalho preparatório de 1500 ou 1501, retomado em 1508-1510, e não terminado. O quadro, alguns anos posteriores, foi retomado do zero.

Autor

Revista Esfinge