No aspecto de receptáculo a mãe é o Grande Útero feito de vida e a própria vida em seu potencial de gestação, o grande atanor que possibilita as mudanças. Por isto foi imaginada como uma Grande Potência que ilumina e acolhe os universos, os mundos e todos os seus seres, de todas as ordens e de todas as categorias. Tanto animais como vegetais e com eles as Leis que regem seus processos vitais.

Foi personificado na Magna Dea, a Deusa, a Grande Mãe, Aditi, Maha Sackti para o Oriente, força vital que gesta, mantém, sustenta. Força que anima e unifica e que, sendo Ela oceano vital, conduz os seres imersos em suas correntes através dos movimentos de águas da vida.

Um dos seus símbolos é o caldeirão, o cálice, a taça, o receptáculo que contém. Outro, as Águas, as Grandes Águas de seu imenso e profundo seio que correm até o fim do céu e até o ponto mais distante dos oceanos. É a potência que está mais além das águas e ao mesmo tempo é a própria água. Por isto é o movimento, o ritmo, o ciclo, a maré que lança os seres para alimentá-los de sua essência, para permitir a eles existir nela mesma e para reuni-los novamente em seu seio.

Sendo as águas do espaço, constitui este imenso oceano que espera o alento divino para se ativar. Sendo a onda que regenera, recolhe todos os seus filhos no final dos ciclos da vida, seja na longa duração do tempo dos sóis ou no breve momento da pequena partícula. Expressa, realiza, recolhe, reúne. Então é a morte. A pequena morte de cada ser e a Grande Morte que devolve a Criação ao silêncio original.

Ela que oferece as condições para a vida não é afetada por elas. Por isto foi concebida como a Mãe Virgem, intocada e intacta durante a eternidade antes da Criação. Como Caos Primordial é a Mãe da Luz, como Corpo do Espaço em que nascem, flutuam e morrem os Universos, a Mãe do Cosmos, dos Sóis e dos Mundos com seus seres. Por isto é a Rainha de Toda a Natureza. Por isto foi chamada a frutificadora, e os vegetais, animais e homens surgem dela e dela se alimentam. Por isto foi representada com o menino divino em seus braços, seu fruto, que representa a todos, os grandes seres e os pequenos seres. Todos somos o Filho.

Foi associada à Terra e à Lua. Como essência gestante é a potência ctônica que acolhe os mortos e os conserva, como as sementes caídas que dormem em seu seio pelo tempo necessário. Assim se imaginou que as grutas e cavidades são portas que conduzem a um ponto central no mundo inferior, onde reina e vela por suas criaturas, outorgando-as o tempo do sonho e o tempo do despertar.

Quando foi relacionada com a Lua, também vinculada desde tempos imemoriais com o tempo, os ritmos vitais, as águas, as marés, a umidade, a fecundidade e a dualidade. A Lua tem uma face de luz e um lado de obscuridade nunca alcançada pelo Sol, eternamente sombria e imutável, enquanto que a face luminosa está sujeita a diferentes expressões de luz.

Aos seres humanos custa muito esforço a visão unificadora e integrada. Nossa mente tende a separar as coisas em oposições, podemos entender a interação dos pares como complementares mas a maioria das vezes só compreendemos a disjunção e o conflito da dualidade. Assim, o simbolismo da mãe negra serviu em muitas ocasiões para expressar aspectos que consideramos pejorativos.

Autor

Revista Esfinge