Maria Ángeles Fernández

Ainda que em muitos caso possamos especular sobre as origens ancestrais destas cidades remotas, os arqueólogos consideram que a grande época de esplendor da atual Colômbia aconteceu durante o ano 500 a.C. e 1000 d.C, conforme as datas atualizadas e classificadas por aqueles que por séculos tentaram se enriquecer naquelas terras.

Isso equivale a quinhentos anos antes da chegada dos Espanhóis, com o que deduzimos que no momento da entrada dos conquistadores, estas cidades estavam na “Idade Média” o que impede que valha a pena um estudo mais rigoroso.

Outro fator para se levar em conta é da existência de uma civilização mais primitiva e agressiva que o restante da área: os Caribes. Este povo, embora nativo da selva amazônica e da Venezuela atual, estava estabelecido no vale do Cauca, antiga Costa do Caribe e praias do vale Madalena. Os Caribes eram antropófagos e causaram no século XVI uma invasão que por sua vez pressionou vários povos, entre eles os Chibchas, uns dos povos mais representativos da Colômbia antiga, da qual daremos mais detalhes no decorrer do texto. Habitantes das terras baixas e cálidas do percurso inferior de Madalena, foram deslocados para as savanas de Bogotá, a uma altitude de 2000m.

O povo dos Taironas também foi encurralado pela invasão caribe em direção às margens da serra nevada de Santa Marta.

Por outro lado, os Kunas foram deslocados para o norte pelos Chocos, de estirpe caribe, misturada com populações de fala chiba, guerreiros canibais e depredadores. Os Chocos eram guerreiros conquistadores; cozinhavam a carne humana em uma espécie de grelha; moravam em casas rodeadas com estacas de madeira e fabricavam colares com os dentes dos inimigos mortos em combate. Por outro lado, incorporaram os escravos à tribo, eram nudistas, usavam sarabatanas, dardos e flechas envenenadas. Usavam esteiras em vez de camas e tinham alguns conhecimentos de xamanismo.

Pelas suas características, a cultura choco corresponde a uma cultura típica da floresta tropical e, como os Caribes e os Tupi-Guaranis, são de descendência patriarcal. Havia proibição de se casar com parentes pela linha paterna e residência independente. Eles não só diferem dos povos Chibchas pelo idioma, mas também pelo tipo físico. Eles formaram a avançada setentrional, que foram invasões que mudaram a fisionomia étnica da Colômbia.

Embora os grupos aborígines que habitaram a Colômbia tenham sido numerosos (Guajiros, Bocamas, Caribes, Bocinegras, Orejones, Chimilas, Burbacos, Conas, Sinus, Chiareros, Carares, Guanes, Tunebos, Barbacoas, Muiscas, etc), nos limitaremos ao mais importante do ponto de vista cultural e histórico.

Povos Aborígines

Entres os distintos povos de culturas medianas destaca-se o Tairona, encurralado por um invasor mais primitivo, os Caribes, na época da invasão espanhola, na serra nevada da Santa Maria, no litoral mais próximo a esta. Possuíam um destacado censo urbano; foram capazes de erguer alojamentos, estradas, canais; cultivaram produtos como milho e algodão; na guerra usavam flechas envenenadas. Destes povos procede o famoso mito da Cidade Perdida. Um fato interessante é que os Taironas mantiveram enorme afinidade com a cultura Guajira, grupo Arawak que residiu na península de Guajira. De acordo com as descobertas, fabricavam cerâmicas semelhantes às encontradas na parte sul do Panamá, ou seja, na entrada sul da América Central.

A cidade de San Agustín é na realidade um conjunto de grupos assentados em áreas de San Agustín e Huila, no maciço colombiano. Lá ergueram terraços e canais. Para enterrar seus mortos, construíram montículos e enormes estátuas com formas de jaguares, serpentes e seres humanos. Ocorre na escultura uma transposição do gravado rupestre ao monólito, por exemplo, o desenho do ser com duas cabeças: uma parte superior e outra na parte inferior, olhando para o alto. Esta figura é comum na América, e na área taranca encontramos também cabelos cortados em forma de escadinha.

Destaca-se também o povo Calima, na região do vale do Cauca. Cultivaram milho, viviam em terraços; tiveram um sistema de irrigação e fizeram estradas. Desfrutaram de uma expressiva hierarquia social. Conheciam perfeitamente as técnicas de fundição.

Destacava-se também o povo Nariño, cultura que vivia na área mesmo nome, junto ao Equador, no altiplano nariñense.

Nestas terras se misturaram vários grupos como: os Capulís (que eventualmente cavavam tumbas de trinta a quarenta metros para enterrar seus mortos); os Pastos (capazes de esculpir as montanhas com infinidade de terraços) e o povo Quimbaya (que morava na região do velho Caldas, a mais de 1000 a.C.). Estes últimos possuíam uma ourivesaria extraordinária, aprimoraram suas técnicas de fundição até mesmo com ligas de ouro e cobre.

Também realçamos o povo Sinú, nos arredores dos rios San Jorge é Sinú. Sua principal fonte de alimentação era a mandioca e conseguiram transformar extensas áreas barrentas em áreas cultiváveis. Eram ourives.

Outros povos, os Tierradentro, que se situavam entre Huila e Cauca, eram conhecidos por suas enormes e enfeitadas tumbas. O povo Tolima, na região de mesmo nome no vale do rio Madalena, tinha por atividade principal a extração de ouro no rio Saldana. Por último, o povo de Tumanco, na área de Marinho, próximo às costas do Pacifico. Cultivaram milho e se dedicaram à pesca e à modelagem de estatuetas, através das quais se pode estudar e reconstruir a vida cotidiana. Desenvolveram técnicas metalúrgicas e inclusive chegaram à solda por fusão. Este foi um dos povos saqueados pelos conquistadores por sua infinidade de objetos de ouro (armaduras, máscaras, estatuetas).

A origem de todas estas culturas sempre foi baseada em suposições e se produziram desde América Central através de correntes migratórias de agricultores que se deslocavam em direção a sul, chegando a épocas diferentes em estados de evolução diferentes. Encontramos a cerâmica mais antiga no Porto Hormigas, no norte da Colômbia, nas portas de saída do corredor Centro Americano. Existem teorias sobre a origem Subandino nas culturas médias de sul da América. Vários investigadores concordam que a cerâmica do norte da Colômbia e do sul do Istmo corresponde ao horizonte formativo que se estende desde o leste de América do Norte até os Andes Meridionais, mas ainda não se descobriu seu centro de origem.

No norte das Antilhas e da América do Sul o tipo de petroglifo centro americano é comum.

É atribuído à cultura Arawak a origem da terraplanagem, do amontoamento de terra e dos canais. É comum encontrar sobre as tumbas pequenos monólitos ou menhires, característicos em toda América Central, inclusive na Colômbia.

Na América Central é comum o sepultamento em tumbas forradas de pedras e cobertas com lajes; ocorrem também em outras culturas formativas e na cultura Arawak.

Outras características das culturas médias é o culto a Deusa-mãe, por meio de diferentes representações. As gravuras rupestres Arawak, oferecem uma ampla semelhança com as gravuras da Venezuela, Colômbia e América Central. Por exemplo, a figura de Deus resplendoroso: a cabeça em forma de coração, a cabeça triangular, a mão em forma de cruz, o ser humano com duas cabeças, uma das quais repousa na sua mão, o rosto de forma arredondada, o corpo triangular, a serpente ondulada, etc, assim como o oferecimento de comida aos deuses e mortos em geral.

A cultura Chibcha

Deixamos para o final um dos melhores expoentes da Colômbia ameríndia. Como já comentamos, os Chibchas, pressionados pelos Caribes, se mudaram para as savanas de Bogotá, anos antes da chegada dos Espanhóis.

Nestas terras não conseguiram plantar mandioca (planta básica dos Chibchas), mas sim o milho, a batata-doce, o algodão, abóbora, feijão; tabaco, tomates, guanabana (Aroma muricate), abacaxi e pitahaya (Cereus pitajaya).

Os trabalhos de cultivo eram realizados pelas mulheres auxiliadas pelos maridos (ela tinha a função mágica de fecundar a terra). Os trabalhos agrícolas eram em comunidades e eram considerados uma festa. Também era em comunidade a construção de casas de projetos circulares, elíptica ou retangular, cujo teto era cônico. Existia o ritual de consagração da casa construída na cimentação dos pilares sobre corpos humanos. Este sacrifício com sangue e carne humana era utilizado para dar força e propiciar bons augúrios para a casa e seus moradores. Este não era diferente de alguns rituais que os Maya-Chiches praticavam (segundo os mitos de Popol Vuh).

Os Chibchas domesticaram animais selvagens, iguais a outros povos das culturas médias. A sucessão dos chefes era matrilinear, ou seja, herdava o reino o primogênito da irmã mais velha do chefe. Os filhos da suas esposas eram considerados para este efeito ilegítimos. Existia a poligamia e eles poderiam ter quantas esposas pudessem sustentar. A herança era determinada pela linha materna; segundo os rituais, quando surgia a primeira menstruação da jovem, esta ficava reclusa durante seis dias em um canto, encoberta com uma manta que cobria cabeça e rosto. O adultério era castigado severamente, inclusive algumas vezes com a morte.

No comércio, a civilização Chibcha era matriarcal, embora já existisse um estado de transição para o direito patriarcal.

Estavam organizados em comunidades (pequenas confederações). O chefe ou cacique tinha poder absoluto sobre seus súditos, em virtude da sua origem divina. Seus subalternos jamais o olhavam de frente. Adoravam a saliva do cacique, que tinha um valor sagrado e a qual recebiam como uma coisa santa e valiosa, comparando-a ao sêmen que fecunda ou a chuva (outra semelhança com o mito de Popol Vuh Maya).

Entre os atributos do poder do cacique podemos destacar a coroa de ouro, o transporte em um assento baixo ou liteira coberta de ouro. O bastão Chibcha é um símbolo do poder, em metal que se alarga de um extremo a outro. Nos braços colocavam-se braceletes e colares de contas, pedras, ossos e pingentes de ouro, que usavam nas orelhas e nas narinas. Na cabeça usavam barrete, faixa ou turbante. Os sacerdotes usavam coroas de ouro em forma de mitra. Todos levavam no nariz discos em forma de meia lua.

A cultura Chibcha esta vinculada às grandes culturas centro-americanas, às culturas médias e, como todas elas, também com os Mayas, embora a marca da separação date aproximadamente de cinqüenta e seis séculos e diferentes espaços, pelo que encontramos fundamentos suficientes para afirmar que estas culturas poderiam ser fragmentos velados de uma gigantesca cultura anterior.

Armas

Usavam a impulsão do dardo, a lança, o porrete, o estilingue, a sarabatana de uma peça só, os escudos. Conheciam a arte das fortificações é construíam caminhos pavimentados. Os Chibchas também eram guerreiros, decapitavam seus inimigos e exibiam as cabeças como troféu. Praticavam um tipo de sacrifício que consistia em amarrar a um pau os ladrões para posteriormente matá-los a flechadas, como ritual de fertilidade para produzir chuva, do mesmo modo que o faziam os Caribes, além do que, também os comiam, pois, eram canibais. Os Chibchas de épocas mais recentes ofereciam sacrifícios humanos ao sol para obter benefícios no combate à seca. Acredita-se que também faziam oferendas à Lua.

Comércio e artesanato

Eram grandes comerciantes. Praticavam a troca nos mercados locais. As mulheres teciam finos panos de algodão e vestiam túnicas fechadas. Eram excelentes ourives, trabalhavam o ouro, o cobre e a prata; talhavam a madeira; fabricavam vasos e figuras de barro similares em sua forma e desenho a outros povos. Na arte lítica, faziam facas de duplo fio, machados, facões e raspadores de pedra. Existem semelhanças entre suas culturas e as dos Taironas e Mayas do período pré-clássico do México. Suas estatuetas, depositadas em caverna como oferendas votivas, desenhavam um hexágono com os braços e as pernas que unem o homem com a Ordem universal.

Calendário de festas

Contavam os dias pelos sóis e os meses pelas luas com suas minguantes e crescentes, divididas em quatro partes.

O ano tinha doze meses ou luas e começava em janeiro. O calendário era um almanaque agrícola. As festas religiosas mais importantes eram a semeadura e a colheita, com agradecimento e pedidos ao Deus Sol (Bochica). Os rituais eram celebrados nos templos, por sacerdotes ou pluviomagos Chibchas, únicos mediadores entre deuses e homens. Tinham domínio das forças da natureza: tempestade, ventos, geadas; eram curandeiros e podiam transformar-se em animais, que também eram conhecidos pelos povos centro-americanos.

A lenda de El Dorado

Os Chibchas rendiam culto às plantas, as rochas e aos lagos. O lago de Guatavita é onde se originou a lenda do El Dorado, criada pelos conquistadores espanhóis. Para a nomeação de um novo cacique Chibcha ou Muisca, o herdeiro teria que passar seis anos em uma caverna, purificando-se. Não podia comer sal, nem ter relações sexuais; era levado à margem do lago e alguns sacerdotes o despiam, ungindo seu corpo com resina pegajosa e cobrindo-o com ouro. O acompanhavam quatro dignitários numa grande balsa, ricamente adornada, até o centro do lago, onde o submergiam e ofereciam os objetos de ouro simbolizando os cinco sóis cósmicos. Este valor simbólico é similar em todas as culturas médias.

Gravuras rupestres

Os gravados rupestres nos oferecem cenas de um drama cosmogônico que se projeta em rituais e cerimônias celebradas pela casta sacerdotal. Alguns proporcionam a fertilidade nos campos de cultivo e a fecundidade humana; outros se dedicam ao cultivo solar; o Sol pode ser coroado por cinco raios simbolizando a figura central do universo, ou associado à figura de uma serpente; pode ter braços em forma de asas representando a sua imagem, o Deus Solar, Sol e pássaro mensageiro do sol. Existe uma grande variedade de símbolos iconográficos: deuses esquemáticos, estilizados, antropomorfos, pássaro e serpente. A serpente emplumada se apresenta freqüentemente de diversas formas na arte rupestre Chibcha. Há também cenas astronômicas onde são configurados verdadeiros mapas celestes. A tempestade se manifesta através do zig-zag do raio, ou na cabeça de um pássaro; o relâmpago se apresenta por uma serpente em forma geométrica por meio de um labirinto de linhas quebradas; e a chuva por meio de linhas curtas verticais. Existe uma repetição de muitas das figuras geométricas de caráter pan-americano: a cruz simples, a cruz eqüilateral, a cruz dupla, o círculo, os círculos concêntricos, o quadrado, o rombo, a suástica, o signo bijungal, o tridente etc.

Escatologia

Os Chibchas praticavam o enterro secundário, expondo os cadáveres em grades de madeira elevadas. Os caciques eram mumificados com resina, ou desidratados no fogo, ou expondo-os no sol. Também praticavam enterros em grutas. Efetuavam enterros coletivos entorno do cacique e do sacerdote que ficavam encarregados ao eterno serviço de seus chefes na vida e após a morte. Isto é de caráter geral nas culturas médias, do mesmo modo que sacrificavam pessoas para o serviço de algum Deus, pois se acreditava que os mortos velavam pelo bem-estar da comunidade a que pertenciam. Os mortos descem ao centro da terra por uma pesarosa viagem, exceto os que morrem em guerras, as mulheres que morrem de parto e as crianças, que vão diretamente ao céu. Os Chibchas tinham um Deus da morte, figura humana esquelética, semelhante à das culturas médias e superiores.

Mitologia Chibcha

Concebiam uma deidade (deusa) em três manifestações, registradas na mitologia e objetivada em sua arte, era por sua vez una e trina. Os Muiscas acreditavam que existia um criador da Natureza, que fez o Céu e a Terra e era trino em pessoas e uno em essência. Chiminiguagua, o grande Deus Criador, onipotente e Senhor Universal de todas as coisas, é uma entidade divina que pode ser comparada com o criador da mitologia Maya-Quiché.

Na mitologia de uma cultura feminina como a Chibcha, não poderia faltar a Deusa-mãe, ao mesmo tempo lunar e terrestre, chamada Bachue e Furachogua, ou seja, boa mulher e Grande Mãe universal, criadora da humanidade, deusa da fertilidade vegetal e da fecundidade humana.

Os mitos Chibchas falam de outra deusa lunar, Chia, belíssima e de grande esplendor, que pregava uma vida cheia de prazeres jogos e bebedeiras, totalmente contrária aos ensinamentos Bochica, o herói civilizador; ao final se converteu em uma coruja ou em lua, segundo as fábulas. Estas duas entidades luares podem comparar-se a Ixmucané e Ixqic no Popol Vuh. O adversário de Chia e Chibchacum era Bochica, com características de Deus solar, que estabelece novas normas de conduta humana.

Autor

Revista Esfinge