Assim como não se lembrar de algo ou não conhecê-lo não significa que não exista, e que de determinadas civilizações ou épocas ainda não se tenha encontrado restos tecnológicos não significa que não tiveram ciência,ciência, sendo que quanto mais retornarmos no tempo, maior é a dificuldade para encontrarmos vestígios.

Este pequeno artigo pretende dar um esboço ”histórico” de alguns conhecimentos da antiguidade. Mas se nos atiervermos na definição da palavra história, que seria o registro dos fatos passados, comprovamos que esta simples e precisa explicação nos condiciona em nossa tarefa de recopiar o que resta de um registro, alguns vestígios, para poder estabelecer se em determinado momento e lugar existiu uma ciência ou não.

Assim como não se lembrar de algo ou não conhecê-lo não significa que não exista, e apesar deque de determinadas civilizações ou épocas ainda não se tenha encontrado restos tecnológicos não significa que não tiveram ciência, sendo que quanto mais retornarmos no tempo, maior é a dificuldade para encontrarmos vestígios. Se considerarmos que o homem tem uma antiguidade de sete milhões de anos, tal como confirmam os antropólogos atuais, estamos frente um empreendimento dificilíssimo. Se quisermos delimitar um pouco mais o campo e falarmos do que seria o Homo sapiens, estaríamos falando de 200.000 anos de história, dos quais a história conhecida abrangeria, sendo generosos, uns 10.000 anos. Vale dizer, que não sabemos o quê o homem esteve fazendo durante pelo menos 190.000 anos. E tudo o que vemos em nosso mundo é fruto fundamentalmente de avanços científicos ocorridos nos últimos 150 anos. Assim não podemos descartar a possibilidade do desenvolvimento cientifico em civilizações do passado. Tempo para isso teve de sobra.

Portanto devemos ser cautelosos ao falarmos do que outras civilizações da antiguidade puderam conhecer a respeito da ciência, sem deixar de mencionar que existem alguns indícios em distintas civilizações e épocas, que permitem entrever que talvez tenha existido ciência desenvolvida da forma como nós a entendemos. Se olharmos, por exemplo, as pirâmides de Gisézeh, temos que supor que existiu tecnologia no Egito para poder construí-las.

Se formos à Índia, vamos ver que existem várias referências aos vimanas, dentro dos Vedas, os Puranas, o Mahabharata, inclusive há um tratado de máquinas militares que foi escrito no século XI, o Samarangana Suthradhara, onde se descrevem estes aviões voadores, feitos de metal, que usavam combustível a base de mercúrio. Ou seja, idéias que podem ser como as de Leonardo, antecipação do que seriam novos descobrimentos, ou que também podem estar falando de descobrimentos feitos na antiguidade.

Umas das coisas que temos compreendido no último século é que a história é cíclica, ou seja, não se trata de uma história linear como se poderia pensar no século XVIII e XIX com explicações, uma história de progresso continuo, mas sim que as civilizações aparecem, nascem, crescem e morrem, e descobrimentos próprios de uma época se esquecem com a queda dessas civilizações até que outra civilização volta a redescobri-los.

A palavra ciência é de origem latina, scientia, e significa saber, conhecimento, de forma similar à palavra grega sophos, cuja tradução é sabedoria, conhecimentos. Gregos e romanos tiveram mentalidades distintas. Os gregos tinham uma mentalidade mais abstrata, mais racional, dai que sophos, a sabedoria, se entende como um conhecimento amplo e um tanto de elucubração mental, enquanto que scientia, a ciência, adquire um aspecto empírico, material, próprio dos romanos que entre outras coisas se destacaram como construtores de obras públicas e tinham uma visão mais pragmática da vida.

Se analisarmos os fatos conhecidos da ciência na antiguidade, poderemos destacar alguns feitos que sobressaem nas distintas civilizações.

Assim por exemplo o Egito nos surpreende com seu grau de avanço na medicina, que posteriormente influenciou na tradição médica grega e romana, e que está recopiada em textos como o papiro de Ebers, o papiro de Kahum, o papiro de Berlin e o papiro de Smith. Os egípcios tinham Casas da Vida onde os médicos estudavam diversas especialidades; havia oftalmologistas, dentistas, traumatologistas, cirurgiões. Seus métodos de observação e diagnósticos eram refinados e tinham técnicas médicas bem desenvolvidas; faziam trepanação e operações de cirurgias importantes. Conheciam as causas e sintomatologia de muitas enfermidades, entre elas as do trato digestivo e ginecológico; tinham medicamentos anticonceptivos, laxantes, e um enorme leque de farmacopéia vegetal e mineral, e alguns dos remédios ainda são usados. Temos que lembrar que Hipóocrates, o chamado o pai da Medicina no Ocidente, estudou no Egito, onde adquiriu parte de seu saber.

A civilização que se desenvolveu na Mesopotâmia teve como característica mais destacada a observação do céu e os registros astronômicos detalhados. Foi um conjunto de povos muito metódicos, especialistas em classificar tudo. Isto ficou registrado nas tabuletas da escrita cuneiforme que foram encontradas. Não ficaram dicionários do acádico ao sumério, do sumério ao eblaíta, com listas de palavras e suas definições, mas ficaram listados os problemas matemáticos que se faziam nos colégios, tábuas de multiplicar, etc.. Suméerios e babilônicos foram bons astrônomos e confeccionaram um registro de planetas e estrelas, de suas diferentes posições e seus movimentos durante milênios, acompanhados desde o alto das torres de observação. Trata-se de uma astronomia de posição, tratada aritmeticamente, de tal maneira que eram capazes de estabelecer quando iam ocorrer os eclipses solares e lunares, e onde estariam situados os planetas em cada momento. Posteriormente vieram a se chamar de ”caldeos” aos astrólogos da Idade Média, consultados por Papas e Reis, memória dessa sabedoria da civilização mesopotâmica.

Além do mais, toda a civilização mesopotâmica acumulou grandes conhecimentos matemáticos. Numeravam as matemáticas em base sexagesimal, ou seja, na base 60.

ENos estamos acostumadosmos a utilizar um sistema decimal, e o sistema sexagesimal pode-nos parecer estranho, embora tenha permanecido até hoje. Nossa medida de tempo, os minutos, os segundos e os graus dos ângulos, são herançasão heranças deles.

Os hindus também foram grandes matemáticos, capazes de medir cifras que inclusive para nós são enormes. Em suas cronologias nos falam de milhões de anos, e para poder trabalhar com semelhantes quantidades tinham um sistema de numeração decimal posicional, baseado na utilização de 9nove cifras e na existência do zero, sistema que nós utilizamos e conhecemos por herança dos árabes. Os romanos quando escreviam um dez escreviam um X, para o onze acrescentavam um palito, para doze acrescentava mais um, e assim sucessivamente iam agregando cifras, o que implicava em números enormes, Por exemplo, 683 era DCLXXXIII. Se tivéssemos que multiplicar 1327 por 1743, em números romanos o resultado seria excessivamente longo, o que fazia do cálculo uma árdua tarefa. Contm tudo, os hindus utilizavam uma numeração posicional, onde o número 2 é um dois, mas ao acrescentarmos outra cifra do lado direito, por exemplo, um zero, se converte em vinte, esse mesmo dois pode ser duzentos, ou seja, cada número tem um valor em si e tem um valor referente à posição que ocupa.

Se nos referirmos aos chineses, vemos que foi uma civilização tecnológica. Tiveram muitos conhecimentos, mas não se preocuparam em explicar as leis que regiam esses descobrimentos, simplesmente as aplicavam. Não formularam nenhuma lei física. Dos chineses nós herdamos à imprensa de tipos móveis, o papel, a pólvora, a bússola, os relógios, a tecnologia do ferro e do aço, o leme ou a corrente de transmissão.

Também tinham amplos conhecimentos de astronomia e matemáticas; descobriram as manchas solares e o valor de p. Foi uma civilização de cujos inventos o Ocidente muito se beneficiou.

Isabel Pérez Arellano

Autor

Revista Esfinge