Esteban Coronado Berosio

Quando se mencionam os feitos do Império Romano, costumam vir à nossa mente suas calçadas, suas cidades, pontes, aquedutos e outras obras monumentais de engenharia. Se falamos das legiões romanas, é provável que, influenciados um pouco por Hollywood, recordemos compactas formações de soldados em linhas ordenadas, com escudos erguidos e lanças apontadas, dispostos a destroçar inapelavelmente com muita disciplina um desordenado exército inimigo. Poucas vezes associamos o gênio criador romano ao seu indiscutível êxito bélico.

Roma e a Guerra

Todo legionário era capaz de construir uma ponte, uma muralha, desviar um rio ou levantar um acampamento com todas as suas defesas em poucas horas.

A verdade é que um legionário romano não chegava a esta condição senão após um completo e rigoroso treinamento, de intermináveis sessões de exercícios com os quais se conseguia uma inestimável disciplina que converteu o exército romano durante séculos na melhor máquina de combate no mundo conhecido. Também é certo que nesse formidável corpo militar não havia especialistas na construção de pontes, construtores de trincheiras, arquitetos ou engenheiros. Todo legionário era capaz de pôr mãos à obra e construir em um abrir e fechar de olhos uma ponte, uma muralha, desviar um rio ou levantar um acampamento com todas as suas defesas (paliçada, fosso, torres e acessos) em poucas horas.

A história de Roma está repleta de combates nos quais o que se impôs não foi um valor militar próximo do heroísmo, no estilo de Horácio Cocles ou Múcio Cévola, mas sim uma visão prática, quase “econômica”. Uma boa legião foi sempre difícil de obter e treinar, além de ser muito cara a sua manutenção, e por isso o método de combate romano se caracterizava entre outras coisas pelo seu mínimo risco de perdas humanas (salvo raras exceções, uma legião podia ser vencida, mas não exterminada) e pela sua eficácia, muito de acordo com o conjunto geral do modo de ser romano. Como disse Cipião, o Africano, em certa ocasião, “as batalhas se ganham meses antes de ocorrerem, sobre uma mesa de trabalho”.

A lista dos enfrentamentos militares de Roma inclui um bom número de ocasiões em que, ante um inimigo “invencível”, por seu número, posição ou armamento, os romanos compensaram sua desvantagem inicial com um estudo meticuloso da situação e adotaram medidas óbvias, independentemente da sua aparente impossibilidade ou desproporção numérica. Em outras ocasiões, o general romano não se distinguiu por sua tática brilhante e surpreendente, mas simplesmente por obras de engenharia sensatas, apropriadas e resistentes.

Por exemplo, durante a Primeira Guerra Púnica, Roma e Cartago eram as duas principais potências militares da época e seus enfrentamentos foram violentíssimos. Na primeira Guerra, Cartago era uma força naval de primeira ordem, com séculos de experiência. Os romanos, que não haviam saído da Península Itálica, eram invencíveis em terra, mas inexperientes no mar. A guerra foi longa (264 a.C. – 241 a.C.), com vitórias terrestres dos romanos e navais dos cartagineses. Mas a cada frota que os cartagineses destruíam, Roma sempre criava outra, isso devido à inestimável constância romana. E, então, entraram em cena os engenheiros. Inventaram toda uma série de artefatos, ganchos de ferro, ganchos com alavancas, enormes grampos que se lançavam de uma embarcação para prender o barco inimigo enquanto este era invadido por soldados, ou as próprias pontes de abordagem, que fizeram com que as batalhas na água deixassem de assim ser, pois, no lugar de duas frotas, com seus barcos a remo ziguezagueando, encarando-se e investindo uma contra a outra, os romanos nos combates navais converteram em enormes plataformas os conveses dos barcos amarrados entre si, onde os legionários podiam ir e vir à vontade, fazendo de um combate marítimo um combate terrestre. O resultado, depois desse artifício, não tardou, e a principal arma cartaginesa foi vencida finalmente na batalha das ilhas Égadas.

Outro exemplo é o de Cipião Emiliano, também chamado “o Africano”, na destruição de Cartago, como também o de seu avô adotivo depois da sua vitória ante Aníbal em Zama.

Nomeado cônsul em 134 a.C., ele tomou Numância, dando assim por finalizada a guerra contra lusitanos e celtiberos. Mas, para isso, não deslocou suas legiões em um terreno favorável, nem assaltou corajosamente as muralhas, por demais inexpugnáveis. Numância, na qual foram ridicularizados três generais romanos (Quinto Pompeu 141-140, Pompilio 139-138, Hostilio Mancio 137 a.C.), viu-se obrigada ao suicídio coletivo, por causa de 60.000 legionários armados de uma estratégia invencível: a paciência e a carpintaria. Cipião, para evitar o aprovisionamento da cidade, a entrada de reforços e saídas inesperadas dos sitiados, fechou o rio com cordas e grades eriçadas de pontas. Posteriormente, rodeou a cidade com 7 acampamentos fortificados e finalmente foi unindo com firmeza e bom senso esses acampamentos com uma muralha que circundava a cidade celtibera. Os atônitos sitiados contemplaram durante mais de um ano como esta muralha crescia até que alcançou uma altura que, ultrapassando os próprios muros de Numância, permitiu à artilharia romana instalar-se nele e varrer à vontade o interior da cidade. O resultado, todos conhecemos.

Roma e Cartago eram as principais potências militares da época e seus combates foram violentíssimos.

E se quisermos falar de obras gigantescas usadas para vencer cidades inconquistáveis, o melhor exemplo foi a tomada de Massada. Após a conquista de Jerusalém no ano 70 da nossa era, os restos do exército zelote com suas mulheres e crianças, sob o comando de Eleazar Ben Jair refugiou-se em Massada, no deserto da Judéia. Dali se dedicaram a fustigar os exércitos romanos com ataques de guerrilha, até que a X Legião, com o governador romano Flavio Silva no comando, sitiou a fortaleza. Construíram novamente um muro circundante para evitar fugas e comprovaram que a única forma de tomar Massada seria derrubando uma parede das muralhas que os especialistas romanos descobriram ser um ponto fraco. Havia apenas um pequeno problema: esse ponto das muralhas se encontrava precisamente a mais de 400 metros de altura, no alto do penhasco que tornava a cidadela inexpugnável. Mais uma vez colocou-se em ação o gênio romano, e sob um sol inclemente movimentaram milhares de toneladas de areia e pedras em pleno deserto até construir uma rampa para levar um aríete e derrubar o muro. Simples e, principalmente, eficaz.

Caio Júlio César – Um general de pá e picareta

– (…) Chegou a hora, disse a mim mesmo, destes soldados que tenho em minhas legiões, voltem a fazer o que melhor sabem fazer !

– Que fazeis melhor, rapazes ?

– Cavar! – responderam os soldados, pondo-se a rir.

McCullough, C. César.

César foi talvez o general romano por excelência. Somente seu próprio tio Mário lhe fez sombra, chegando a ser cônsul sete vezes, cinco delas consecutivas. Cáio Mário foi responsável pela maior reforma da legião romana, com seu sistema de rodízios, renovação do equipamento do soldado romano, que tornou-se finalmente uniforme e a reestruturação de manípulos e coortes. Realizou a proeza de deter as invasões (melhor dito, migrações, já que se transladaram tribos inteiras) de címbrios e teutônicos. Segundo alguns autores, para a realização desta tarefa, contou com um contingente total de 750.000 militares. Nunca foi vencido e se de algo podia se lamentar, foi de não estar politicamente à altura do seu gênio militar.

O caso de Caio Júlio César foi muito diferente. Nele podemos encontrar um modelo de estrategista, administrador, político, literato… Enfim, alguém quase perfeito em todos os campos das atividades humanas, independente da maneira como seja julgado por umas e outras correntes históricas.

César nasce no ano 100 antes da nossa era, no seio de uma família de patrícios de antiqüíssimos ancestrais. Seus pais descendiam em linha direta de nada menos que Rômulo e Enéas (ou seja, Marte e Vênus, respectivamente). Ainda que se saiba pouco da sua primeira infância, seguramente recebeu uma esmerada e completa educação. Tutelada de perto pela sua mãe Aurélia, um autêntico exemplo de matrona romana, devido inicialmente às muitas ocupações do seu pai e depois de sua morte, quando César tinha 16 anos. Existem muitas lendas em torno da sua figura quando criança. Lendas que compõem o grande personagem que, com o passar do tempo, Júlio César chegaria a ser.

O mais provável é que cresceu ouvindo e aprendendo diretamente do seu tio Mário, tudo o que um nobre romano devia saber sobre a vida militar. Entre os cidadãos romanos, o melhor e o mais valorizado meio para obter honras e ascender na carreira política. O jovem César, altamente capacitado para isto, se inteirou bem de tão sábias experiências que posteriormente soube aproveitá-las, tornando-se grato, com o tempo, à figura do seu tio por tudo o que dele recebeu.

Cresceu durante uma época muito convulsionada da história de Roma. O modelo de República estava ficando limitado e ineficaz para o governo da imensa Roma. Isto provocou diversas convulsões internas, guerras civis e confrontos com o resto dos povos e nações que povoavam a península itálica, que naquela época começou a chamar-se Itália. No ano 91 Druso foi assassinado, basicamente por propor e quase conseguir a cidadania romana para algumas tribos itálicas. Por causa disto, no ano 90 explodiu a chamada “Guerra Itálica”, onde vestinos, picentinos, marrusinos, frentanos, marsos, oscos, pelignos, hirpinos, lucanos e samnitas, para mencionar apenas os mais importantes, enfrentaram Roma com seu Senado desunido.

As circunstâncias históricas quiseram que Roma sobrevivesse e que nesta guerra se destacassem Lúcio Cornélio Sila e Pompeu Estrabão. O segundo seria o pai do futuro rival de César, Cneo Pompeu Magno, outro menino prodígio na arte militar. Sila nomeou-se ditador e instaurou um regime de terror que durou até que ele mesmo renunciou no ano 79. Morreu no ano seguinte.

Como se não bastasse, no ano 73 se declarou a guerra de Espartaco. Nesta ocasião quem teve a possibilidade de se destacar foi Marco Licínio Crasso. Ele acabou com o exército de escravos no Sul da Itália no ano de 71, enquanto Pompeu Filho esmagava os últimos focos de revolta no Norte, quando regressava após vencer as tropas de Sertório na Hispania.

Tanto Crasso como Pompeu teriam um papel fundamental na vida de César. Ambos eram generais vitoriosos, tinham o dinheiro suficiente para a atividade política e descendiam de famílias poderosas. Ambos foram eleitos cônsules no ano 70.

Enquanto tudo isto acontecia e preparava a situação para a entrada em cena de César, ele continuava com a sua educação romana tradicional.

Casou-se muito cedo com Cornélia, mãe da sua filha Julia. Quando Sila ordena que ele a repudiasse e toda Roma treme sob o olhar do ditador, César o desafia. Nega-se a fazê-lo e foge de Roma por isso, apenas com 18 anos.

Começa sua carreira militar como oficial na Ásia, destacando-se em Mitilene, onde obtém sua primeira condecoração de valor, a coroa cívica de folhas de carvalho. Na Cilícia presta um serviço indispensável, reunindo uma frota para seu general enquanto se inicia nas artes navais.

César não tem pressa. Tem consciência do seu valor e além do mais quer conseguir os cargos políticos na ordem e no tempo que ditava a tradição. Questor no ano 68. Edil no ano 65. Grande pontífice no ano 63 e pretor em 62. Propretor na Hispania no ano 61 e, finalmente, Cônsul no ano 59.

Depois disto, associado com Pompeu e Crasso, conseguiu o proconsulado da Ilíria, Gália Cisalpina e Gália Transalpina por cinco anos, com o comando de quatro legiões.

César nas Gálias

Foi durante o período denominado a “Guerra das Gálias”, onde o gênio militar de César, eclipsaria para sempre na história o de qualquer romano anterior ou posterior a ele. Durante esta campanha, que foi muito mais longa do que no princípio se esperava, mas ao mesmo tempo, assombrosamente curta em relação aos fatos que nela se sucederam, as legiões de César tiveram a oportunidade de brilhar por seu valor muitas vezes e como tal são lembradas. Sua forma de planejar as batalhas foi revolucionária em muitos aspectos e, por exemplo, se converteu em um dos primeiros estrategistas romanos que utilizaram com assiduidade a artilharia não somente em sítios, mas também nos combates de infantaria.

No entanto, em outras ocasiões a vitória viria por meio da capacidade de construção romana. Este fato parece ter sido eclipsado por suas outras qualidades, caindo no esquecimento a história da arte da guerra.

As Gálias eram compostas por três regiões distintas. Por um lado, a Cisalpina: desde os Alpes até o célebre Rubicão. Era parte da Itália, ainda que o seu reconhecimento como tal ainda tardaria em chegar. Outra Gália se conhecia como Narbonense, colonizada há muito tempo e de população gálica, grega e romana. É conhecida hoje como Provença. Também se conhecia como Gália Togata.

Por último, temos a Gália Comata, ou “daqueles de cabeleiras longas”. Habitada por um sem número de tribos mais ou menos estruturadas em clãs, governadas por um regime similar ao feudal, cujos governantes eram eleitos entre uma espécie de assembléia de notáveis. Na realidade, um heterogêneo crisol de tribos onde, a única coisa que parecia uni-los era o druidismo, que teve papel importante no confronto contra César.

A Gália Comata se considerava dividida em outras três partes: confinando com a Germânia a noroeste, estavam os belgas. Os aquitânios na Gália próxima aos Pirineus e no centro, até o Canal da mancha, os celtas.

Muito combativos entre si, os galos não tinham escrúpulo em contratar ou pedir ajuda a povos estrangeiros para que tomassem parte em suas contínuas guerras. De uma destas petições surgiria a desculpa para a intervenção romana no território que, aparentemente, não havia declarado guerra à Roma.

Os germanos

Os germanos, povo muito mais rude e combativo que os galos, sempre cobiçaram as férteis terras da Gália, tão rica em bosques, terras aráveis, caças, madeiras e minas de ferro e ouro. Sob o comando de Ariovisto, já tinham se instalado na terra dos arvernos e secuanos, que corresponde a atual Alsácia, cobrando a terra como tributo por conta de uma intervenção a favor destes povos na guerra que mantiveram contra os eduos, por sua vez aliados de Roma.

Além do mais, no ano de 58, os helvécios (Suíça), pressionados pelos suevos, tentaram emigrar para o oeste. Mas para isto era inevitável que atravessassem a Provenza, sob o protetorado romano, ou o território dos eduos que apesar de autorizarem tal trânsito num primeiro momento, logo reclamariam a ajuda da sua aliada Roma.

César pôs mãos à obra, literalmente. Com um contingente de 4.800 soldados se propôs conter a migração de 350.000 pessoas, das quais 90.000 seriam combatentes. Entre o monte Jura e o lago Lemano, para frear o avanço dos helvécios, construiu um muro de 26,5 Km de largura por 4,5 m de altura e um fosso de igual profundidade, com torres e fortins inteligentemente distribuídos. Com este muro, evitou que seu pouco numeroso exército fosse superado e esmagado por tão grande contingente inimigo. O exército brincava dizendo que as batalhas eram o prêmio que César lhes outorgava, por todo aquele trabalho com a pá, por construir, por transportar troncos e por suar tanto trabalhando (McCullough, Collen).

Após várias tentativas de avanço, rechaçados por Júlio César, os helvécios optaram por cruzar o território secuano. Nesta situação César demonstrou a eficácia de outras das suas armas: a rapidez. De Genebra, onde deixou a sua legião fortificada, marchou até a Gália Cisalpina para recrutar duas novas legiões, enquanto colocava em marcha outras três que passavam o inverno em Aquileia sob o comando de Tito Labieno. Reuniu cerca de 28.000 legionários e 4.000 cavaleiros galos aliados.

No rio Arar, os helvécios trabalhavam há 19 dias cruzando em balsas pessoas e equipamentos. César apareceu de repente, depois de marchas forçadas com três legiões e massacrou as hostes helvéticas em uma margem, enquanto da outra margem o restante exército helvético o contemplava atônito. Em um só dia as legiões de César construíram uma ponte e cruzaram o rio sem molhar um só fio da roupa. Seguindo a uma distância prudente os seus inimigos, César finalmente os enfrentou em Bibracte. Deixando na reserva as legiões de novatos, as tropas romanas se dispuseram a enfrentar um contingente de 70.000 guerreiros que combateram em uma frente compacta. Conta-se que César retirou do campo de batalha todos os cavalos, inclusive o seu, para deixar claro que não havia possibilidade de voltar atrás. A superioridade do armamento romano e o exemplo do seu general fizeram em pedaços a compacta frente dos inimigos.

O pilum ou dardo pesado, a arma de lançamento do legionário, se lançava quando a carga do inimigo estava suficientemente próxima. Então, respondendo a uma voz de comando, caía sobre o inimigo atacante, uma autêntica chuva de dardos que se cravavam nos escudos, geralmente de madeira. Como, além do mais, estes escudos se levavam em alto, um só dardo podia atravessar vários deles. Uma vez trespassados um ou vários escudos, o engenho romano operava sua magia. Os dardos se partiam pela haste de madeira, ou simplesmente se dobravam por uma espécie de dobradiça, que se colocava na junção da peça metálica com o cabo. De todas as formas, o normal era que se retorcessem com o impacto, já que tinham uma forma bastante afilada. O resultado acabava sendo que, o inimigo tinha que lutar com estes dardos cravados nos seus escudos, impossíveis de se retirar. Algo muito incômodo! No combate corpo a corpo, a alternativa era jogar no chão o dardo e o escudo, ficando sem a indispensável proteção e em franca inferioridade diante das espadas curtas romanas. Estas espadas eram desenhadas não para cortar, mas para investir cravando. Em distâncias curtas, era outra arma formidável. A idéia de incluir o pilum e o gládio, o dardo e a espada, como armas “regulamentares” foi de Mário e a peculiar forma de utilização destes dardos causou a ruptura das linhas helvéticas.

A supremacia do engenho romano era esmagadora.

César na Bretanha

As legiões de César demonstraram seu domínio de engenharia em muitas ocasiões ao longo da Guerra das Gálias. Sem este conhecimento, quase inato em todo romano, a simples disciplina e o conhecimento militar dos soldados de César não teriam bastado para realizar a conquista de tão extenso e povoado território.

Os vênetos, na Bretanha francesa, se sublevaram protegidos nas suas fortalezas que as marés isolavam completamente da terra. César ordenou armar uma frota para enfrentar os navios vênetos, barcos acostumados para navegar nas duras condições do Atlântico. No princípio, os pequenos barcos romanos não puderam nem sequer arranhar as imensas e muito altas naves bretãs. Mas outra vez apareceu a astúcia romana, César equipou seus marinheiros com longas varas terminadas em foices que cortavam os cordames inimigos. As pesadas velas de couro caíam sobre a tripulação e os barcos vênetos, desprovidos de remos, ficavam inertes ante o ataque e a vitória romana.

No ano 55 algumas tribos germanas, outra vez pressionadas pelos suevos, cruzaram o Rhin. César não se contentou somente em detê-las, mas no prazo de 10 dias construiu uma sólida ponte sobre o turbulento e caudaloso rio germano. Corrente acima colocou paliçadas que diminuíam a velocidade da corrente e detinham os troncos e madeiras que lançavam os inimigos. A ponte, com fundamentos em forma de “X” para deixar passar a água, culminava com tábuas. Nas proximidades ergueu um fortim ao alcance da sua artilharia, para defender as obras e evitar uma possível travessia do inimigo. Por este local passou no comando das suas legiões, satisfazendo-se desta vez, em assustar com grandes correrias as tribos locais. Quando conseguiu a submissão dos povoados se retirou, desmontou a ponte e a guardou na fortaleza, pronta para ser montada novamente. A mensagem era clara para os germanos e César não queria um exército às suas costas enquanto continuava com seu trabalho na Gália.

No ano 55 desembarca pela segunda vez na Bretanha (Reino Unido), para acabar, segundo suas próprias palavras, com os reforços de homens e equipamentos que os parentes do outro lado do Canal da Mancha faziam chegar aos seus primos do continente. Nesta ocasião utiliza 800 barcos e narra o desembarque como um autêntico exemplo de heroísmo. Vence Casivelauno e seus carros de combate e volta para a Gália.

A Rebelião de Vercingetórix

Depois de pacificada a Gália belga, foi a Comata que se agitou com insurreições. Estando César longe do seu exército, surge a sublevação com dois propósitos: uma revolta geral que imobilize as legiões, separadas entre si pelo inverno, até sua aniquilação. E impossibilitar César de reunir-se com elas. Qualquer um que tivesse estudado César minimamente deveria saber que este último objetivo era impossível.

Enquanto Vercingetórix é nomeado comandante em chefe, ainda com muitas reticências por parte dos próprios galos, César supera o bloqueio mediante a legendária travessia de Cebenna. Arrasta suas legiões de reserva por esta passagem montanhosa, superando mais de 1,5 m de neve e aparece totalmente de surpresa, em território arverno pela retaguarda.

Vercingetórix tenta utilizar com César a tática da “terra arrasada”, mas comete um gravíssimo erro. Ainda que na realidade a história parece dizer que não estava de acordo, os nobres galos não lhe deixaram outra opção. Não evacua nem destrói os valiosíssimos víveres guardados na fortaleza de Avarico e apesar de acampar quase à vista da cidade, envia emissários indicando que não pensa atacar César. O general romano, depois de uma rápida inspeção, encontra o ponto onde as impressionantes muralhas deviam ser assaltadas.

Avarico era mais que um povoado, uma autêntica cidade, rodeada de estruturas naturais que a convertiam em uma praça fortificada. Segundo os galos, era impossível de conquistar. Ficava no alto de um platô de penhascos, no centro de uma ampla zona de pântanos, pelas quais, exército algum podia se mover. Muralhas altas e largas completavam a proteção e a porta se encontrava no final de um caminho escavado na rocha viva. Justamente antes de chegar à porta o caminho descia para uma depressão natural, o que fazia com que as muralhas ficassem ainda mais elevadas. Aparentemente, estas muralhas eram construídas com um tramado de pedras e vigas de madeira. A madeira impedia o ataque dos aríetes e a pedra os possíveis incêndios que os atacantes pudessem provocar para derrubar a muralha.

César tinha a obrigação de tomar a fortaleza por dois motivos. Por um lado, necessitava dos víveres que estavam guardados no interior da cidade. Por outro, os galos estavam convencidos da invulnerabilidade da sua fortaleza e necessitava também de um golpe de efeito para debilitar a sua moral.

Decidiu tomá-la pela porta

Começou a levantar muros paralelos ao longo da depressão. Começando pela sua parte mais alta, que estava quase á altura das muralhas, mas a uns 500 metros de distância. Milhares de troncos foram cortados para construir a estrutura. Uma enorme quantidade de terra e pedras foi deslocada para construir nos muros um aterro de 100 metros de largura que chegasse quase até a borda das muralhas. Além do mais, foram construídas duas torres de assalto e preparados os projéteis dos escorpiões, máquinas que lançavam com diabólica precisão dardos de um metro de comprimento, afiados em uma ponta e talhados com guias em forma de pluma na outra. Grandes coberturas de pele avançavam pelo muro, junto com o aterro, para proteger os construtores. Quando a obra se aproximou das muralhas e os construtores se colocaram ao alcance dos arqueiros galos, começou a cantar a artilharia romana. Os escorpiões varreram dos parapeitos qualquer galo que ousasse erguer a cabeça.

Em 25 dias o trabalho estava terminado. O aterro de assédio tinha 25 metros de altura e 100 metros entre as duas torres de assalto. A cidade foi tomada. De 40.000 pessoas que estavam no interior da cidade só se salvaram 800, que buscaram abrigo com Vercingetórix. Ele os recebeu dizendo: – Eu avisei…

Alesia

A tomada de Avarico precipitou o final da guerra. Depois do “empate técnico” de Gergovia, Vercingetórix cometeu, desta vez por conta própria, o último dos seus erros. Depois de um combate, para o qual César o atraiu fazendo-o crer que batia em retirada, decide refugiar-se em outra fortaleza dos galos, à espera dos reforços, o que lhe permitiu finalmente vencer os romanos.

Alesia (“a rocha”, em gaulês) se encontrava no alto de um monte muito elevado, inexpugnável, salvo por bloqueio, em uma meseta de 1.500 m de comprimento por 1.000 m de largura e 150 m de altura. As tropas de Vercingetórix se distribuíram pela meseta e no interior da cidade. Dois rios a circundavam. Diante da cidade, aos pés da colina, se estendia uma planície de quase 5 Km de largura e em todo o redor se erguiam altas colinas. Cerca de 80.000 galos aguardavam no alto da colina o reforço de um exército de outros 240.000 combatentes celtas. No total, 320.000 soldados. Diante deles, César com todos seus efetivos: cerca de 50.000 homens.

Antes mencionei o paradigma dos assédios nos livros de história: Massada. Mas, para mim, o auge das construções romanas de combate é, sem dúvida alguma, Alesia.

César sabia que tinha algum tempo antes que o exército de reforço fosse recrutado e o atacasse pela retaguarda. Estimou este período em 30 dias e colocou suas legiões a cavar, cortar, afundar, desviar rios e levantar paliçadas, torres e fortins com grande habilidade. Trabalho que os legionários de César fizeram uma vez mais, confiantes na tática do seu chefe e com uma disposição e eficácia assombrosa.

A idéia era simples mas ao mesmo tempo descomunal. Sitiar os sitiados e levantar um muro de proteção que, ao mesmo tempo, isolasse os dois contingentes galos quando o exército de reforço se apresentasse. Uma estrutura de dois anéis concêntricos, um voltado para o exterior e o outro voltado para Alesia, no interior dos quais as tropas romanas poderiam mover-se com desenvoltura. E mãos à obra…

Para isto, a primeira coisa que César fez foi cavar um fosso de 6m de largura circundando a meseta, evitando desta maneira possíveis ataques de surpresa do interior de Alesia. Depois, colocou à 120 m o começo das escavações, para que os soldados que as realizassem estivessem a salvo das armas de arremesso dos sitiados.

As obras que circundaram Alesia foram titânicas. Ao longo de um perímetro de 16 km foram escavados fossos de 3,5 m de largura e com igual profundidade. O mais próximo da muralha, que media 4 metros de altura, em forma de “U”, foi preenchido com a água desviada dos rios próximos. O mais interno tinha forma de “V”, com o que se evitava a possibilidade de colocar o pé no fundo. A terra extraída de ambos os fossos, serviu para levantar um aterro em continuação do fosso em “V”, coroado por uma paliçada na qual se agregaram ramos grossos com as pontas afiadas, a “maneira de chifres de cervo”. Aterro e fosso tinham, sem a paliçada, um desnível de 7,5 metros. A cada 25 metros foi erguida uma torre e ao longo de todo o perímetro se construíram um total de 23 fortins para guarnecer as tropas romanas.

Não satisfeito com isto, levou a obra mais além e para atrapalhar as investidas do inimigo, rodeou o fosso externo com cinco fileiras de fossas de 1,5 m de profundidade. No fundo destas fossas foram fincados galhos muito fortes, ramificados, com as pontas aguçadas. Diante delas acrescentou três fileiras de covas dispostas como num tabuleiro de xadrez, cheias de galhos, do tamanho de uma cocha (os “lírios”). E precedendo estas oito fileiras, foram enterrados pedaços de madeira eriçados de ganchos e pontas metálicas (a estas delicadezas chamaram “dificuldades”). Estas filas de defesas foram cobertas com vegetação e soterradas com o fim de ocultá-las dos olhos de Vercingetórix.

As tropas de César demoraram treze dias para “sitiar” Alesia com esta faraônica estrutura. Mas agora era necessário defender-se do ataque exterior. César ordenou repetir a estrutura, mas virada para fora. Fossos, aterros, paliçadas, torres e “lírios”, aos quais acrescentaram cinco acampamentos de cavalaria e três de infantaria, colocados estrategicamente para intervir com prontidão em qualquer ponto da fortificação. Este novo anel tinha um perímetro de 20 km.

Ambos anéis de defesas se levantaram em apenas 30 dias.

Justo a tempo quando chegou o exército de reforço. As hordas de galos, que se chocavam sucessivamente contra este duplo anel, lançavam efetivos amparados em seu número. Enquanto isto, César com sua capa escarlate ao vento, acudia a um e outro ponto dos aterros onde o combate era mais duro, para ser identificado pela sua vestimenta, por seus rapazes e assim infundir-lhes ânimo. A oportuna intervenção da cavalaria romana e a defesa hercúlea detrás das formidáveis fortificações de campanha, deram a vitória, uma vez mais, aos romanos. Era o ano 52. Vercingetórix entregou suas armas.

A campanha das Gálias ainda não havia terminado com esta vitória e César teve que sufocar um a um muitos pontos de rebelião, até a tomada final de Uxellodonum. Oito anos de guerras terminavam com a tomada deste centro galo. O balanço final foi a integração das riquíssimas Gálias à Roma, um milhão de galos mortos em combate, outro milhão ferido, um milhão de prisioneiros e outros tantos vendidos como escravos. Tudo isto, com menos de 50.000 legionários romanos.

César e Pompeu

O gênio militar de César ainda teria outras oportunidades de se destacar. A oposição do Senado, capitaneada por Pompeu, que deu as costas ao seu sócio e levou César a cruzar o Rubicão com suas legiões. Algo que sempre lamentou, porque o caráter legalista de César lhe impedia de fazê-lo. Ele sempre quis obter o que merecia, mas seguindo, como mencionamos antes, os passos que a tradição romana ditava.

Em Dyrrachium, César repete a estratégia de Alesia frente a Pompeu, melhorando-a com fortes externos e distintas linhas de defesa. A traição de alguns galos que militavam nas suas fileiras, fez com que Pompeu se informasse dos pontos fracos desta fortificação e César retirou-se depois de perder 500 homens.

O enfrentamento final com as tropas de Pompeu foi em Farsalia. César atraiu Pompeu a este lugar depois da derrota simulada em Dyrrachium, como fez com Vercingetórix depois de Gergovia. Em Farsalia, César contava com 23.500 legionários em oito legiões (cada legião estava com quase a metade dos seus efetivos), 7.000 infantes auxiliares hispanos e 1.000 experientes cavaleiros galos e germanos, que tanto resultado lhe deram nas Gálias. Pompeu dispunha de 11 legiões completas, com 50.000 homens, 4.200 infantes auxiliares, 5.000 efetivos de infantaria hispânica e a esmagadora cifra de 7.000 soldados de cavalaria sob o comando de Tito Labieno. Labieno fora o braço direito do próprio César na guerra das Gálias, como comandante de cavalaria, mas o confronto entre estes dois colossos romanos, César e Pompeu, o colocou no lado deste último.

A proporção era maior que dois para um. Na cavalaria aumentava para 7 por um. César, genial estrategista, previu a tática de Pompeu e baseou seu ataque justamente na cavalaria galo-germana, apoiada pela infantaria ligeira. Seus mil homens varreram os sete mil de Labieno, provocando a queda do flanco esquerdo do exército de Pompeu e a perda da batalha. Neste caso, foi a audácia no planejamento da estratégia e a eficiência como soldado o que deu a vitória a César.

Egito, África e a derrota na Hispania (concretamente em Munda, lugar ainda por descobrir) dos restos do exército de Pompeu, vestiram de glórias muitas vezes Caio Júlio César.

A personalidade deste ilustre romano é fruto de muitas controvérsias, mas seus feitos como estrategista estão fora de qualquer dúvida. De pensamento vivaz, com capacidades intelectuais sobre-humanas, poliglota, escritor, era também um político muito inteligente e um general extraordinariamente dotado para a arte da guerra. Nunca seguia os conselhos dos manuais de estratégia e tática, aproveitando a menor vantagem em seu favor. Reconhecia de maneira intuitiva os pontos fracos do inimigo e era capaz de adotar sobre a marcha, com espontaneidade e rapidez, mudanças em suas ordens que lhe faziam freqüentemente vencedor. Treinou os “seus rapazes” na sua forma de ser. Fez deles legionários duros, férreos e ao mesmo tempo flexíveis, dotados de iniciativa e conscientes de que quem os dirigia era um filho da Fortuna. Seus soldados foram para ele o bem mais valioso e nunca levou à perda injustificada um só dos seus homens. Os amava e fazia com que se sentissem amados.

Podia mover-se com uma velocidade assombrosa e nunca atacava como era de se esperar.

Todas estas virtudes fizeram dele o general romano mais impressionante de todos os tempos e sem dúvida um dos expoentes da estratégia militar mundial. Mas, ao longo deste artigo, procurei demonstrar que por detrás destas capacidades militares clássicas, também se escondia um engenheiro, um arquiteto, um mineiro e um marinheiro de primeira ordem. Um homem que utilizou todas estas artes para vencer um inimigo sempre superior em número, sempre em posições mais vantajosas.

César devia seu êxito tanto a sua formação militar, como a sua eficiência como versátil construtor. E demonstrou que as guerras se podem ganhar também com uma pá e uma picareta.

O Acampamento romano e as “mulas de Mário”.

Todos já vimos uma representação de um acampamento de legionários romanos. E é impossível abordar a relação entre o êxito militar romano e sua capacidade como engenheiros, sem dedicar algumas linhas a estes acampamentos. Digamos que os generais romanos articulavam grande parte da sua estratégia, em torno do uso dos seus acampamentos fortificados.

Existiam diferenças entre acampamentos permanentes, realizados com madeiras e pedras e o acampamento de campanha. Este último era erguido pelas legiões depois de 30 km de dura marcha (no caso das legiões de César, 50 km ou mais) e na manhã seguinte era desmontado para voltar a ser reconstruído a uma jornada de distância.

Os legionários romanos eram apelidados, com ironia, de “as mulas de Mario”. Pois, em uma das suas reformas, este general distribuiu os equipamentos entre cada soldado, para fazer o comboio de suprimentos menor, conseguindo com isto uma maior mobilidade das legiões.

Cada legionário marchava com a cabeça descoberta, armado de couraça, cinturão, espada e adaga. O pilum (dardo) era carregado na mão direita. Apoiado no ombro esquerdo, em uma vara, pendia o capacete e o escudo, em sua respectiva capa. Na esteira se incluía ração de cereal para cinco dias, legumes, toucinho, azeite, prato e taça de bronze, equipamento de asseio, muda de roupa, capa para chuva e roupa para o frio. Também uma manta, um cesto de vime para remover a terra, além de recordações e talismãs pessoais. Alguma ferramenta para cavar, duas estacas que logo formariam a paliçada do acampamento. Tudo isto amarrado solidamente na estrutura da esteira, formando um bloco sólido que não atrapalhava a marcha. Entre cada oito homens (o octeto), que iam ocupar uma tenda, se repartiam alguns equipamentos comuns: a levedura, o pedernal, o sal, uma lâmpada e seu azeite… cerca de 30 quilos para cada legionário. As “mulas de Mário”…

Além do mais, cada octeto dispunha de um animal de carga, geralmente uma mula (desta vez de verdade, um eqüino autêntico), que se encarregava de transportar um moinho de trigo, um forno de argila para o pão, os equipamentos de cozinha (panelas, colheres, etc.), o armamento de reposição, água e a tenda comum. A mula era cuidada por dois combatentes e as oito mulas de cada centúria avançavam trotando no final da formação.

Ao dar ordem de acampar, cada legionário sabia com precisão matemática qual era seu lugar e função. O acampamento se levantava em um tempo invejável para qualquer exército.

Enquanto metade da legião se ocupava formando uma guarda para evitar ataques (em muitas ocasiões se travaram combates enquanto os companheiros terminavam de montar o acampamento detrás das linhas), se cavava um fosso de 4m de largura por 3m de profundidade seguindo uma forma retangular. A terra era amontoada para formar um muro, coroado pelas estacas que cada legionários levava, atadas fortemente entre si, para formar uma sólida paliçada. As tendas eram de 4 lugares, já que sempre a metade do exército estava de guarda e eram montadas, levantavam a 30 m do muro, para evitar os projéteis que se lançavam desde o exterior. Um acampamento de inverno se levantava com pedras e cabanas de madeira, ocupando uma superfície de 1.500 m2. Para uma noite de campanha, era suficiente a terça parte desta superfície. Os acampamentos de cavalaria eram ligeiramente distintos mas, em todos os casos, cada um conhecia exatamente o seu lugar, após a repetição em inumeráveis exercícios. Até os animais sabiam de memória aonde ir.

Duas avenidas perpendiculares, no mínimo, atravessavam o acampamento que tinha “praças” e alargamentos para os afazeres da tropa. No cruzamento das principais avenidas se instalava o posto de comando.

Bibliografia

– Julio César: Comentário de la Guerra de lãs Gálias

– Editorial Debate, Ian Gibson: Protagonistas de la Civilización: César

– Otto Zierrer, Herbet Reinos: “Grandes acontecimientos de la Historia”

– Javier de Juna e Peñalosa, Santiago Fernández-Giménez: Historia de la Navegación

– Collen MacCullough:

– El Primer Hombre de Roma

– La Corona de Hierba

– Favoritos de la Fortuna

– Las mujeres de César

– César

– Editorial Plaza e Janés: Gran Larousse Universal. 37 tomos

– Editorial Planeta: Gran Enciclopedia Larrousse. 24 tomos.

– Carlos Frisas: Historias de la Historia

– Enciclopedia Digital Encarta

– www.historialago.com

– www.israel.org

Autor

Revista Esfinge