Palácio degli Uffizi, Florença

Esta grande tela, 199×162 cm, de 1620, é uma das grandes obras da pintora, filha de um pintor. Seu movimento resulta assombroso: o entrecruzamento de linhas estabelecido pelos braços dos três personagens nos desaparece no dramático caos da cena. Há um triângulo principal, as três cabeças, de expressões reveladoras: Judith não sente ódio, simplesmente está cumprindo um dever para com seu povo. Seu gesto é determinado, concentrado, o mesmo que teria para fazer qualquer trabalho que necessitasse força. A criada que a ajuda, igualmente, é tão só uma presença passiva, alheia a qualquer sentimento. O general Holofernes nos aparece como um personagem alheio a seu próprio drama: não existe dor em seu rosto, senão uma estranha aceitação de seu destino.

Há uma interessante linha reta central, da cabeça da criada à ponta da espada, que “tranqüiliza” o caos, e que o resolve nas linhas retas do leito, fechando a cena por baixo. Cena sem cenário, que não necessitamos porque nada deve nos distrair do feito narrado. O ato é violência em estado puro, transmitida pela diagonal dos braços de Judith contrapostos ao do general que se defende. Violência nas cores vermelhas do sangue, acentuados na colcha e nas mangas das mulheres, inclusive nos soberbos toques de luz nas feridas.

Magistral o tratamento das vestes, surgindo da negrura do fundo. Há quem sabe um toque de Caravaggio neste fechar de cena com corpulências horizontais, como em seu “Sono da Virgem”, fazendo-nos contemplar a cena desde baixo.

Em um mundo de homens, Artemisa toca um tema de força, e pinta com força. Como em outros de seus quadros que temos comentado, nos mostra que é uma mulher… que sabe lutar.

Guiomar

Autor

Revista Esfinge