Os Dióscuros eram Castor e Pólux, filhos da união de Zeus e Leda; os irmãos gêmeos são um símbolo astronômico e representam o Dia e a Noite

Juan Carlos del Río

Trata-se de uma das constelações mais significativas do zodíaco, devido ao brilho de suas duas principais estrelas. Sua origem se remonta à Mesopotâmia, aparecendo na literatura ocidental com Arato, ainda que este não nos tenha contado nada sobre a origem desta constelação: Debaixo de sua cabeça [de Virgem] estão os Gêmeos.(1)

Entretanto, Eratóstenes identificaria os gêmeos com Castor e Pólux, mito que se conservou até os dias de hoje: Dizem que são os Dióscuros, que nasceram e se criaram na região da Lacônia, superando todo o mundo em seu amor fraternal, pois jamais disputaram entre si pelo mando ou qualquer outro motivo. Zeus quis recompensar esse estupendo testemunho de fraternidade, denominando-os Gêmeos e os colocando no firmamento.(2)

Os Dióscuros (Dioskouroi, “filhos de Zeus”) eram Castor e Pólux, filhos da união de Zeus e Leda (filha de Testio, rei de Etolia), que foi transformada em cisne pelo deus. Leda pôs dois ovos, de um dos quais nasceram Pólux e Helena, filhos de Zeus, e portanto imortais, enquanto do outro, fruto da união com seu marido Tíndaro, nasceram Castor e Clitemnestra, mortais, ainda que outras versões assinalam ambos como filhos de Zeus. Os dois irmãos foram criados em Esparta, tendo Castor se destacado por manejar armas e domar de cavalos, enquanto que Pólux o fazia na luta. Participaram em numerosas aventuras, resgatando sua irmã Helena depois de ser raptada por Teseu e unindo-se a Jasão na expedição dos Argonautas, enfrentando o rei dos bébrices. Posteriormente, uma luta homicida contra dois de seus primos, ocasionada devido a uma disputa por suas prometidas, as Leucípides, filhas de seu tio Leucipo, e segundo outras versões, por uma disputa de gado, provocou a morte do mortal Castor. Pólux foi levado por Zeus ao Olimpo, mas se negou a permanecer ali enquanto seu irmão estivesse nos infernos. Assim, o pai de todos os deuses lhes ofereceu que se revezassem no Olimpo em dias alternados.

Para H.P. Blavatsky, Castor e Pólux têm um duplo simbolismo. Primeiramente, o astronômico:

Como as Tindaridas, os irmãos gêmeos são um símbolo astronômico e representam o Dia e a Noite; suas duas esposas, Febe e Hilaira, as filhas de Apolo ou do Sol, personificam o Crepúsculo da manhã e da tarde.(3)

Em segundo lugar, há um simbolismo cósmico ou teogônico: Tem relação com o grupo de

alegorias cósmicas em que se descreve como nascido de um ovo. Leda assume na alegoria a forma de um cisne branco, quando ela se une ao Cisne Divino [o Brahma-Kalahamsa]. Leda é, portanto, a Ave mística à qual se atribui, nas tradições de vários povos de raça ária, diversas formas ornitológicas de aves, que põem ovos de ouro. No Kalevala, o Poema Épico de Finlândia, a bonita filha do Éter, a “Mãe-Água”, cria o Mundo em conjunção com um “Pato” – outra forma do Cisne ou Ganso, Kalahamsa -, que põem seis ovos de ouro, e o sétimo, um “ovo de ferro”, em seu colo. Mas a variante da alegoria de Leda, que se refere diretamente ao homem místico, se encontra apenas em Píndaro, com uma referência mais rápida nos Hinos Homéricos. Castor e Pólux deixam de ser nela os Dióscuros de Apolodoro, e se convertem no símbolo altamente significativo do homem dual, o Mortal e o Imortal.(4)

Posteriormente, foram considerados protetores dos marinheiros devido a sua participação na expedição dos argonautas. Também se identificava com o fogo de San Telmo, que aparece nos mastros dos barcos, com os Gêmeos. Na Grécia, foram reverenciados especialmente em Esparta, porém alcançaram sua maior fama em Roma, onde foram considerados os protetores da Cidade Eterna e símbolos do amor fraternal, sem dúvida fazendo referência aos irmãos fundadores de Roma.

Esta constelação tem origem na Mesopotâmia, visto que nas tábuas Mul-Apin aparece como Mas-tab-ba-gal-gal, em sumério, “Os Grandes Gêmeos”. Esta denominação parece proceder sem dúvida do nome dado às grandes montanhas situadas no limite do mundo conhecido, segundo a cosmografia suméria, “As Grandes Montanhas” ou “Os Grandes Gêmeos”. Estes montes eram defendidos pelos legendários Homens-Escorpião, e formavam um longo desfiladeiro pelo qual o sol saía todos os dias de baixo da Terra desde um lugar situado mais ao Leste. Têm um papel destacado na Epopéia de Gilgamesh, já que o herói tem que atravessá-los em sua busca pela imortalidade, que o levará a visitar Utnapishtin, o Noé sumério.

Os gregos adaptaram esta constelação zodiacal da Mesopotâmia, pois como vimos nos Fenômenos, não tinham nenhum mito associado a esta. Posteriormente, identificariam esta constelação com os gêmeos mais famosos da mitologia grega, ainda que esta não seja a única identificação, já que Ptolomeu via Apolo nesta constelação.

No Egito esta constelação era representada por dois vegetais e na cultura fenícia era associada a um par de cabras. Para os romanos, estes gêmeos se associavam aos legendários fundadores, Rômulo e Remo. Para os egípcios, Gêmeos representava Horus e Harpócrates, o deus falcão filho da deusa Isis, enquanto que para os hebreus representava uma misteriosa porta dupla. Simbolicamente representa a pura força criadora de Áries e Touro, que se cinde em um dualismo. Segundo E. Cirlot (5) simboliza o intelecto objetivado e refletido, sendo a natureza criadora e a natureza criada.

A constelação de Gêmeos

Para os romanos, estes gêmeos se associavam aos seus legendários fundadores, Rômulo e Remo. Para os egípcios, representavam Horus e Harpócrates, enquanto que para os hebreus representavam uma misteriosa porta dupla.

Notas:

1- Fenômenos 146.

2- Catasterismo 10.

estância V. Pág. 136.

estância V. Pág. 137.

Autor

Revista Esfinge