Também se concluiu que todas as ilhas compartilhavam um tronco cultural comum e que com o passar do tempo este chegou a adquirir em cada uma delas uma nuance diferente.
Para compreender o estudo da antiga língua nativa numa terra como Canárias, cercada por mitos e lendas, deveríamos começar prestando atenção em algumas idéias básicas que nos permitem entender porque contém tantas incógnitas.
As Ilhas estão envoltas num mar de hipóteses, que vão desde as geológicas, relacionadas com a mítica Atlântida, ou explicações menos platônicas como a que nos narra sua origem e que pertencia aos “montes adjacentes da África”, segundo nos relatava o historiador e escritor canário José de Viera e Clavijo (séc. XVIII), até as etnográficas que tentam aparentá-las com o povo berbere do Norte de Marrocos.
Também não devemos esquecer a pouca importância que se deu a cultura nativa no período da Conquista das Ilhas durante os primeiros séculos (séc. XV – XVI), para entender o porquê da limitada informação que chegou até nós, da antiga língua nativa. Portanto, se tentarmos buscar a origem da língua nativa canária, nos deparamos com o inconveniente da variedade de hipóteses que existem atualmente sobre o tema. Citando o prolífico escritor canário Francisco Osório Azevedo, em seu Gran Diccionario Guanche: “Sobre os parentescos e uniformização da língua guanche, tanto se escreveu que é realmente espantoso. Tudo o que se passou ou se ouviu falar de nossas amadas ilhas, nós temos encontrado parecido, particularmente consigo mesmo ou com seus próprios interesses. É estranho que um basco diga que “quase” somos bascos, um celta que “quase” somos celtas, um sueco e um norueguês que são a última tribo nórdica, um cônsul norte-africano que os berbere são mais puros?puros? ””.
Sendo assim, a última hipótese citada (origem berbere) é a mais aceita atualmente, após o descobrimento de um grande número de semelhanças entre as duas línguas, além de alguns restos arqueológicos. Também nos encontramos como que embaralhados em outras línguas como a libíca, semítica e canuítica, aparentadas com a língua hebraica, egípcia, etc.
No entanto, poder-se-ia pensar que sob esta observação de unir sobre um mesmo tronco as duas línguas que mantêm certa percentagem de semelhança entre si, poderia nos levar a seguinte conclusão: se “ene” em língua nativa canária significa cão, “inu” tem significado idêntico em japonês e “anu” em aimará, a antiga língua canária também poderia proceder de qualquer uma destas.
Também apareceram outras vias de investigação não menos valiosas, como a que relaciona os canários com uma cultura hoje esquecida que habitou toda a cornija do Oeste Atlântico.
Esta cultura é chamada “pré-indoeuropéia”; e um bom exemplo desta são os grandes monumentos megalíticos existentes nas Ilhas Britânicas e na França, bem anteriores a dos Celtas, a quem em muitas ocasiões, erroneamente, se crê que foram os construtores dos mesmos.
Isto nos induz a pensar que talvez o povo canário erafosse muito antigo, inclusive muito mais do que comumente se crê. Assim, como se seus habitantes tivessem perdido toda memória de sua origem, tampouco tinham noção do que era um barco ou algo similar.
Como então chegaram vindos das costas africanas?
Assim mesmo, concluiu-se que todas as ilhas compartilhavam um tronco cultural comum e que com o passar do tempo este chegou a adquirir em cada uma delas uma nuance diferente.
O que ainda não ficou claro é qual é essa origem cultural, e não se descarta a teoria de que esta possa ser compartilhada com outras culturas anteriores ao ano zero de nossa era, pois foram encontrados restos arqueológicos, na Ilha de Grande Canária, com data do séc. V a.C., época em que os fenícios e posteriormente os gregos conheceram através dos antigos habitantes do arquipélago.
Até certo tempo não se reconhece oficialmente que conheciam a escrita, embora tímidos restos desta ficaramficassem registrados pela arqueologia e a epigrafia espalhados pelo arquipélago, repousando como mudos testemunhos de um passado misterioso que vale a pena desvendar.
Após a conquista das ilhas, foi proibido proibiu-se-se o uso da língua nativa, até que aos poucos foi se extinguindo, sobrevivendo alguns termos. Contudo, grande percentagem dos topônimos usados atualmente provêm da antiga língua nativa, tais como os nomes das ilhas de Tenerife e Gomera. Também mantêm nomes próprios dos nativos em todas as Ilhas, como: Ankor, Bentejuí, Ayose, Guasimara, Ateneri, Doramas, Abenamara, Tanausú, Yurena, etc.,.. muitos deles relacionados com míticos reis, sacerdotes ou guerreiros. Estes nomes ainda são utilizados por gerações de canários.
Jorge Marqués