No dia 8 de setembro faleceu Yang Huanyi, a última pessoa da China que falava Nushu. Na realidade a última mulher, pois o Nushu foi um idioma desenvolvido e utilizado exclusivamente por mulheres.

Yang Huanyi nasceu em Jiang Yong. Aprendeu o Nushu quando era criança junto com suas irmãs. Era viúva de um granjeiro e a última pessoa viva que sabia se comunicar no misterioso código secreto chamado Nushu. Com o seu falecimento não apenas se perdeu uma vida se não que todo um idioma.

O Nushu foi um idioma totalmente desconhecido até que foi descoberto por uma professora de línguas em 1982. As mulheres chinesas da época, especialmente nas zonas rurais, estavam excluídas dos espaços sociais e de toda a possibilidade de aprender a ler e a escrever. Aquelas campesinas analfabetas tiveram habilidade suficiente para inventar um idioma próprio. Transmitida de mães para filhas, a língua Nushu é um sistema de comunicação único. Nushu em chinês quer dizer escrita de mulheres. Mais do que um idioma, as mulheres criaram uma literatura e folclore próprios: cantavam, falavam e escreviam nesse idioma.

As inscrições nessa língua sutil e poética se podem ver em diários, onde se encontraram reflexões íntimas e conselhos de avó para mãe e destas às suas filhas, criando assim redes de amizade e afetividade, num mundo duro e difícil, onde as mulheres estavam marginalizadas.

Além dos conselhos e reflexões, também se contam os momentos importantes da história, como guerras, más colheitas, etc. Então os escritos possuem, por um lado, a riqueza do idioma em si mesmo, e por outro ajudam a entender o mundo de uma perspectiva feminina, convertendo-se na outra história, contada com outra sensibilidade e com outros pontos de vista.

Pondere-se que Yang Huanyi tratou de continuar com a tradição de ensinar o nushu de mãe para filha, mas suas filhas e netas não chegaram a aprender, rompendo-se assim uma longa tradição.

A aquisição de objetos com escritas em Nushu é difícil, porque segundo a tradição os pertences das mulheres devem ser queimados junto a seus corpos após sua morte.

Felizmente, o governo chinês criou em 2002 um museu em Jiang Yong, no lugar onde nasceu Yang, e onde se conservam pelo menos 300 objetos com escritas em Nushu.

A senhora falecida foi convidada à Conferência das Nações Unidas sobre a Mulher em 1995, que se celebrou em Beijing, e entregou todos os seus escritos à Universidade de Qinghua; pretende-se recompilá-los num livro que se publicará em breve.

Autor

Revista Esfinge