Aproximadamente 20 milhões de sul-americanos que falam quíchua já têm a oportunidade de ler na sua própria língua as aventuras do engenhoso fidalgo Dom Quixote de la Mancha, a obra mais conhecida de Miguel de Cervantes – que agora foi traduzida ao quíchua – um idioma indígena que, somente no Peru, conta com cinco milhões de falantes.

O tradutor da obra, Demetrio Túpac Yupanqui, é descendente direto dos incas, assim como um dos maiores conhecedores do quíchua. Por isso, o jornalista e criador da rota Quetzal, Miguel de la Cuadra Salcedo, dirigiu-se a ele, ao considerar que a obra mais internacional da literatura espanhola deveria estar traduzida ao quíchua e superar assim as mais de 70 línguas nas quais Dom Quixote está transcrito.

Em declarações à Televisão Europa Press, Demetrio comentou, portanto, que “a genialidade” de traduzir o Quixote foi de Miguel De la Cuadra, que acreditou que a iniciativa devia ser posta em andamento porque constituía “uma obrigação moral de defesa deste idioma e do povo quíchua”.

Neste sentido, Demetrio destacou o grande trabalho do propulsor do projeto na tarefa de divulgar o conhecimento do quíchua, já que, segundo afirmou, “estudou-se sua fonética, mas o que faltava era que as autoridades da educação difundissem como se devia escrever”.

“Não temos pessoal preparado para isso. Escreve-se como se fala e isso é horrível. São escritos disparates”, acrescentou.

Desse modo, relatou que a tradução levou mais de sete meses de intenso trabalho dele e da sua equipe, cuja fase de documentação foi muito importante.

“Demorou mais de sete meses. Em alguns dias a tradução era bastante fácil e em outros dias não traduzíamos mais do que uma ou duas linhas, mas isso era suficiente para que ficássemos contentes. Não havia pressa, mas sim interesse em fazer bem as coisas”, explicou.

Na hora de levar a cabo a tradução literal da obra, Demetrio afirmou não ter tido problemas com isso, uma vez que, tal e como assinalou, o quíchua conta com uma “grande riqueza de sinônimos” que lhe permitiram realizar o trabalho sem dificuldade.

Finalmente, Demetrio destacou que, por exemplo, Dom Quixote de la Mancha permanece intacto, sem modificação alguma, já que se isso não ocorresse “não seria Quixote”. “A alegria está na esperança de que o quíchua esteja inserido nas melhores bibliotecas do mundo e entre os livros em 70 idiomas”, concluiu.

Autor

Revista Esfinge