Quando lançamos um olhar sobre a forma de vida adotada nas grandes cidades, nos grandes centros urbanos, identificamos uma dificuldade no estabelecimento de laços sociais fortes e duradouros, mas, para que uma sociedade se desenvolva, evolua e se perpetue, é necessário que ela se erga sobre alicerces firmes e resistentes. Quando cada grupo social, cada família, cada pessoa passa a dar mais ênfase aos comportamentos competitivos, conflitantes e desarmônicos, pode-se afirmar que existe uma tendência à formação de abismos, entre as pessoas que compõem esse grupo social, ao invés de pontes, pois cada uma passa a velar por seus próprios interesses, suas próprias conveniências, e não pelo bem comum. Assim como numa grande cidade é necessária a construção de caminhos e pontes que aproximem e beneficiem a sociedade, também é necessária a construção de trilhas que aproximem as pessoas e pontes que superem os abismos emocionais gerados por uma excessiva necessidade de competir, de criticar e de desconfiar. Para o ser humano, construir pontes é o mesmo que resgatar e viver o verdadeiro valor da Amizade, visto que ela é uma das mais belas expressões do Amor. O Amor é tudo o que une, como dizia o filósofo Platão, e cabe aos seres humanos colocar tudo aquilo que une sobre o que divide, enfraquece e separa. Um sábio chinês chamado Confúcio ensina que a verdadeira Amizade não exige que todos sejamos iguais, e sim complementares e harmônicos. Todos nós podemos observar a harmonia presente na natureza e como ela se expressa por meio de seres diferentes e complementares. Assim, ainda que se trate de um jardim composto só de rosas, não é difícil observar as características próprias de cada uma delas, suas diferenças, suas cores, seus perfumes, mas, sobretudo, como compõem, juntas, um belo roseiral. Entre os seres humanos a diferença de cor, de raça, de credo, de condição social tem sido motivo de conflitos, guerras, preconceitos e separações. Mas os grandes filósofos ensinam que não é difícil observar que essas diferenças poderiam ser a causa e a fonte de nossa força e de nossa beleza, ao invés de ser o motivo de nossas desavenças e de nossos atritos. Foi preciso mais de uma cor para que Da Vinci pintasse a Monalisa, mais de um instrumento para que Beethoven compusesse as magníficas sinfonias. Há um profundo laço de amizade entre os diferentes instrumentos de uma orquestra. Ouvir uma sinfonia é como presenciar um belo diálogo entre bons amigos.

Um filósofo chamado Epicteto ensina que a verdadeira Amizade está presente entre aqueles que praticam as virtudes, quais sejam: a honradez, a retidão de caráter, a justiça, a bondade, a generosidade, a confiança, a lealdade, pois são essas virtudes que nos convertem em bons cidadãos, bons filhos, bons pais, bons educadores e sobretudo bons Amigos.

É muito importante saber que, em qualquer tempo e em qualquer reino da natureza, todo ser só pode oferecer aquilo que tem, de modo que aquele que quer oferecer o ódio, a ira, o egoísmo, vai ter que, antes, abrigá-los em seu coração, possuí-los e assim será o primeiro a sofrer seus terríveis efeitos. Somos os primeiros a beber do cálice onde vertemos o veneno que destinamos a outrem. Felizes são os homens sábios que levam em seus corações, não o veneno das baixas paixões, mas o bálsamo dos grandes sentimentos. Igualmente felizes são aqueles que tomam esses grandes homens como exemplos de vida, como verdadeiros Mestres e Educadores, sim, são felizes os eternos aprendizes que trilham a senda das virtudes, que buscam no cotidiano aprender a serem verdadeiros construtores de uma divina ponte chamada Amizade.

Gerson Rodrigues de Miranda

Autor

Revista Esfinge